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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Estações do Sul
Para mim, o Alentejo começava e acabava no Barreiro. Era ali que o barco vindo de Lisboa nos deixava para apanharmos o comboio, rumo ao Sul. Ou o contrário...
Sentia-se já o cheiro do Alentejo, misturado com a maresia. E, a locomotiva da CP deixava uns passageiros e aguardava por outros.
Os alentejanos estavam ligados a esta Linha do Sul como se de um cordão umbilical se tratasse: Era por ali a única porta de acesso á grande cidade, num tempo em que não havia estradas de jeito e automóveis eram quase inexistentes.
Na automotora, encontrava-se gente de todas as terras da planície. Porque a Linha dividia-se em Ramais ao longo da viagem: o Ramal de Praias do Sado, na estação do Pinhal Novo; o Ramal do Setil, na estação de Vendas Novas; o Ramal de Montemor-o-Novo, no apeadeiro de Torre da Gadanha e, em Casa Branca, a linha dividia-se em duas: Évora ou Beja.
A de Évora continuava para Norte e servia as localidades daquele lado do Alentejo, a de Beja continuava até ao Algarve...
O vai-vem de comboios era continuo, levando e trazendo gente, separada por três Classes: a 1ª , para gente rica e selecta, a 2ª, para remediados e a 3ª, para gente pobre, mesmo pobre...
E, nas carruagens, eram uma amalgama de gente com alcofas, galinhas, perus, garrafões de vinho e azeite. Os velhos estafetas jogavam á sueca e riam-se desdentados, enquanto camponeses magros abandonavam os campos, rumo ás industrias do Barreiro, Amadora ou Seixal.
Naquele tempo, apanhar o comboio era o nascer da esperança para uma vida melhor e assim foi para algumas gerações de alentejanos...
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