segunda-feira, 30 de junho de 2014

Carrasquinhas ou Tengarrinhas



Nome cientifico : Scolymus hispanicus
Nome comum : Cardo
Nome regional : Cardo, carrasquinha, tengarrinha
Familia : ASTERACEAE
Fotos gentilmente cedidas pelo compadre Ivo Rodrigues e retiradas do seu blog:
http://serra-da-adica.blogspot.pt/

domingo, 29 de junho de 2014

O Pão da Terra...

Quando o pão começava a escassear na arca de madeira, era chegada a hora de ir com a avó a casa da senhora da aldeia que era a encarregada de “dar as vezes”. “A Gisela, a Rosinha e a Bia fazem uma vez, a Tonica e a Silvina, outra vez… A comadre, só pode ter vez se cozer com a Bia”. Apesar de toda aquela conversa me parecer em código, a avó vinha de lá com a marcação do dia e da hora da próxima cozedura no forno comunitário da aldeia.
Na noite anterior ao dia combinado ia buscar a lêveda, o pedacinho de massa da última amassadura, religiosamente guardado no armário dentro de uma tigela branca enfeitada de raminhos azuis. Misturava-a com um pouco de água e estava preparado o fermento para o futuro pão.
Quando eu abria os olhos para saudar o novo dia já a minha avó estava sentada na cozinha, de avental branco, a peneirar. A água aquecia na panela de ferro poisada ao lado das brasas que nunca morriam na lareira… A farinha esvoaçava e caía no alguidar em gestos redondos e leves… A água passava da panela ao pucarinho de esmalte azul e derramava-se suavemente na farinha… As mãos da avó dançavam ao som de uma música que só ela ouvia… A massa branca fazia bolhinhas que eu sonhava poder rebentar com os dedos…
No final tirava um bocadinho da massa e colava-o na parede do alguidar. “Tem que crescer até aqui” – explicava-me a avó. Tapava o alguidar com um pano, fazia com a mão o sinal da cruz e murmurava: “Cresça o pão na massa como Nossa Senhora na graça”. Eu verificava que realmente a massa crescia sempre até ao sinal marcado no alguidar e, por isso, concluía que a Nossa Senhora da minha avó era grande conhecedora dos mistérios da massa de pão!
Tendidos os pães, eram aconchegados em camas de lençol branco nos tabuleiros grandes de madeira e aí ficavam para fintar. As labaredas da lenha de esteva e aloendro já lambiam a boca negra do forno. Depois perdiam o vermelho, desistiam de ser chama para dar o lugar ao pão. Varria-se o chão de ladrilho e a avó fazia um sinal nos seus pães para os reconhecer depois de cozidos. Era eu que escolhia o sinal que podia ser um furinho feito com um pauzinho de esteva descascado, uma cruz ou uma beliscadela.
Com a pá de carregar o pão, e depois de fechada a porta do forno, a avó voltava a fazer o sinal da cruz: “Nosso Senhor te acrescente para dar para muita gente”. Depois esperávamos. As mulheres conversavam. Conversas com cheiro doce de pão, com aroma bravio de esteva ou com sabor amargo de aloendro.
E quando a porta do forno se abria, no meio dos pães grandes havia sempre um pequenino – um merendeiro, como lhe chamava a avó. Ela tirava-o do forno, dava-lhe uma palmadinha como se ele fosse um recém-nascido e dava-mo. Era o meu pão. Eu abria-o, pingava-o de azeite, polvilhava-o de açúcar e ficava ali sentada, mastigando devagar para que aquele sabor, mesmo sem prece divina, ficasse para sempre agarrado à minha boca.

Texto gentilmente cedido pela nossa comadre Natércia Duarte, https://www.facebook.com/pages/Fotos-com-hist%C3%B3rias-dentro/587395751332397

sábado, 28 de junho de 2014

Vila Romana de S. Catarina de Sítimos.


Uma importante Villa romana, com um grande edifício ocupado durante cinco séculos, entre I aC e V ou VI dC.
No ano de 1977 aquando de trabalhos numa estrada publica foi posto a descoberto este importante achado arqueologico embora so em 1986 foram iniciados os trabalhos com vista a serem defenidas as areas que iriam ser intervencionadas. Os trabalhos arqueológicos estiveram parados vários anos e só recomeçaram em 2006.
Nesta Villa, um dos patrimónios arqueológicos mais ricos do concelho de Alcácer do Sal, foi identificado um Natatio(Piscina) assim como a escadaria de acesso ao interior. Possivelmente faria parte de um sistema hidráulico no qual estaria englobada uma estrutura termal assim como um espaço de culto dedicado à deusa Vénus.




As escavações permitiram descobrir também vestígios de um santuário pagão, provavelmente dedicado a Vénus, a deusa romana do amor e da beleza.
No interior da Villa, segundo António Carvalho, “foram detectadas meia dúzia de bases feitas em cimento romano, que tinham a marca de conterem uns recipientes para queimar as oferendas”, o que levou à conclusão de que se trataria de um santuário pagão.
No local dedicado aos rituais foram observadas bases feitas em cimento romano para queimar as oferendas, ossos de pomba, conchas e uma lucerna, peça cerâmica que servia para iluminação. Este tipo de achado é considerado raro e será mesmo o único, até hoje, em ambiente rural existente no Litoral Alentejano.
Os elementos disponíveis permitem apontar para meados do final do século I a.C. o início da ocupação do espaço. No Alto Império Romano esta Villa foi estrutura económica importante espaço rural, estando ligada a Salácia (Alcacer do Sal) através do seu porto fluvial e dando apoio à via romana que se dirigia para Beja, passando pelo Torrão.
A presença humana manteve-se em Santa Catarina, durante o periodo Visigótico assim como no periodo islâmico, nos séculos IX/X. A Ordem de Santiago deu inico ao processo de emparcelamento do espaço rural logo após a conquista definitiva de Alcácer em 1217.A aldeia de santa Catarina surge na documentação do século XIII (1249) com o nome de Setimus, palavra latina que significa “sete”; é este topónimo que séculos mais tarde evolui para “Sítimos”, como é conhecido actualmente, associando-se séculos mais tarde a Santa Catarina, orago da aldeia, conforme testemunhado documentalmente desde o século XVI.



Fonte : www.portugalromano.com

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Rota dos Pastores - 14/6/14












No passado dia 14 de Junho, o Projecto Alcáçovas Outdoor Trails realizou mais uma caminhada e desta vez andámos por trilhos novos. Com um dia bem quentinho, iniciámos a nossa caminhada em S. Brás do Regedouro, junto à sua igreja e durante os cerca de 16 km, visitámos montes, uns abandonados, outros ainda habitados, que sem dúvida alguma representam um património rural identitário do nosso Alentejo. Passámos por duas ribeiras, a de S. Brissos e a de Alcáçovas e em ambas pudemos molhar os pés, a cara e houve mesmo quem tomasse banho. Visitámos a ponte romana do séc. III dos Ruivos e a Anta que se encontra mesmo junto ao Monte da Casa Branca. Além do convívio e companheirismo entre os participantes, todos ficaram com vontade de voltar. Um agradecimento à Junta de Freguesia de Alcáçovas pela ajuda na logística. Ao Ernesto Marujo por ter oferecido os bolinhos para o briefing inícial e que sem dúvida é uma excelente forma de promover os produtos locais. E também à Câmara Municipal de Viana do Alentejo. Até breve.  

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Chocalhos...

 
 
O senhor Penetra mantém a forja e um pequeno museu de iniciativa e teimosia pessoal.
Descendente de várias gerações de homens que faziam chocalhos, guizos e cascavéis, gente que trabalhava desde antes da madrugada e com calores só suportáveis por quem desde pequenino cumpria o árduo trabalho de assinalar o gado dos outros. Havia chocalhos para vacas, outros para ovelhas, chocalhos para o gado que pastava nas herdades sem cercas, chocalhos para o gado que se deslocava para outras pastagens mais frescas.
Alcáçovas era local de passagem para os longos caminhos da transumância, desses pastores que se deslocavam incessantemente das montanhas para as planícies, acompanhados por esses cães a que só lhes faltava falar, habituados a ordens, com vozes, assobios e apitos, que só uma cultura inteligente e secular pode produzir. Os últimos homens da transumância eram conhecidos por gente de "mal andar", porque o seu gado ia comendo por onde passava, mudando constantemente de lugar, mal sabendo os novos donos das propriedades, que antes de haver esta propriedade privada exclusiva, já existiam pastores com direitos de passagem desde há milénios.
O chocalho não é apenas um objecto construído com suor; é também um símbolo de gente que desconhecia ou derrubava fronteiras.
 
Texto copiado do blog do nosso comadre João Simas, http://ruadealconxel.blogspot.pt/




quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mostra de Artesanato

 
 
 









Entre os dias 13 e 22 de Junho, por ocasião da XVIIª Semana Cultural de Alcáçovas, esteve patente no Jardim Publico desta vila uma exposição de artesanato local. Esta iniciativa anual tem vindo a atrair cada vez mais visitantes nacionais e estrangeiros e serve de "catálogo" de acesso a todos os pequenos negócios artesanais, de modo a incentivar a economia local. Esta é a forma correta de devolver o orgulho ás nossas gentes e fazê-las acreditar no enorme potencial que esta vila tem para desenvolver e prosperar.    

terça-feira, 24 de junho de 2014

Rota dos Peregrinos (Alcáçovas - 21JUN14)










Integrada no programa da XVIIª Semana Cultural de Alcáçovas, esta caminhada foi efetuada no antigo caminho dos peregrinos, de Alcáçovas ao Convento de Nª Sra da Esperança. Visitámos ainda locais como a Capela do Senhor da Pedra, a Calçadinha Romana e a Ribeira de Alcáçovas.
Com 17 participantes e organizada pelo Projeto Alcáçovas Outdoor Trails da Associação dos Amigos das Alcáçovas, esta caminhada proporcionou a todos um agradável dia de convívio em contacto com  o imenso Património Natural que nos rodeia.
Agradecemos á Casa Maria Vitória, Confeitaria Real Alentejana, que presenteou os nossos participantes com os seus afamados bolinhos secos.
Fotos gentilmente cedidas pela comadre Sofia Marques e pelo compadre António Serrano.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Rita da Terra

A Rita da Terra era uma cara bonita de se ver. Quando se ria- e ria-se muito a Rita- escancarava a boca toda, muito, muito. Rosto largo e claro, a brilhar do vermelho das queimaduras solares ou do reflexo das papoilas no olhar, fazia-se ainda mais linda quando se ria. Os gestos cuidados, os passos delicados da menina mulher não abriam pistas que levassem a descobrir aquela gargalhada que soava para lá deste, daquele, de todos os montes em volta da Terra, sempre que surgia de repente, ribombante como uma trovoada seca de Verão. A Terra enchia-se de Rita quando a Rita ria. 

  Aos doze, varejava azeitonas, que a escola foi feita para os doutores e para entreter as meninas de famílias fartas, em lições de uma economia doméstica que nunca viriam a conhecer. Aos quatorze meteu os pés numas botas de couro escuro e estas ao caminho e viu-se arrastada pelas enchentes dos da Terra que corriam atrás do trabalho, para aonde quer que ele fugisse. No caminho para lá e para cá, ao som dos tacões no solo rijo, da chuva nas lonas que tapavam as carroças quando as labutas eram de longe, cantava alto e rematava  os estribilhos com aquele rir honesto e grande, tirado ao peito, arrancado do ventre. Aos dezasseis era uma mulher, caiava as paredes que de tão alvas já se confundiam com o brilho cegante dos dias de calma. Antes de raiar o astro na linha tremeluzente do horizonte, já cheirava a sabão na soleira da porta da casa da Rita. Tudo resplandecia: a luz e o reflexo do mundo em cada gota de água e a vida pela frente na fileira de dentes certinhos, brancos como tudo na Terra, repousando no rosto da Rita.
  Era ela quem as movia a todas: à Maria Ana, à Antónia, à Josefa, à Conceição, fazia-as sair da cama de um pulo, para encher os bancos de uma missa a que ninguém queria assistir, só para se poderem trocar olhares, murmurar recados por debaixo das mantilhas- num segundo fugaz- com os rapazes que de um domingo para outro, se fizeram homens, capazes de tomarem uma mulher nos braços e fazê-la sua. A Rita punha-se distraída, não eram para ela esses preparos. Tinha sete irmãos todos pequenos, para seus filhos pouco faltava. Desatinava o grupo, provocando a risota, as bochechas a corar e uma ou outra mais casta ou de mãe mais irascível a afastar-se, lesta, pela calçada da igreja afora. A Rita era uma canção antiga que depois de tantos anos, tantas lágrimas, os muitos filhos não paridos mas criados, fruto dos seus vaticínios de juventude, ainda dizia os mesmos versos, ainda "cantava alegremente a Primavera" tal qual os rouxinóis e os pardais.
  A sua mão amorosa- mais que condescendente- passou por cima de muitas cabeças travessas e atravessadas. Ela sabia do que falava quando dizia que todo o mundo é uma aldeia e que não há nada para saber para além dos limites dela, que a vida toda se vê no pôr do sol sobre as searas ou no cantar dos ralos à noite. A Rita que ria nas cartadas aos serões ou à chegada das cegonhas, de asas largas, pousando na boca da chaminé, foi-se aguentando com a cara bonita, sulcada de pequenas estradas pelos anos. E quando as pernas decidiram não mais percorrer os trilhos da Terra, de peito aberto e sorriso profundo, procurou a sombra da mesma soleira de décadas, à porta da casa branca de seus pais, para encostar o banco de palhinhas. Sentava-se aí, de olhos semicerrados a ouvir os gaiatos a brincar ao avião, às pedrinhas, à apanhada, a tudo e a nada. 
  Embalava nos braços os meninos de todas as mães que já não os podiam calar, num ondear eterno e generoso de quem nunca gerando de si, por isso se desdobrava em muitos, em todos. E quando o dia acabava, o céu roxo a pôr auréola de tranquilidade numa hora em que tudo encaixou e a Terra girou no movimento esperado, a Rita abria a boca e soltava a sua gargalhada de fêmea satisfeita, de mulher completa e recolhia-se ao lar. 
  Não se sabe bem se chegou a fazer um esgar ou se se contorceu o rosto, ou se pelo contrário, se manteve impávida na hora do abandono. Encontrou-a uma sobrinha: a cabeça pendendo para a esquerda, um fiozinho de lágrimas quase imperceptível correndo-lhe dos olhos e a boca vazia de dentes, desenhando a linha enorme do sorriso (ou teria sido do riso?) franco, de nascente a poente. No entanto, o que contam na Terra, homens e mulheres feitos, é que a gargalhada da Rita se ouviu nessa hora pela última vez com uma força que não se lhe conhecia. Rasgando o céu azul, atravessando-se pelo meio do bando de pássaros migratórios e por cima do telhado raso das casas, foi pousar numa azinheira, na orla de uma charneca lá longe, onde o eco acaba. Onde descansam os que não tendo mais jornas que vencer, se permitem descansar numa qualquer dobra do vento, num qualquer sopro de vida na Terra.
 
Copiado do Blog da nossa comadre Ana Terra: http://aterradaana.blogspot.pt/

domingo, 22 de junho de 2014

Terena










Terena, também conhecida por São Pedro ou São Pedro de Terena, é uma bonita vila Alentejana, pertencente ao concelho do Alandroal, situada numa bonita região onde reina a paz de espírito, próxima da Ribeira e da Albufeira da Barragem de Lucifécit, e próxima da fronteira com Espanha.

As origens desta vila são bem remotas, existindo pela região diversos vestígios megalíticos de tempos pré-históricos, como as xistosas Antas do Lucas.
Na Idade Média esta vila sofreu um importante papel defensivo, como o prova o seu Castelo, que integrava a linha de defesa do Guadiana.
Pensa-se que a fundação de Terena datará de 1262, tendo sido anteriormente ocupada por outros povos, como os Mouros que aqui deixaram a sua marca.

As calmas ruas de Terena são caracterizadas pela bonita arquitectura Alentejana de casario rural alvo, de faixas coloridas, e orgulhoso Património, como é visível no antigo Castelo da vila, no Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, na Igreja Matriz de São Pedro de fundação anterior ao século XIV, na bonita Igreja da Misericórdia (século XVI), na Capela de Santo António (erguida em 1657), nas Ermidas de São Sebastião, de Nossa Senhora da Conceição da Fonte Santa ou mesmo nas ruínas da Ermida de Santa Clara.
Em Terena, é de destacar igualmente o Pelourinho do século XVI, a Torre do Relógio, as ruínas romanas do povoado fortificado de Endovélico e respectivo santuário, e também as ruínas do Castro de Castelo Velho.

Em Terena festeja-se anualmente Domingo e Segunda-Feira de Pascoela as Festas de Nossa Senhora da Boa Nova, com uma afamada e muito frequentada Romaria.
Todos os primeiros domingos do mês realiza-se também uma feira de Velharias no Jardim da vila.


A Lenda da Boa Nova de Terena
A origem da invocação Senhora da Boa Nova parece estar ligada à lenda da Fermosíssima Maria (Dona Maria, Rainha de Castela), filha do Rei D. Afonso IV de Portugal.
Diz a lenda que esta veio à corte solicitar a seu pai que auxiliasse o marido na Batalha do Salado.
Quando recebeu a “Boa Nova” de que o pai auxiliaria o seu marido, rei de Espanha, estaria Dona Maria nas imediações de Terena.

                                  Fotos gentilmente cedidas pelo compadre Luis Lobato de Faria.