A opção inicial por bibliotecas itinerantes Gulbenkian foi motivada sobretudo pelo facto de grande parte das populações não terem tido antes contacto com este tipo de serviço, tornando-se essencial que a biblioteca se deslocasse até elas.
O cerne deste serviço era o leitor e as suas efectivas necessidades, desde a falta de tempos livres à escassez de meios de deslocação.
Por outro lado, devido ao valor material do livro, este era acessível, na época, apenas às classes mais favorecidas.
Com os veículos móveis era possível chegar ao Portugal das aldeias e dos pequenos lugarejos de habitações dispersas.
Este serviço era em muitos casos o único contacto com os livros que se possibilitava a um elevado número de populações.
Não disponibilizava apenas leitura lúdica (embora esta fosse a mais saliente) mas também leitura informativa e formativa, abarcando o maior número de temáticas possíveis e incluindo manuais de estudo oficiais. A escolha do fundo documental obedecia a critérios definidos por uma comissão e era publicado num catálogo actualizado regulamente.
No acervo das obras disponíveis iam-se incluindo mesmo, embora lentamente e de forma reservada, algumas obras não muito do agrado dos dirigentes políticos do Estado Novo
Citroën HY, Carrinha idêntica às usadas pelo S.B.I. da Gulbenkian
A princípio, em 1958, foram colocadas em circulação 15 bibliotecas itinerantes (sobretudo na região de Lisboa e litoral), mas o seu crescimento inicial foi deveras acentuado, sendo que em 1961 já circulavam pelo país (estendendo-se ao interior) 47 veículos da marca Citroën. O pessoal que assegurava o funcionamento destas unidades móveis, era constituído por dois elementos: o auxiliar e o encarregado, este último responsável pela biblioteca, a quem competia orientar o leitor nas suas escolhas de leitura. O encarregado não necessitava de qualquer curso específico, nem sequer de ser diplomado, apenas precisando de ser alfabetizado, evidenciar alguma cultura geral, gosto pelo livro e predisposição para o contacto com o público. Entre eles incluíram-se grande número de intelectuais reconhecidos como Alexandre O’Neill ou Herberto Hélder
A Fundação Calouste Gulbenkian estabeleceu parcerias com as autarquias, através das quais estas últimas cediam instalações para depósito dos livros e pontualmente contribuíam no pagamento de despesas, ao passo que a Fundação arcava com o grande ónus das expensas (fornecer o acervo de obras, o biblio-carro, pagar os honorário do pessoal, o combustível, despesas de manutenção e conservação, etc). A Gulbenkian substituía-se assim ao Estado ao criar uma rede de bibliotecas, até porque o Estado não estava muito interessado na formação de cidadãos plenamente esclarecidos e informados.
A partir do início da década de 70 o projecto Serviço de Bibliotecas Itinerantes vê a sua sustentação fragilizada no seio da Gulbenkian, pois esta pretendia que as despesas (bastante elevadas e com um 'retorno' algo dúbio) fossem repartidas com o poder central e local. A 20 de Fevereiro de 1974 chegou mesmo a haver uma reunião onde se discutiu a extinção do serviço. Contudo, com a eclosão do 25 de Abril, a situação mudou radicalmente e o serviço manteve-se, sofrendo algumas reestruturações.
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