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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Foram-se embora...

Foram-se embora. 

Fecharam-me e foram. 

Nunca mais voltaram. 

Nunca mais ninguém se veio assomar ao postigo. Nunca mais o talego do pão à porta. 

Levaram as cortinas e pregaram tábuas nas janelas. Já não moram fotografias nas paredes. Puseram as coisas em caixotes e abalaram. Ficou a mesa da cozinha. Duas enfusas. 

Algumas cadeiras. Um candeeiro partido. Ficou a cama onde nasceu a menina. Ficaram os primeiros passos. E as primeiras gargalhadas. 

Numa casa vazia as memórias ecoam mais alto. 

Vieram aí uns homens um dia destes. 

Tinham voz de estranhos. Olharam para mim como se eu fosse apenas uma casa. Abanaram a cabeça e encolheram os ombros. 

Traziam um verbo naquele presente que não chega a tempo.

 

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