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domingo, 14 de fevereiro de 2016
Vivi num Monte (By Maria Silva)
Vou contar-vos as recordações que tenho do tempo que vivi no Monte do Reguengo:
Tinha cerca de 4 ou 5 anos quando meus pais foram viver para o monte da Paiõa. Estiveram aí pouco tempo e mudaram-se para o Reguengo. Estes montes pertenciam ao Carlos Fialho, que já faleceu e creio que atualmente ainda são pertences dos filhos.
O monte do Álamo era o monte principal onde vivia o feitor, o ganhão e onde ficavam todas as máquinas agricolas, o Monte da Casa Branca a malhada das porcas, o Monte da Paiõa e o Monte do Reguengo. Neste Monte, viviam os meus pais o tio Zé Galhofas que era o vaqueiro, a ti Zabel sua esposa e mais dois caseiros.
O monte tinha quatro moradias geminadas,uma cocheira atrás e um forno na parte lateral.
Na frente do monte haviam os quinchosos (quintais), assim lhe chamavam. Junto a eles haviam as capoeiras com as galinhas e os coelhos. Lá em baixo havia uma horta coletiva dividida em quatro partes, uma para cada caseiro, tinha um poço com picota e um tanque onde se ia lavar a roupa. As mulheres trabalhavam no campo, desmoitavam, mondavam ceifavam e apanhavam a azeitona, a minha mãe ainda lavava a roupa dos patrões que ia de Évora. O meu pai trabalhava com todas as máquinas agrícolas. Semeavam muito trigo e cevada, no principio o trigo era debulhado com a debulhadora fixa e depois passou a ser pela ceifeira debulhadora. No monte não havia luz, era o candeeiro a petróleo. A água tinha que se ir buscar ao poço da horta nos cântaros de barro.
A comida era feita ao lume nas panelas de barro ou então no fogão a petróleo e a roupa era passada com o ferro com brasas.
Ao sábado, a minha mãe amassava e cozia o pão no forno, para a semana toda. De vez em quando aparecia um homem de bicicleta a pedal a vender peixe, o Begio também ia de bicicleta mas vendia ouro. Nas carroças iam o Pardal e o Jasué venderem roupa.
O resto das compras, o meu pai fazia nas Alcáçovas quando ia levar o pessoal do trabalho no trator ou então na mercearia do Albino na Estação de Casa Branca em que se ia a cavalo na carroça, da ti Zabel.
O meu pai tinha uma bicicleta a pedal e recordo-me de ir com ele ás pardelhas ao Ribeiro dos Quintos, que fica no caminho para o Monte do Álamo, para apanhar as pardelhas fazia uma pegera. No monte apareciam muitas vezes os ciganos a pedir comida chamavam-lhes os "negritas".
Aos domingos, o patrão punha o trator com a rolote á disposição para quem queria ir á missa a S. Brás do Regedouro.
Todos os anos matávamos um porco. As mulheres iam lavar as tripas ao ribeiro. As aves que por ali esvoaçavam eram pardais, andorinhas, melhanos, corvos, carraceiros, melros, cucos, cegonhas e abatardas. Os meus pais vieram-se embora para as Alcáçovas tinha eu 11 anos, portanto há cerca de 46 anos...
Memórias gentilmente partilhadas connosco pela nossa comadre Maria Silva.
Nas fotos: Monte do Padrão, Monte do Reguengo, Monte da Paiôa e Monte da Casa Branca.
Link para visualização de percurso nesta área:
http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=12093509
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