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domingo, 8 de novembro de 2015

Bonecos de Estremoz

       
                    Bonecos de Estremoz, de Ricardo Fonseca
Galeria Municipal D. Dinis
9 de Outubro a 5 de Dezembro de 2015
Exposição de cerca de 30 figuras, distribuídas por grupos temáticos.

De acordo com o Génesis, no sexto dia da criação do Mundo, Deus moldou o primeiro homem a partir do barro. Foi com esse mesmo barro que as bonequeiras de setecentos começaram a criar aquilo que se convencionou chamar “Bonecos de “Estremoz”. Trata-se de uma manufactura “sui-generis” que a distingue de todo o figurado português. Nela, o todo é criado a partir das partes, recorrendo a três geometrias distintas: a bola, o rolo e a placa. São elas que com tamanhos variáveis são utilizadas na gestação de cada boneco. Para tal são coladas umas às outras, recorrendo a barbutina e afeiçoadas pelas mãos mágicas dos artesãos, que lhes transmitem vida e significado.
A técnica ancestral de produção de “Bonecos de “Estremoz” transmitiu-se ao longo dos séculos e tem em Ricardo Fonseca o benjamim dos barristas. Natural de Estremoz, onde nasceu há 29 anos, o artesão tem o 12º ano de escolaridade, tendo cursado Artes na Escola Secundária Rainha Santa Isabel, onde adquiriu saberes no âmbito da Pintura, da Escultura e da História de Arte.
Sobrinho de peixe sabe nadar. O seu tio Ilídio foi oleiro na Olaria Alfacinha, onde ainda trabalhava em 1983. As irmãs Flores, suas tias, são bonequeiras. A Maria Inácia desde 1972 e a Perpétua desde 1976. Não admira pois que se tenha sentido fascinado pela plasticidade do barro e pelas transmutações que ele permite, já que como diz o poeta António Simões: “Barro incerto do presente, / Vai moldar-te a mão do povo / Vai dar-te forma diferente, / Para que sejas barro novo.” Daí que Ricardo tenha começado a manusear o barro aí pelos doze anos, fazendo a aprendizagem com as sua tias. Aos quinze anos já fazia pequenos presépios e algumas imagens que vendia aos turistas, assegurando assim a mesada para os seus gastos juvenis. 
Ao sair da Escola em 2005, começou a trabalhar com as tias na oficina-loja do Largo da República. Foi então que a manufactura de bonecos deixou de ser uma brincadeira e passou a ser o seu mester. A execução das figuras continuou, todavia, a ser feita com imenso prazer e igual paixão, pois como diz o adagiário “O trabalho é o mestre do ofício” e “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra”.
Trabalha muitas vezes por encomenda, o que é caso para dizer “A boa obra, se vai pedida, já vai comprada e bem vendida”. Confecciona espécimes dentro e fora do núcleo base do figurado de Estremoz. Entre os modelos que registam maior procura figuram: “O Amor é Cego”, “Primavera”, “Rainha Santa Isabel” e “Presépios”. São de sua criação, figuras como “O professor”, “Fernando Pessoa”, “Cavaleiro Tauromáquico”, “Forcado”, “Rainha Santa Isabel alimentando um pobre”, “Santiago”, “Senhor dos Passos com Nossa Senhora” e “Paliteiros zoomórficos”.
A procura de coleccionadores leva-o a criar variantes de muitos exemplares, o que acontece sobretudo com “Presépios”, mas também com imagens como “Santo António”, “Nossa Senhora da Conceição” e “Rainha Santa Isabel”, o que se torna estimulante, sob um ponto de vista criativo. De resto e por auto-desafio vai criando peças cada vez mais complexas, sem abandonar porém, os cânones intrínsecos ao figurado de Estremoz. É caso para dizer que: “Aprende por arte e irás por diante”.
De parceria com as tias tem executado exemplares como “Coreto Municipal”, “Presépio de Galinheiro” e “Jogador de bilhar”.
É sabido que cada barrista tem o seu próprio modo de observar o mundo que o cerca e de o interpretar, legando traços de identidade pessoal nas peças que manufactura e que são marcas indeléveis que permitem identificar o seu autor. Lá diz o adagiário: “As obras mostram quem cada um é” e “Pela obra se conhece o artesão”. No caso de Ricardo, o perfeccionismo está-lhe na massa do sangue, o que o leva a dedicar-se aos pormenores, não só na pintura, como na própria manufactura do rosto, das mãos, dos pés e dos enfeites que adornam as figuras.
Quanto às suas marcas de autor são múltiplas: - “Ricardo Fonseca” com ou sem data ou com data e “Estremoz”, manuscritas e com iniciais maiúsculas; - RF com ou sem data, pintado em cor variável.
Ricardo tem participado em exposições colectivas, não só em Estremoz, como em Espanha e Itália, assim como em Feiras de Artesanato (FIAPE e a FATACIL), no stand das tias. Ganhou o 1º Prémio no Concurso de Barrística “Rainha Santa Isabel”, promovido pelo Município de Estremoz no decurso da FIAPE 2011.
Apesar de por opção própria trabalhar na oficina-loja das tias, Ricardo não é um aprendiz, é um barrista de corpo inteiro, que por ser deles o benjamim, tem nas suas mãos a pesada herança de assegurar o futuro do figurado de Estremoz. Força, Ricardo! “Parar é morrer” e “Para a frente é que é caminho”.    
CRÉDITOS DAS FOTOGRAFIAS
Maria Miguéns (2 e 3), Hernâni Matos (4), Ricardo Fonseca (5 a 30).  


 2 - Aspecto geral da Exposição. 
3 - Ricardo Fonseca no acto inaugural da Exposição.  
4 - Ricardo Fonseca a trabalhar.  
5 - Pastor de manta.  
6 - Ceifeira.  
7 - Aguadeira.  
 8 - Lavrador rico
9 - Primavera de arco.  
10 - Bailadeira. 
 11 - Primavera de plumas. 
12 - Primavera de plumas.  
 13 - Primavera de plumas. 
14 - Amor é cego.  
15 - Amor é cego.  
 16 - Rei negro. 
  17 - Rei negro.
  18 - Xéxé.
  19 - Folião.
 20 - Cavaleiro tauromáquico 
21 - Presépio de trono ou de altar. 
22 - Presépio de 6 figuras. 
23 - Menino Jesus. 
24 - Senhor dos Passos com Nossa Senhora
25 - Nossa Senhora da Conceição.
26 - Nossa Senhora da Conceição.
27 - Nossa Senhora da Conceição.
28 - Santo António.
29 - Rainha Santa Isabel.
30 - Santiago.
 
Texto e fotos copiados integralmente do blog do nosso compadre Hernâni Matos, http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/

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