quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Terra toda numa gota de suor...


Uma gota de suor, transparente, salgada, cai da nuca em viagem acidentada pelo pescoço e ao longo da linha da coluna. O vento seco com aroma de deserto, que faz os trigais em pó e escurece o chão, cola também o luto à pele e faz refrescar, na sombra dos panos, o corpo cansado, amolecido. Toca um dedo, dois, a mão toda na testa suada, no cabo da enxada. Alternando entre uma e outro, o dia se vai, descendo devagar, aliviando o brasido, entrando na noite ao som dos ralos escondidos por entre os ramos, restolho e raízes largas. Escavam-se covas, pequenos cofres naturais para guardar os pertences que não pertencem a ninguém, ou que são de todos os da Terra: um queijo, chouriças e morcelas, quando as há e água sempre fresca na cantarinha de barro. 

 As paisagens que mudam como o dobrar das estações do ano, dão à terra enfeites renovados, acessórios novos, numa moda que parece imutável de já tão conhecida: há os panais fazendo saia por baixo das oliveiras umas vezes; outras em que os sobreiros vestem de tinta branca para não quedarem desnudados mais um ano, até que lhes renasça a pele. Na refrega dos últimos calores, as videiras que antes eram cheias, fartos corredores de verde a atravessar a planície, despem-se por sua vez, exibem os seus ramos raquíticos, despojados de fruto, num eterno abraço umas das outras. Antes disso, já tremeu a seara, à vista dos da Terra, que só conhecem as distâncias pelos nomes dos campanários, dos montes e da disposição dos rolos de palha que ocasionalmente os polvilham. As papoilas de olhos negros profundos, coroados de vermelho-paixão, espreitam por todo o lado nessa época. Saem de casa os da Terra, todos os anos, todos os dias à mesma hora para encontrar à sua frente uma paisagem sempre diferente, desembocando graciosamente, rente às suas paredes brancas.

  Reconhecem-se os forasteiros pelo tom monocórdico que assumem ao falar, pela indiferença com que afirmam em boquinhas meio cerradas e por cima dos ombros: "isto é tudo sempre igual". A Terra com esses não fala. Não tem com eles conversas de Amor trazidas no Suão, que se ajeita por dentro das roupas, junto aos corpos, trazendo em si ainda, memórias de uma areia longínqua. Não. Para os que não são da Terra, ou das terras da Terra, aquela não se abre, qual fêmea decidida, segura dos seus deleites e espectáculos de cor e cheiros. 

 Para os que a acham monótona, sem graça, parada, a Terra faz-se imóvel, que é isso que eles querem que seja. Ou é ela pois, que ciosa dos seus segredos, escolhe pelos dedos os que podem ser seus filhos, seus maridos, seus amantes, depósito inabalável do que mais ninguém sabe. E os da Terra aprendem a ouvir, escutando. Sabem fazê-lo desde muito cedo, antes mesmo que lhes invada a retina pela primeira vez, a luz brilhante, reflexo do solo em ondas de uma água que não há, que por aqui nunca houve.

  E os homens não chegam à Terra senão para habitarem nela. São eles os braços da Terra, as pernas que a levam por todo o lado até onde a voz, o vento e o eco já não alcançam. As mulheres carregam a Terra no ventre, geram-na e parem-na vezes sem conta e contam aos delas as histórias de outros que andaram por cá. Vive então para além dos dias, chega a distâncias que desafiam os recursos do Homem; viaja em pequeníssimos registos celulares, em impulsos de vida, uma memória vaga de calor ou geada no coração de alguém. 

  A Terra faz-se lembrada nas gotas de suor que transportamos no dorso, no cheiro do pão cozido que faz inundar os olhos de lágrimas felizes e nos borralhos dos lumes há muito apagados. Porque para os da Terra, não importa para onde vamos. Só nos importa saber de onde viemos...

Texto copiado do blog da nossa comadre Ana Terra, http://aterradaana.blogspot.pt/

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Barragem de Montargil






A Barragem de Montargil, inaugurada em 1939, está situada em Ponte de Sôr, no distrito de Portalegre, e faz parte da bacia hidrográfica do Tejo. É alimentada pela Ribeira de Sor, tem uma altura de 48 metros, 427 metros de coroamento e destina-se à rega, nomeadamente do Vale do Sorraia, e à produção de energia.
A capacidade máxima de descarga é de 765 m3 por segundo.
A albufeira desta barragem, que tem uma capacidade de 164 hm3 e ocupa cerca de 1646 hectares, serviu, especialmente a partir dos anos 80, para desenvolver o turismo da zona, que possibilita a prática de desportos náuticos e da pesca desportiva.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

GPS - ARTE CHOCALHEIRA DE ALCÁÇOVAS




Documentário sobre os Chocalhos de Alcáçovas. A odisseia dos homens e mulheres que, ao longo de muitas gerações, aperfeiçoaram esta arte tão genuína...
Elaborado pelos compadres das Edições Poejo.

Caminhada "Canadas d'Alcáçovas" 27JUL14

Alcáçovas, Capital do Chocalho e Terra de Doçaria...

Depois de provar os Bolinhos, a postos para a caminhada...
 


Nora típica na Horta Biológica Vale Bexiga.
 

Horta Biológica Vale Bexiga.

Jardim das Conchas.

Fonte do Concelho.

Pelos caminhos velhos...

E Alcáçovas é já ali...
 

E já estamos quase a chegar...
 

E já estamos quase a chegar... ( Agora é verdade !...)

E já estamos quase a chegar... (Agora é que é...)
Luana e Rodrigo, os mais novos participantes nesta caminhada...
 Em 27JUL14, a Associação dos Amigos das Alcáçovas, através do Projeto Alcáçovas Outdoor Trails, organizou uma caminhada inserida no Programa da Feira do Chocalho 2014.
Esta caminhada, "Canadas d'Alcáçovas", teve 35 participantes que puderam percorrer antigos caminhos rurais nos arredores desta vila, visitando ainda a Horta Biológica Vale Bexiga e o Jardim das Conchas.

Agradecemos á Padaria do Ernesto a oferta de bolinhos secos com que recebemos os nossos participantes no briefing inicial e á Câmara Municipal de Viana do Alentejo e Junta de Freguesia de Alcáçovas, que nos têm apoiado...

domingo, 27 de julho de 2014

Dia de Praia (Lagoa de S. André)






O Alentejo tem uma faixa costeira enorme, com praias intermináveis de areia branca e mar azul. Para fazer inveja aos compadres que estão a trabalhar com este calor, aqui fica a reportagem dum dia bem passado na Lagoa de S. André (Santiago do Cacém)...
Bons mergulhos !....

sábado, 26 de julho de 2014

Oficina e Museu de Mestre Jorge (Santiago do Escoural)













Este espaço é a oficina e também o museu privado de Mestre António Maria Jorge, em Santiago do Escoural.
Homem muito habilidoso, Mestre Jorge passa os seus dias a fazer objectos que representam o Alentejo Rural que conheceu. As suas obras transportam-nos a outros tempos e são testemunhos autênticos da dedicação e entusiasmo que este artesão tem pela sua terra...
Mesmo no centro da vila do Escoural, esta pequena exposição de muito valor etnográfico vale a pena ser visitada....

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Feira do Chocalho em Alcáçovas, um pouco de história...

Privilégio importante e particular, que existia no período medieval para o desenvolvimento das feiras, era a isenção de pagamento de alguns direitos fiscais, que eram concedidos a determinadas feiras que passariam a denominar-se de “feiras francas”.
Até aos séculos XVIII/XIX, a utilidade das feiras, não dependia somente do factor económico, era também factor de aproximação das pessoas, separadas pelos seus lugarejos. De facto as feiras proporcionavam àqueles que estavam, grande parte do tempo isolados no seu canto e privados de uma vida social, o ponto de contacto com o resto do mundo.
A antiga Feira das Alcáçovas que se realizava, onde é hoje o Jardim Público, não diferia em quase nada do contexto atrás referido. Conhecida também pela “ Feira da Conversa”, em toda a primeira metade do século XX, este evento atingiu grande importância a nível regional e mesmo nacional. Vinham ourives do Norte e do Algarve vinham os feirantes vender alcofas. De Évora, vinha o Capadinho vender sapatos, e para tirar fotografias vinha o Sarmento, que chegava a estar nas Alcáçovas oito dias após a feira terminar. As barracas das farturas, ficavam ao lado da antiga Casa do Povo e as barracas de tiro, ficavam do lado de lá da antiga escola. Sempre com um concerto pela banda de música da Sociedade União Alcaçovense, o resto dos espectáculos ficavam a cargo da Companhia Rafael de Oliveira.
Já na segunda metade do século XX, toda a evolução que se assistiu nos meios de transportes, progresso das comunicações, a introdução dos plásticos, bem como outras novidades, foram factores mais que suficientes, para mudar os usos e costumes das comunidades rurais e a Feira de Alcáçovas não foi excepção. O tempo em que tudo era genuíno e em que os namoros eram feitos entre janelas e postigos, dificilmente voltará à Vila de Alcáçovas e com certeza mesmo, será impensável, a Feira de Alcáçovas voltar ao espaço do Jardim Público. No entanto toda a identidade e memória que caracteriza a população de Alcáçovas, não pode ser esquecida, correndo-se o risco de ser criada uma vila sem personalidade, sem história e sem alma. Nesse sentido é um dever que nos assiste a todos, continuar a valorizar este importante evento na Vila de Alcáçovas que já atravessou gerações, actualmente como Feira do Chocalho.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Rota Vicentina, da Zambujeira do Mar a Odeceixe.








Odeceixe abre-nos as portas do Algarve, a primeira aldeia algarvia depois das terras do Alentejo.
Encostada a uma colina, as suas ruas são estreitas com casas rurais, na sua maioria caiada de um branco imaculado. A Ribeira de Seixe, sendo esta uma das ribeiras que têm água durante todo o ano, permite a proliferação de muita vegetação, assim como a existência de espécies autóctones na fauna e na flora.



Fotos gentilmente pelo compadre Luis Peixoto.