A barragem de Albergaria dos Fusos fica a escassos quilómetros da aldeia. Tem uma área aproximada de 1 480 hectares e tem sido apontada a sua aptidão para o desenvolvimento de atividades relacionadas com o turismo. É conhecida por ter boas condições para atividades ao ar livre, tais como desportos náuticos e pesca desportiva. Fala-se ainda da possibilidade de poder vir a ter uma praia fluvial. Abastece os concelhos de Cuba, Alvito, Portel e Viana do Alentejo. A forma da albufeira, o plano de água, a paisagem natural e a existência de alguns pontos de interesses têm atraído ao longo dos anos vários visitantes.
A barragem é de Albergaria dos Fusos, mas houve tempo em que tinha o nome de Alvito. Mas tenha que nome tiver as gentes da aldeia gostavam é que a ela chegasse o desenvolvimento, e que com ele viessem mais forasteiros e até possíveis habitantes. De boca em boca só se ouve um número: 80. “Já só somos uns 80”.
Texto
Bruna Soares
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“Somos uns 80 a viver aqui”. É este o número que sai, sem indecisão, das bocas das gentes que habitam Albergaria dos Fusos, no concelho de Cuba, até porque a conta, essa, não é difícil de fazer. Basta ir subtraindo os que vão deixando a aldeia. Todos se conhecem e a margem para erro é, assim, mínima.
“Há para aí umas 80 pessoas, se chegar. Dos que partiram uns estão ali a caminho de Vila Ruiva (cemitério) e outros abalaram para Lisboa”, diz Francisco Batista, que se apresenta de camisa aos quadrados para dentro das calças, boina na cabeça e com uma bolsa milimetricamente colocada no cinto para o telemóvel.
Habitantes, não restam dúvidas, são cada vez menos. Mas, ainda assim, o que melhorou ao longo destes anos? “As calçadas e as ruas”, responde sem hesitação. Francisco Gonçalves, por sua vez, diz que “as melhorias foram muitas” e que “a terra tem muito mais condições”.
No largo não há carros a circular e o som dos pássaros, que vieram com a primavera ou que nunca chegaram a partir, é o que mais se ouve. As aves de António Pomares ajudam à festa. Dentro da sua pequena drogaria apetrechada de tudo e mais alguma coisa, em pleno largo, são elas que se ouvem, ainda que dentro das gaiolas. “Gosto muito dos passarinhos e trago-os aqui para a loja, assim estou sempre a ouvir alguma coisa”, conta. Até porque a voz dos clientes escuta-a cada vez menos. “Tinha um comércio alimentar do outro lado e tive de fechar, porque as pessoas vão-se aviar aos supermercados, às superfícies grandes”, afirma.
Quem também espera pelos clientes é Cidália Ferreira, no seu café, atrás do balcão. “Estou aqui há 20 anos. Esta terra está muito velhota. A maioria das pessoas tem entre os 60 e os 70 anos. Malta jovem há pouca e está cada vez menos gente na aldeia”, afirma.
Há, no entanto, os forasteiros, quase sempre ao fim de semana, que procuram a barragem e a casa de turismo, que se instalou na aldeia, aproveitando todas as potencialidades da terra. “Quando há movimento lá, nota-se aqui no café”, assegura Cidália Ferreira. Na aldeia toda a gente comenta o turismo rural. “Foi uma coisa boa que veio para aqui”, consideram os homens, que se sentam nos bancos, abrigados do sol.
A barragem de Albergaria dos Fusos, que tanta luta deu a estas gentes, uma vez que a batizaram de barragem de Alvito, é o que ainda faz renovar a esperança, embora o tão aguardado progresso insista em não chegar. “Se houvesse desenvolvimento na barragem podia desenvolver-se a aldeia”, diz Francisco Gonçalves, adiantando: “Estava previsto um hotel, mas parece que isso está em stand by. Aquilo não vai ser feito. Dizem que não têm dinheiro para fazer o hotel. Isso poderia trazer até habitantes, porque há aí muita casa à venda e podia ser que alguém viesse para aqui morar”.
Manuel Reguengos senta-se num dos bancos, abrigado pelo alpendre, enquanto vão chegando os seus companheiros de prosa e explica como trocaram as voltas à barragem, atribuindo-lhe o nome de Alvito. “A barragem de Alvito era para ser ali em baixo. Começaram a construir, mas como o terreno não deu, mudaram para aqui. Ali já era barragem de Alvito e aqui continuou a ser barragem de Alvito à mesma, mas sem o ser”. Os homens acenam positivamente com cabeça e Manuel Reguengos lamenta: “Nos papéis já está barragem de Albergaria. Mas as pessoas passam aí nos carros e perguntam onde é a barragem de Alvito”.
Ao lado dos homens repousa a antiga escola primária e crianças não se avistam. A escola há muito que fechou. Apenas se avista Jacinto Batata a pular o muro, do alto dos seus mais de 70 anos. Antes parou o seu veículo motorizado de três rodas e caixa aberta, que carregava duas couves, junto ao alpendre. “Crianças há muito poucas. Só o que há aqui é malta velha e eles não fazem crianças”, conta o homem, entre sorrisos. Jacinto não se senta e recorda: “No tempo em que era rapaz havia aí muita malta nova, faziam-se grandes bailes. Agora não há nada. Não está aí ninguém. Só se forem os velhos bailar com as velhas. A mocidade abalou toda”. E o espaço multiusos, perguntamos. “Às vezes fazem lá casamentos e batizados”, diz Francisco Batista.
Jacinto senta-se no seu veículo. Aquece o motor, dá a conhecer as virtudes da máquina e arranca rua acima. Vai ver o seu “hortejo”. Com o barulho Umbelina Cabanas assoma-se à porta. E resume: “Aqui é como nos outros sítios. Uns dias são melhores, outros são piores”.