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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Cante

A origem do Cante Alentejano mora algures numa zona-sombra da História. 
Ninguém, verdadeiramente, lhe descobriu ainda a fonte primeira. Eco de cantar árabe, tangido lá na distância de velha alcáçova, ou reminiscência do canto gregoriano, sedimentando o Verbo.
O poeta José Gomes Ferreira disse "nunca vi um alentejano cantar sozinho". (...). 
O Alentejo canta em coro, como sempre o terá feito. Mas o grupo coral não é a voz de uma solidão colectiva: é a adição de solidões individuais.
Nem o próprio cantar é uniforme. 
Tem altos e baixos. 
As vozes não soam todas ao mesmo tempo.
Há um ponto, um alto, um baixo.
Sons que se destacam no entoar moda, que é a soma da letra com a musicalidade das vozes.
A moda evolui, como tudo. A moda nasceu nos despiques da taverna, em redor do copo de vinho, nos ranchos da ceifa e da monda. Nasceu ao anoitecer no regresso dos ceifeiros a casa. Rompeu com os primeiros raios do astro, a surpreender os ranchos vergados sobre o trigo quando o trabalho se fazia "de sol a sol". 
O cante retrata a solidão e a tristeza. O amor e o trabalho. A alegria. O sol e a terra. O suor. Canta o trigo e as cegonhas. A emigração e a barragem do Alqueva. Canta a morte e a vida. Angústias e sonhos. Canta o homem perdido em incansáveis longitudes. É terno e quente. Ingénuo e grave. Sóbrio e triste. Solene como uma catedral. É como ela, eleva-se da terra, atingindo alturas tais que se mistura com o lamentodos descampados, não se sabendo já se são criaturas ou os próprios plainos que assim gemem.


É ao fim da tarde que o cantar se ergue. Levanta-se nas "vendas", cresce em redor do copo de vinho. Vem com a lua e com ela atravessa os ares. Temeroso, talvez, de o sol não voltar a nascer. 
Tantos são os cantares como os Alentejanos. 
As fronteiras do cante não têm de coincidir com as que, administrivante separam o Baixo do Alto Alentejo, ou os dividem a região pelos distritos de Beja, Évora e Portalegre. Os de Barrancos "cantam à espanhola e também à alentejana".
Pelo Redondo e por Campo Maior, ao longo de uma linha que se estende para a Beira Baixa, cantam-se "as saias" - cantar alegre, sem dispensar adufes.
Nos campos rasos de Castro Verde e de Ourique há trinados de viola campaniça. E por Vila Nova de S. Bento, Serpa, Cuba, ecoam os cantares em coro. 
Estas vilas erguem-se como das mais expressivas "catedrais do cante" alentejano.
Nos últimos anos o cante tem sido invadido por grupos instrumentais. Juntam às velhas letras os sons de violas e de bandolins, de concertinas e de órgãos electrónicos. Espécies de açordas com papo-secos.
O cuidado com o traje tem descido de Nível. 
Muitos corais, mesmo entre os que ainda não substituíram a música das vozes pela cacafonia dos sintetizadores terão perdido por completo o sentido estético de vestir. É possível escutar "castelo de Beja/ subindo lá vais/ tu metes inveja/ às águias reais" por ranchos equipados com vulgares calças de ganga de pronto a vestir, camisas brancas de fabrico em série e sapatos de ténis. Em vez da variedade etnográfica de traje surge uma farda. (...).
No entanto, autarquias e associações culturais ou de defesa do património têm vindo a procurar contrariar o pechisbeque. Estimulam festivais, encontros e concursos de grupos de cantares tradicionais. Contribuindo para a recuperação da memória de um povo.

E assim amigos meus do mundo, eu vos o registo. Vos o deixo em vossas mãos. Que eu queria tanto que ficasse em vossos corações. Bocado desta alma deste meu povo alentejano. Um texto retirado do livro, "Portugal passo a passo - Alentejo", João Couto Nogueira e Pedro Ferro, Edições Ediclube...
Mas deixai-me gritar povo que sóis meu, este sentimento, que batendo um puto em teclas, um texto que trespassava para um blogue, elas, as lágrimas, elas lhe queriam saltar dos seus olhos para o rosto que era o seu. O Alentejo assim para ele, "O Alentejo não tem fim". É mesmo muita fundo assim...

Copiado do blog do nosso compadre Jordanos, da Comenda (Gavião):   http://aletradeumalentejo.blogspot.pt/

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