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sábado, 21 de setembro de 2013

Arronches




Dizem que deve ter sido uma antiga povoação romana edificada junto à ribeira de Caia, fundada no tempo de Caio Caligula, no ano I da era de Cristã. D. Afonso Henriques conquistou-a   aos Mouros  em 1166, perdida de novo, e recuperada por D. Sancho II, em 1235. No entanto, só em 1242, com a reconquista de D. Paio Peres Correia, ficou definitivamente integrada nos domínios portugueses. Na altura do Interregno, foi a vez dos castelhanos tomarem Arronches, que viria a ser reconquistada por D. Nuno Álvares Pereira, em 1384.

Em 1661, a vila sofreu a invasão de D. João de Áustria, para ser abandonada pelos espanhóis à aproximação do exército português. Em 1712, cercada de novo pelos castelhanos, conseguiu vencê-los, rendendo-se estes à primeira investida das nossas forças.

Arronches teve forais dados em 1255 por D. Afonso III, confirmado pelo mesmo monarca, em 1272, em 1512 por D. Manuel I, e em 1678 por D. Pedro II, sendo este último diploma um "foral novíssimo", concessão de que poucas povoações usufruíram. Esta importância de Arronches já tinha ficado demonstrada em 1475, quando D. Afonso V aqui reuniu cortes para tratar do seu casamento com a princesa espanhola D. Joana. E antes ainda, quando D. Afonso IV e D. João I concederam notórios privilégios á vila.

Arronches foi uma importante praça de armas, com um castelo restaurado por D. Dinis em 1310. A fortaleza tida em grande conta pelos nossos monarcas, pelo que Luís de Camões, em várias estâncias de "Os Lusíadas", se refere, justamente, à "forte Arronches".

Situada no Alto Alentejo, no Distrito de Portalegre e sede de concelho, Arronches é chamada em gíria popular “Terra dos Porcos”, porque segundo a lenda consta que as pessoas de manhã abriam as suas pocilgas para que os seus porcos fossem para o campo e quando era tarde estes regressavam a casa dos seus donos
 para lhes abrir as pocilgas para dormirem e comerem.

Concelho raiano, Arronches distribui-se sobre uma superfície com uma área de 346,56 quilómetros quadrados. Compreende três freguesias: Assunção, Esperança e Mosteiros. A freguesia da sede dista 25 quilómetros    da capital do distrito, a cidade de Portalegre. As freguesias de Esperança e de Mosteiros distam, respetivamente, 9 e 6 quilómetros da sede do concelho. Destas duas, a primeira estende-se até junto da fronteira com Espanha e é parte integrante da área protegida pelo Parque Natural de S. Mamede. A segunda tem também uma parte da sua área incluída no mesmo parque.
Concelho essencialmente vocacionado para a agricultura, tem como principais recursos agrícolas o azeite, os cereais e os produtos hortícolas. Quanto à exploração pecuária, esta incide no gado bovino, caprino, ovino, suíno, cavalar e muar, com produção de lã e lacticínios. Da sua floresta aproveita-se a cortiça e as madeiras. Do seu subsolo extrai-se uma excelente qualidade de mármore rosa e de bom barro para a indústria cerâmica. As potencialidades mineiras (cobre, chumbo, estanho e titânio) são frequentemente lembradas.
A região é banhada pelo rio Caia e seus afluentes, um dos quais é a ribeira de Arronches. A água desempenha um papel de grande importância na vida deste concelho. O Caia, esse humilde filão nascido na serra de S. Mamede, humilde, que passando à vista de Alegrete, Mosteiros, Arronches, Campo Maior, passando em Caia à vista de Segóvia, acaba por, morto de cansaço, se ir deitar nos braços do Guadiana. Só que, lá para a segunda metade dos anos 60, entre Arronches, Santa Eulália, Degolados e Campo Maior, o filho de S. Mamede inchou de presunção.
O seu modesto serpentear tornou-se num espraiar de águas, invadiu suaves vales, recortou-se pelos terrenos adjacentes, surpreendendo de humidade e frescura a terra alentejana, acostumada que estava à secura e ardência do Sol. A Barragem do Caia foi uma autêntica bênção para estas terras. Se bem que a maior parte do dique pertença a Campo Maior, é ao concelho de Arronches (e ao de Elvas) que pertence o grosso das águas. A albufeira do Caia tem 1.970 hectares e uma altura máxima de 52 metros. As atividades desportivas que aqui se praticam poderão dinamizar o turismo de Arronches.
O maior destaque vai para os desportos náuticos (motonáutica excluída) e para a pesca (achigã e carpa). A pesca pode também ser praticada em diversos pontos do rio Caia, caso do Porto de Manes, local de grande atracão piscatória situado junto da vila.
Vila que cinco pontes rodeiam, como refere José Saramago. A mais antiga destas pontes data do século XV. Compõe-se de seis arcos de volta redonda construídos em grossa alvenaria com silhares e aparelhos de granito em blocos talhados.
A visita às pontes pode ser um bom ponto de partida para o conhecimento do importante património edificado deste concelho. À cabeça, talvez as igrejas de Nossa Senhora da Assunção (matriz) e de Nossa Senhora da Luz. Bem secundadas pelo edifício dos Paços do Concelho, pelas fontes de Elvas e do Vassalo, e pelo que resta do castelo e das antigas muralhas.
Isto na vila, pois em Mosteiros há a igreja de Nossa Senhora da Graça, que se destaca pela sua dignidade arquitetónica, e pitorescos recantos de uma magnífica arquitetura popular, enquadrados numa moldura serrana de belos efeitos paisagísticos.
Em Esperança, a igreja matriz sobressai da homogeneidade do casario. É um templo do século XVI, reconstruído no século XVIII. Possui um retábulo renascentista em madeira policromada.
É nesta freguesia de Esperança que se encontram alguns dos mais notáveis conjuntos de pinturas rupestres existentes em Portugal. Há abrigos de pinturas na serra dos Louções e na serra da Cabaça, na encosta sul, a leste de Esperança e a cerca de 400 metros da estrada que liga esta aldeia a Monte Novo e Nave Fria.
Pelos meados dos anos 80, a freguesia de Esperança era apelidada de verdadeira capital do rupestre português. As suas grutas encerram um património arqueológico de valor inestimável, reconhecido pelos especialistas e traduzido em pinturas na generalidade monocromáticas, de tons vermelhos, traço esquemático, com cerca de 3.000 anos, e reproduzindo silhuetas antropomórficas e zoomórficas, desenhos de mãos e outros sinais.
Pare um pouco em Arronches, diz-se num folheto local. Aqui se regista a sugestão-convite: “Perto de Portalegre, longe do bulício e da poluição das grandes cidades, esta vila interior abre-se como um ninho de casario branco, no seio de uma paisagem rural de olivais e montado, proporcionando um ambiente repleto de tranquilidade e repouso. Deixe-se envolver na ruralidade do lugar. Delicie-se com a boa comida alentejana, com o artesanato em cabedal, cortiça, madeira e bunho e conviva com a humildade e a simpatia deste povo. Viva momentos inesquecíveis!  

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