quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Convento de Nª Sra da Esperança (Alcáçovas)

Autor desta foto: Francisco Rasteiro



Coordenadas: 38°24'12.24"N  8°11'40.46"W
Alcáçovas, Viana do Alentejo
O Convento de Nossa Senhora da Esperança teve origem na ermida manuelina de Nossa Senhora da Esperança, erigida no alto da serra de Alcáçovas. 
Foi fundado no século XVI e pertenceu à Ordem de São Domingos. 
A torre foi construída em 1684 e apenas conserva um dos seus sinos de bronze datado de 1743.
O Projeto Alcáçovas Outdoor Trails organiza regularmente caminhadas a este local, situado a cerca de 4 kms da vila...

Informação copiada do blogue: http://portugalpontoporponto.blogspot.pt/

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A Lenda do Relógio de Aguiar


HISTÓRIA DO RELÓGIO DE AGUIAR
(Contada pelo Professor José Hermano Saraiva)

"Aguiar teve foral e por isso é vila e conta-se uma história em Aguiar, é uma história maliciosa e eu começo por dizer que é uma história que nunca aconteceu, não, ninguém se ofenda porque esta história por mais pitoresca que possa parecer nunca foi verdade.
Bom, a história relaciona-se com aquele relógio, estão a ver aquele relógio da igreja. Este relógio está a dizer ali que foi inaugurado em 1900 e cinquenta e tal, mas antes deste havia um outro, tem lá dentro a maquinaria, é quando apareceram os primeiros relógios, e a história que alguém contou foi esta. O padre que cá estava disse “ah, a gente precisava dum relógio, aqui ficava bem nesta igreja um relógio, porque esta igreja é muito antiga,
isto, esta, isto deve ter sido uma antiga igreja românica, ainda com o seu campanário, portanto isto é uma coisa com centenas de anos! Ficava aqui bem um relógio!” e pediu a toda a gente aqui da freguesia “dê qualquer coisinha para o relógio!”. Todas as famílias contribuíram com uma certa quantidade de dinheiro, e o padre saiu, foi a arranjar o relógio.
Andou por lá muito tempo, muito tempo, até que mandou um grande caixote a dizer “ai vai o relógio!” e juntou-se toda a gente ai, toda a gente, para ver o relógio, e diz, agora é a parte maliciosa da história, diz que aqui as moradoras diziam muito contentes “olha que, olha que o meu marido também ai tem parte, o mau marido também, também pagou, também ai tem parte! Também ai tem parte!”. Então não é quando se abre o caixote o que lá estava era uma colecção de cornos de boi, eram centenas que o homem tinha andado a comprar pelos talhos, havia cornos para toda a gente. Bom, esta história que evidentemente foi contada por alguém que queria, ridicularizar, queria ridicularizar aqui esta gente honrada do Aguiar. Talvez na altura em que o Aguiar deixou de pertencer ao concelho do Alvito, passou a pertencer ao concelho de Viana e isso originou uma, uma situação de tensão e de rixas. Pois apesar disso a história foi acreditada, e é verdade, é verdade que aqui há cem anos quem passasse por aqui, se encontrasse um morador não lhe podia perguntar “olhe lá que horas são? Porque os velhos moradores acreditaram na história e consideravam-se ofendidos se lhes perguntassem pelas horas, porque é claro perguntar pelas horas era falar em relógios, falar em relógios era, enfim, ofendê-los na sua dignidade. Eu acho muita graça, sobretudo ao facto da história tão absurda, ter sido acreditada, mas é curioso que na História de Portugal há imensas histórias que nunca aconteceram e em que toda a gente acreditou. Por exemplo, o milagre de Ourique, então, pois a bandeira nacional conta as, as armas que Nosso Senhor disse ao D. Afonso Henriques que havia de pôr na bandeira e ainda hoje elas lá estão na bandeira. As Cortes de Lamego, temos a certeza de que nunca houve as tais cortes de Lamego, pois durante séculos era o facto fundamental da tradição politica da monarquia portuguesa. O regresso de D. Sebastião, temos a certeza que o D. Sebastião nunca há de voltar, coitado, pois mataram-no e enterraram-no, como é que havia de voltar. Pois milhões de portugueses acreditaram no regresso de D. Sebastião. Isto impressiona-me, então como é que os portugueses acreditam nestas coisas, há tanta coisa que é verdade, e em que ninguém acredita, e tanta coisa em que toda a gente acredita e nunca foi verdade."



segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Macrofotografia no Alentejo II (By Paulo Caldeira)









Felizmente, o Montado Alentejano, um eco-sistema perfeito, ainda não foi completamente eliminado e destruído por agro-químicos provenientes das culturas intensivas, tais como a do olival de crescimento rápido, a do eucalipto ou a das vinhas para produção de vinho alentejano...
Assim sendo, algumas zonas do nosso Alentejo, que são autênticos refúgios naturais para as espécies animais e vegetais autóctones, continuam a ser destinos perfeitos para pessoal interessado em fotografia de natureza e observação de aves.
Hoje, partilhamos convosco algumas das Macros que o nosso compadre e amigo Paulo Caldeira conseguiu obter ao longo das caminhadas do Projeto Alcáçovas Outdoor Trails.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Feira do Montado (Portel)








A Feira do Montado é um certame organizado pela Câmara Municipal de Portel que conta já com dezasseis anos de existência. Nasceu em 2000, de uma vontade determinada de aproveitar uma das maiores potencialidades do concelho de Portel - o MONTADO.

A Feira do Montado é uma iniciativa que tem contribuído para a promoção e valorização do montado, trata-se de um acontecimento de importância económica, ambiental, cultural e científica, de âmbito nacional e internacional.

Durante os cinco dias da feira, expositores de diversas empresas do sector florestal, especificamente do sector da cortiça, dos agroalimentares, restauração e do comércio em geral, tiveram oportunidade de promover e comercializar os seus produtos e desenvolver oportunidades de negócio.

A par das diversas exposições promovidas pelas várias entidades, a Feira do Montado, mais uma vez, procurarou mostrar os melhores produtos do Montado, o que de melhor se produz no Alentejo.


Este ano, decorreu entre os dias 30NOV e 04DEZ e as fotos que partilhamos são da autoria do nosso compadre e amigo João Ferro.
Texto copiado e adaptado. Fonte: C.M. Portel.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Herdade das Murteiras (By José Moço)









Em 18JAN14, o Projeto Alcáçovas Outdoor Trails organizou uma caminhada entre S. Bartolomeu do Outeiro e a Herdade das Murteiras (Torre de Coelheiros).
Estas fotos são da autoria do nosso compadre e amigo José Moço.
Para mais informações sobre a Herdade das Murteiras: http://fundacaoeugeniodealmeida.pt/murteiras/homepage.asp

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Já é Natal em Beja !...














Já é Natal em Beja !...
No centro de cidade, um pequeno mercado de Natal fez as delicias de crianças e adultos...
Aproveitamos a oportunidade para desejar a todos os seguidores deste blogue um Feliz Natal e Próspero Ano Novo !...

Fotos da autoria do nosso compadre e amigo João Ferro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Teresinha Noiva Linda


Na Terra as manhãs são límpidas. Tocam os sinos a marcar as horas. A luz e o som entram pelas casas, pelas frinchas das portas e das janelas e pelos intervalos dos postigos. As cortinas de renda ondulam levemente, quase sem o fazerem, aos primeiros sopros da brisa da manhã. Ouve-se o som de uma cancela de madeira a arrastar e os pássaros fazem piados lentos e bonitos para dedicar às primeiras horas do dia e aos homens madrugadores. Dentro em pouco subirá no ar o cheiro das fatias fritas, do café fervendo, da lama assente nos caminhos a secar aos primeiros raios de sol.

  Pela estrada velha, a única na Terra antes dela o ser, sobe-se ao Monte, o lugar único onde tudo começou, abençoado pela água sob a forma de uma ribeira que lhe corre por dentro e que o faz senhor de tudo quanto o rodeia. 

  Teresinha não sentia que habitava o Monte mas antes que este a tinha engolido quando criança e que vivia presa nas suas entranhas, qual Jonas na barriga da baleia. Vivia uma existência abúlica, de mão no queixo, cabeça nas nuvens, olhos muitos vezes cerrados ou levemente húmidos por conta dos sonhos acordada ou dos inúmeros bocejos. Vestia vestidos de algodão leve e rendas, sapatinhos de pele importada, o cabelo em canudos estrategicamente presos com laçarotes de cetim. Palavras bem medidas, aulas de costura, Francês e Religião com as freiras da vila e de doçaria com a Ti Inácia na cozinha, Teresinha parecia uma santa ou uma boneca na caixa, com a corda nas costas, ainda virgem, pronta a ser puxada para que andasse e falasse como era esperado que fizesse.

Teresinha era pois, facto consumado, um lindo vulcão bem vestido e penteado, adormecido. Acordava todas as manhãs e inspirava profundamente o primeiro ar frio do dia com esperança de que se enchesse tanto de ar que talvez ficasse leve e flutuasse, voasse por cima dos muros altos do Monte, do olival e da vinha que se estendiam numa área infinita para lá da sua janela.

  Teresinha odiava com um amargor não suspeitado, o servilismo forçado das criadas. As constantes tentativas para lhe tentarem perceber todos os sinais, tiques e toques, à mesa, na cama, portas adentro, antecipando-a, acreditando que isso sim, era bem servir. Todos os dias recomeçava Teresinha uma batalha com o seu lar, de gente que não lhe estava próxima do coração ou sequer que a tocasse ao de leve na pele, via rápida para os sentimentos.

  Às vezes vinha a Dona Laura, professora da escola primária, para tomar chá e bolinhos e a conversa revolvia invariavelmente ao redor das crianças miseráveis da Terra, de barrigas vazias mas de peito cheio, trazidas à escola pela mão das avós ou dos irmãos mais velhos ao toque da sineta. Mais tarde, à porta do Monte acumulavam-se muitas vezes essas mesmas crianças, andavam "à pida", quilómetros a pé e em bando, implorando de porta em porta, por um aconchego para o estômago, alguma coisa que engrossasse o caldo magro que recebiam nas suas casas à noite.

  Teresinha dava-lhes tudo o que aparecia, sacos de nozes, potes de mel, metros de tecido, qualquer coisa, sem pensar a quanto nem porquê. As criadas impacientavam-se, que tudo isto lhes desorganizava as contas e o avio. Quanto ao pai e à mãe, não se opunham, alguma coisa teria de ter Teresinha com que se ocupar até que se casasse, ou não? Manuel Augusto e João Bernardo, seus irmãos mais velhos, lá estavam, cada um na sua vida, um engenheiro na capital e o outro, senhor de terras ainda mais a Sul, um deus ganadeiro que prometera a seu tempo, trazer marido para a irmã mais nova, um homem direito, como ele próprio, outro pequeno deus que pudesse transferir calmamente a sua irmãzinha da barriga da baleia para a boca do lobo.

  Uma ocasião, voltou atrás um desses gaiatos que andavam de monte em monte, dia após noite. Chegou já ao final da tarde, pouco faltava para a hora da ceia e envergonhado, pediu à criada da cozinha para falar com a Menina Teresinha. Mandava-o seu pai, homem novo mas viúvo que por conta de um feitio inquieto e bravio, já não tinha parança em trabalho algum sob a alçada do senhor do Monte. Devolvia com muitos agradecimentos a nota alta que lhe mandara a menina, que dinheiro não, não precisava, só de trabalho e de comida para a boca.

  "- O teu pai sabe ler?" indagou Teresinha ao gaiato. Que sabia, que, filho do único sapateiro da terra, tinha podido fazer até aos estudos liceais e que mais não fizera porque se lhe foram os pais na mesma altura e que tinha tido de começar a trabalhar. Não contava porque não sabia que pela mesma época, engravidara a sua mãe e que teve de fazer um casamento apressado, mal tendo onde viver e o que comer e pouco gozando da alegria de ter uma mulher que esta também se finou no parto do seu menino. Zé do Diabo o passaram a chamar. 

  Pois mandou-lhe Teresinha uma mensagem no papel perfumado de carta que tinha na mesinha de e no qual redigiu tantos outros bilhetes que se seguiram a este, com o mesmo destinatário. Perdoasse pois o Sr. José a insolência, se lhe causava mau estar, que havia mandado o dinheiro ao menino pois as criadas adivinhando a vinda dos gaiatos, lhe haviam sumido com tudo da frente e trancado a despensa com a desculpa dos ratos e que com dó de ver os meninos saírem do Monte de mãos vazias, passara a cédula para a mão do Alvarito (assim se chamava o menino) que lhe parecera o mais ajuizado, para que a repartisse com os seus companheiros.

  Desculpas aceites, o Zé do Diabo não podia consentir que a menina Teresinha pensasse pois que, pobre ninguém, se tomara de ofensas por teimosia em questão tão miúda. Bilhete veio, bilhete foi, passou-se um ano na vida do pequeno Álvaro em que a missão de levar e trazer palavras do Monte à Terra e pelo mesmo caminho de volta, era mais importante do que saltar ao arco ou jogar à malha no Largo do Poço. 

  Pela Festa de Verão viu-se o Zé do Diabo pela primeira vez pisar a casa de Deus na Terra, igreja adentro, fato novo, botas engraxadas, quase um desmaio ao ver Teresinha, santa e vulcão, pisando discreta o caminho do altar para comungar. Acabada a festa, foi um ar que se lhes deu aos dois. Antes, aos três. Em cima da cama no Monte, as rendas, os laços, a mãe lavada em lágrimas, os ecos dos gritos do pai e dos irmãos, jurando matá-los ou renegá-los se não o conseguissem.

  Fez-se uma nova Terra noutra Terra em que Teresinha se fez do Diabo, em que se permitiam ser vulcão e ribeiro manso, uma santíssima trindade de trabalhos, de risos, de dias difíceis e completos. Em que um Homem é Homem no sagrado da sua casa, da sua própria Terra.

Texto da autoria da nossa comadre Ana Terra, copiado do seu blogue: 
http://aterradaana.blogspot.pt/