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sábado, 3 de março de 2018

Castro Verde










Desde há cerca de 3000 anos que a paisagem da região de Castro Verde é objeto de uma profunda humanização. Marcada pela presença de comunidades humanas que teriam na exploração mineira e na pastorícia as suas principais atividades, desde cedo que aqui se instalam estruturas comunitárias fortemente desenvolvidas, conhecedoras da escrita e com profundos “contactos comerciais" com o Mediterrâneo. 
Exemplo do extraordinário desenvolvimento e conhecimento da escrita dessas comunidades, é o famoso Silabário da Espanca, pedra gravada com caracteres de origem fenícia, dos séculos V/IV a.C., e que terá servido como suporte para ensinar um dos mais antigos abecedários conhecidos na Europa, denominado por "Escrita do Sudoeste". Nessa “pedra” estão, na parte superior 27 letras cuidadosamente desenhadas, enquanto na parte inferior existe uma cópia do “alfabeto” em cima lavrado na lousa. 
É de sempre que toda esta região se encontra ligada ao mundo mediterrânico. A sua riqueza metalífera está, indubitavelmente, na origem desta realidade histórica, tantas vezes retratada por várias autores. Em particular, porque o concelho de Castro Verde é atravessado pela Faixa Piritosa Ibérica, que se caracteriza pela formação de ocorrências metálicas de fácil exploração, onde abundam o cobre, a prata, o estanho e o ouro. As escavações realizadas no couto mineiro de Neves-Corvo, ou os diversos achados ocasionais referenciados em locais como o Castelo de Montel, são bem a prova da riqueza deste território já profundamente conhecido pelos povos mediterrânicos ainda antes do advento dos “romanos”.
A chegada destes à região traz a multiplicação de vias de comunicação e, em particular, dos chamados castella, cronologicamente datados dos séculos II/I a.C., normalmente associados a estruturas de armazenamento e guarda de metais preciosos, e que se distribuem em particular na região de Castro Verde, estando localizados neste concelho cerca de 65% desses conjuntos edificados.
A proximidade do porto fluvial de Mértola e a importância que as minas de Aljustrel têm para as receitas imperiais, fazem de toda esta região um território particularmente romanizado que poderá estar na origem do nome de Castro Verde, eventualmente um espaço utilizado como acampamento militar.
Para a justificação da origem do topónimo Castro Verde há, pelo menos, duas versões. Uma primeira defende que deriva de Castra Castrorum, a que se juntou o adjetivo verde que significaria o mais novo. Mais consistente é a versão que defende a origem do topónimo do nome Castrum Veteris, o castro mais antigo, em contraposição com um outro que existiria no pequeno planalto onde atualmente se encontra a capela de S. Martinho e que terá sido abandonado na Idade Média. O termo “Castro” deriva de castrum, estabelecimento ou acampamento militar.
Mas é em Santa Bárbara de Padrões que mais fortemente se manifesta a presença romana, através dum testemunho único e de dimensão internacional. Junto ao local onde atualmente se encontra a Igreja Matriz, e ao longo de toda a encosta nascente da aldeia, encontra-se um importante povoado de época romana, onde para além dos vestígios dum espaço religioso basilical, se descobriu um depósito de lucernas, cuja cronologia se baliza entre o século I e III d.C., tendo sido recolhidos fragmentos de mais de dez mil lucernas. Uma coleção que pode ser visitada no Museu da Lucerna, localizado em Castro Verde. 
Para muitos autores, este local corresponderia ao antigo oppidum de Aranni ou Arandis, referenciado no Itinerário de Antonino como estação intermédia entre Ossonoba (Faro) e Pax Julia (Beja) e distante da primeira daquelas cidades cerca de 60 milhas (aproximadamente 90 quilómetros). 
Associado ao processo de romanização e, em particular, a partir do século III d.C., está o aparecimento de estruturas de caráter fundiário identificadas como villae, que se podem associar em termos de funcionalidade aos nossos “montes alentejanos” da primeira metade do século XX, em que, de uma forma simplista, o proprietário procura que a sua propriedade seja autossuficiente e, ao mesmo tempo, crie excedentes para venda ou troca. Em todo o concelho essas propriedades marcam o território e estabelecem uma lógica de ocupação territorial baseada genericamente na autossuficiência que se estende até à ocupação islâmica, no século VIII d.C.. Inicia-se então uma fórmula de ocupação do território distinta, assistindo-se a um aumento generalizado da população, a uma maior concentração populacional e ao natural aparecimento de pequenos núcleos populacionais designados por alcarias. No concelho de Castro Verde e, em particular, na faixa que corresponde administrativamente à freguesia de Santa Bárbara de Padrões, essas qarias são em grande número e correspondem a pequenas comunidades, tradicionalmente identificadas como clãs, que têm na exploração dos recursos endógenos e, em particular, das ricas pastagens e eventualmente de pequenos afloramentos metálicos, realidades naturais e geológicas que caracterizam os Campos de Ourique. Topónimo que identifica a sudoeste do Baixo Alentejo. 
A região de Castro Verde está intrinsecamente ligada ao processo de formação de Portugal e ao fundador. A lendária Batalha de Ourique, em que Afonso I “derrota cinco reis mouros”, tem como pano de fundo o sítio de S. Pedro das Cabeças, localizado a cerca de quatro quilómetros de Castro Verde. Conta a lenda que a batalha decorreu nos dias 24 e 25 de Julho, do ano de 1139, e que a mortandade foi tanta que as águas da Ribeira de Cobres se tingiram de vermelho. No entanto, e apesar da lendária e vitoriosa batalha, a Reconquista cristã só se apodera, definitivamente, desta região no reinado de Sancho II, em meados do século XIII, à volta do ano de 1234, quando é conquistado o Castelo de Aljustrel. 

Fotos copiadas na Internet e da autoria da nossa comadre Vitória Nobre.
Texto: C.M. Castro Verde.

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