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quarta-feira, 8 de maio de 2019

Nas Lezirias do Arroz ( Santa Catarina de Sítimos )










 O arroz é um bem essencial è alimentação do Homem, e faz parte da sua dieta à muitos séculos. A orizicultura é uma actividade agrícola associada a climas quentes e húmidos e necessita de condições especificas para a sua produção e a zona do Estuário do Sado apresenta as condições propicias para o seu cultivo .
A sua origem, segundo poucos relatos escritos, terá sido quando os muçulmanos penetraram na Península Ibérica no séc. VIII trazendo novos aperfeiçoamentos na agricultura e novas técnicas de rega. A sua adopção pelos árabes esteve na origem da sua nova expansão para o Ocidente.
Mas apenas no reinado de D. Dinis, séc. XIII-XIV, surgem as primeiras referências escritas sobre a cultura do arroz, que se destinava somente à mesa dos ricos. No entanto, desde esse período até ao séc. XVIII a cultura do arroz deixou de se praticar.
Foi então a partir do séc. XVIII que foram dados os primeiros incentivos à produção deste cereal, nas zonas de estuários. Mas o inicio da prática desta cultura foi muito complexa pois o cultivo começou a ser feito em condições inapropriadas e apresentou-se como um perigo à saúde pública, o que levou a protestos da parte da população. O paludismo e outros aspectos da higiene pública eram um problema que não tinha fim à vista.
Com a vitória dos Liberais em 1828-1834, deu-se um passo decisivo para a divulgação desta cultura, com a nacionalização de propriedades e novas legislações. É a partir de 1850 que a orizicultura cresce sem precedentes.
Foi no entanto no inicio do século XX que a cultura do arroz se começou a impor em Portugal, em particular na zona de Alcácer. Tanto que Alcácer ficou conhecida "por excelência, a região do arroz". (Dr. Nuno Gusmão, 1928) A sua importância levou então à construção das barragens, em 1949, de Salazar e Trigo de Morais.
O ano de 1909 tornar-se-ia um ano decisivo para o arroz em Portugal. D. Luís de Castro, professor do Instituto Superior de Agronomia, defendia publicamente a orizicultura. Iniciou-se um conjunto de trabalhos científicos sobre o arroz para melhorar as condições da sua cultura e resolver o problema da insalubridade. O Estado passou então a apoiar esta causa.
Nesta época milhares assalariados agrícolas vindos de fora deslocavam-se à zona de Alcácer do Sal para trabalharem nos campos de arroz. Eram alimentados e pagos segundo a sua função de serviço, sexo ou idade e com um horário que era praticamente de sol a sol. Estima-se que cerca de oitocentos a mil homens e mulheres subiam ao Vale do Sado, vindos do Algarve e da Serra. Denominavam-se de "algarvios". Muitos outros vinham do Norte do país (Viseu, Coimbra e Leiria) os quais ficaram conhecidos como "beirões", "caramelos", "ratinhos" e "homens da malta".
"monda" do arroz, termo tradicional usado para o trabalho nos campos do arroz era ainda executado por pessoas da terra, agricultores, principalmente por mulheres ás quais se chamavam " Mondinas" que eram remuneradas abaixo dos homens. Existia uma hierarquia no rancho, composta por um manageiro que dirigia a disciplina e trabalho no campo, um quarteleiro encarregado do alojamento, aguadeiros, lenhadores e as cocas que tratavam das refeições.
Calcula-se que no pico dos trabalhos nos campos de arroz existia uma concentração de 10 mil assalariados só no concelho de Alcácer. As instalações onde os trabalhadores eram alojados, "cabanas", as condições de higiene, qualidade da água, alimentação e preço e venda das mesmas era bem diferente do que previam. Além disso, trabalhavam num ambiente de águas paradas onde o paludismo assombrava as suas vidas.
Texto: Rita Balona. http://www.atlas.cimal.pt/drupal/



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