quarta-feira, 30 de abril de 2014

Saudades de Agosto...


 Agosto, como se sabe, cheira a maçãs. Não é de menosprezar no entanto o aroma doce e o gosto quase a mel, dos melões maduros, a casar bem com o pão, juntos a comporem o todo de muitas refeições estivais. Piqueniques sim, mas não na relva. Por vezes na eira, entre pilhas de cereal, ladeados de tábuas e telhas onde secam figos e uvas, frutos a fazerem-se passinhas que irão animar os Natais que hão-de vir. Outras vezes, as mais das vezes, nas soleiras das portas, jantando fora ao estilo dos da Terra.
  Em Agosto há Nossa Senhora, mãe dos que ficam e dos que partindo, regressam ao seio dela para a festa todos os anos prometida. Em Agosto há massa frita cujo cheiro no ar se entranha nas narinas e nas paredes das casas em volta, chamando os de dentro em pungente sedução; o trabalho abranda; o sol amolece e os dias prolongam-se. É o mês das penitências e redenções, mês de Maria e das Marias que por cá são mais do que é possível contar.

  Agosto cheira a velas derretendo, se não com a chama viva, com o calor indolente. Cheira a incensos nos altares em abóbadas sagradas onde todos os segredos ecoam. Num dia que são os dias todos, no ar, cá fora, rebentam foguetes, caem lágrimas de pólvora e fumo, espalham-se as canas nos campos, a servir de jogo improvisado para os gaiatos que hoje podem sê-lo, sem mais delongas.

  Os homens saem à frente, aos primeiros gemidos de uma concertina ou momentos antes do primeiro golpe da baqueta na pele do tambor ou do bombo. Seguram os andores em respeitoso silêncio. É na dianteira das procissões que os rapazes se transformam em homens, os homens em santos, os fardos da vida em padiolas rendilhadas e com perfume de rosas.

  Saem as mulheres, de mantilhas cobrindo-lhes o rosto, os ombros; as saias tapando as canelas e deixando cuidadosamente os pés descalços à vista clara de quem passa e de quem fica. Os pés fazem o seu próprio desfile de dores, exibem orgulhosos, os cortes profundos, os calos e as feridas das suas donas para quem este caminho não é sequer uma pequena parte de outras procissões que são diárias, de jornas contínuas de sacríficio.

  Meninos e meninas vestem de branco, confundem-se em género debaixo das túnicas compridas salpicadas de cera barata dos círios, reciclados de outros anos. Pequenos reis e rainhas, anjos simulados de coroas leves, halos de luz. Pequena mostra de glória para quem nunca tem rosto, senão hoje.

  Toca a fanfarra da Terra ou de outra que lhe seja vizinha, que às vezes a pequenez do território não justifica tal extravagância. Soam notas dispersas no ar. Ecoam nos campos, áridos e envoltos em poeira de tons amarelados onde só se divisam as pontas das espigas nos trigais, indicando o lugar do Céu no qual poucos cá na Terra, querem crer. O ar está parado, o horizonte treme num calor nervoso, tenso, que às vezes faz stalar trovões lá longe, sem que faça chover, como chicotadas no dorso da Terra.

  Na calidez da tarde, ressoam os cânticos das mulheres, os coros das crianças de vozes fininhas, inacabadas e um ou outro homem a tirar primeira e a dar o mote. Às vezes há um padre que reza em voz alta, uma igreja para onde dirigir os passos, mas essas não são condições essenciais para a devoção dos da Terra. O Amor basta-lhes. O Amor que é o cheiro dos melões a amadurecer debaixo das chaminés apagadas; o odor da massa frita com polvilho de açúcar e canela. O Amor que é o silêncio absoluto, o segredo sublime que reside no meio do vazio e das lonjuras em que nada interfere na comunicação dos da Terra com o seu Deus. O Amor que é o de todas as Marias, as Senhoras Nossas das Dores, do Leite, da Boa Viagem, das Agonias, e que não são mais do que o rosto das mulheres que a personificam debaixo deste sol.

  Agosto rima com Amor cá na Terra. De uma maneira ou de outra. Faz-se para que perdure nos Invernos em que ninguém quer pensar até que cheguem. Agosto é o Ano Todo. Na memória dos regressos e dos cheiros. Na permanência desse Amor inspirador de mães para filhas e de homens para meninos. Vive no restolho, no chão difícil, no cantar das ribeiras e no ir e vir da roupa às pedras; na voz do mestre escola a ensinar ladainhas que se repetem mais por jeito de obedecer do que de saber.

  Em Agosto tudo dobra. A vida que parou e estagnou, expectante, esperando a época dos trabalhos, solta os seis sentidos em Agosto. E isto basta aos nossos para fechar um ciclo, para saber que a estrada se faz e que a Terra gira. Sempre que há sol, sempre que ele queima, volta A gosto.

Copiado do Blog da nossa comadre Ana Terra: http://aterradaana.blogspot.pt/

terça-feira, 29 de abril de 2014

Bolo Real (Alcáçovas)

Por todo o Alentejo é frequente encontrarmos bolos e doces cujos sabores estão vincados á região, uns de origem dita conventual, outros de origem incerta, do tipo "Já as minhas avós faziam assim.."
É o caso do Bolo Real, de Alcáçovas.
Após alguma pesquisa junto das doceiras, foi-nos indicado a mais experiente de todas, a Dª Maria Carolina Matado.
A atividade de doceira começou de forma curiosa: Tinha com o marido uma mercearia em Alcáçovas e o negócio não andaria a correr pelo melhor. Um dia fez um tabuleiro de queques para a filha levar  de viagem, mas esta optou por não os levar e a Dª Carolina colocou-os á venda na sua mercearia. Vendeu-os todos e pensou que esta poderia ser uma forma de ajudar o negócio e assim foi.
Entretanto, terá ouvido falar do Bolo Real a algumas senhoras da vila e com dicas de uma e de outra lá se aventurou a fazer um Bolo Real, que é uma receita complexa. E tornou-se eximia na sua confeção...
Este bolo não é um doce conventual apesar do nome. É uma receita do Povo, que ia passando a receita de boca em boca. Como era um bolo muito caro normalmente era oferecido aos padrinhos de casamento pelos pais dos noivos, mas quase nunca era de grande tamanho...
Naquele tempo não havia fábricas de doçaria, mas quem se dedicava a este negócio tinha algumas miúdas fazendo os bolos e que também andavam pelas ruas com umas caixas de madeira penduradas ao pescoço com correias a vendê-los de porta em porta.
E quem os comprava eram geralmente as pessoas de maiores rendimentos.
Foto: Dª Maria Carolina Matado.
 
Texto retirado do livro: Tradição por Terras Dentro.


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Caminhada no Torrão (26ABR14)













No passado sábado, dia 26ABR14, a Associação dos Amigos de Alcáçovas, através do Projeto Alcáçovas Outdoor Trails organizou uma caminhada gratuita no Torrão, em parceria com a C.M. Alcácer do Sal e da Junta de Freguesia do Torrão.
Com cerca de 75 participantes, percorremos os arredores desta bonita vila alentejana, observando muitas das suas belezas naturais e patrimoniais.
Agradecemos o apoio prestados pelos nossos guias locais, o Cédric, o Paulo Selão e o Sr. Idalécio, á GNR do Torrão, sobretudo ao Sargento Carvalho, ao Cabo Ribeiro e ao Guarda Duarte, ao Presidente da Junta de Freguesia, Sr. Virgilio Silva e á C.M. Alcácer do Sal, sobretudo ao Nuno Pestana e á Ana Mendes.

Fotos gentilmente cedidas pelas comadres Florbela Vitorino, Patrícia Magalhães e pelos compadres Paulo Caldeira e Mário Gonçalves.

Link para visualização do blog do nosso compadre Paulo Selão:
http://pedra-no-chinelo.blogspot.pt/2014/04/caminhada-junta-dezenas-de-pessoas-no.html

domingo, 27 de abril de 2014

Para palavras loucas, orelhas moucas...



Há uns tempos, uns dignissimos senhores engravatados, num qualquer gabinete com ar condicionado, dedicaram o seu bem pago tempinho a fazer leis e normas para favorecer lobbies de multinacionais, em nome dum suposto progresso: A proibição de vender produtos da horta sem estar devidamente legalizado foi uma dessas parvoíces.
Então, os nossos velhotes para poderem vender umas couves ou umas abóboras lá do quintal, têm de ser empresários?
Essa não lembra ao diabo...
Pois bem, eu assumo que vou continuar a comprar produtos aos meus vizinhos, pois é uma forma de ajudar quem realmente precisa de alguns trocos. Levem-me preso, se quiserem...

Já nos dizia Albert Cossery, filósofo egipcio (1913-2008):
"Não hão-de tardar muito, afianço-te, a dar cabo deste vale fértil e a transformá-lo num inferno.
É isso a que chamam progresso. Nunca ouviste esta palavra ?...
Pois fica a saber que quando alguém te falar de progresso, é porque quer escravizar-te..."

O cultivo dos paladares genuínos e do prazer de comer, consonantes com o respeito pelo meio ambiente e com a preservação dos usos, costumes e tradições, levaram-nos ao projecto Pequenos Produtores Portugueses

o esqueçamos que ao consumir produtos locais contribuímos para a promoção da biodiversidade, para a sobrevivência das espécies autóctones, dos sistemas agrários que as exploram e das próprias comunidades rurais.

A nossa maior riqueza, os nossos produtos!
Em defesa dos consumidores e dos produtos nacionais.

Pequenos Produtores Portugueses
https://www.facebook.com/pequenosprodutoresportugueses

sábado, 26 de abril de 2014

Estação de Alcácer do Sal





Inaugurada a 20 de Maio de 1920, a Estação de Alcácer do Sal foi um importante interface da Linha do Sul, pois além de passageiros, permitia escoar também muitas das mercadorias produzidas nas localidades em volta, contribuindo para o progresso desta área do Distrito de Setúbal.
Actualmente, encontra-se quase desactivada...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O 25 de Abril e o Monte do Sobral...



Na estrada que liga a pequena vila de Alcáçovas a Viana do Alentejo, bem no coração do Alentejo, surge-nos o encantador Monte do Sobral.
O Monte do Sobral é um típico monte alentejano, actualmente com cerca de 4ha, mas que em tempos encabeçou uma propriedade agrícola com cerca de 2.000ha.
Os vários edifícios, hoje dedicados á actividade turistica, resultam da recuperação das antigas casas e assento de lavoura que em tempos davam apoio à extensa actividade agrícola da Herdade do Sobral.
A decoração é rústica e típica da região, recorrendo a elementos decorativos e materiais tradicionais, mas sem descurar o conforto dos dias de hoje. Todos os alojamentos do Monte Sobral são independentes, e estão equipados com lareira.
Uma piscina, coberta e aquecida, uma sala de jogos, com snooker, matraquilhos e ténis de mesa, e um parque infantil fazem as delícias de miúdos e graúdos. Existe ainda um campo de badmington e um picadeiro descoberto bem como várias actividades complementares como: campo de tiro aos pratos e com arco e flecha, cavalos para passeios no campo e kayak ou canoas para passeios na barragem e refeições mediante solicitação.
O Monte do Sobral está também ligado à história recente de Portugal, pois aqui se realizou, em 9 de Setembro de 1973, a 1ª reunião do movimento de capitães que viria a dar origem ao 25 de Abril de 1974.
A curta distância de Évora, cidade património da Humanidade, Alcácer do Sal, Montemor-o-Novo, Alvito, Portel, entre outras, o Monte do Sobral é um convite à descoberta do Alentejo profundo.

A Associação dos Amigos de Alcáçovas, através do Projeto Alcáçovas Outdoor Trails vai organizar no próximo dia 10MAI uma caminhada circular gratuita de Alcáçovas até ao Monte do Sobral, percorrendo parte da antiga Canada Real, a rota da Transumância que ligava Alcáçovas a Viana do Alentejo.

Fotos gentilmente cedidas pelo nosso compadre José Manuel Costa e pela comadre Paula Amado.
Cartaz da autoria do compadre Samuel Silva.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ermida do Senhor da Pedra (Alcáçovas)





Ao sul do Convento de N.ª Sr.ª da Esperança e no sopé do monte da Esperança ergue-se esta ermida, edificação ulterior a 1758 que assinalava, desde o século XVI, segundo se admite, a localização do Cruzeiro do mosteiro. Aqui se encontravam, processionalmente, os fiéis das diversas confrarias laicas, quando das peregrinações regionais.
O templete encontra-se dentro da cerca religiosa, defrontando um velho arco de tijolo, redondo, antigamente engalado por acrotérios pinaculares e cruz central.
Edifício de linhas singelas, de alvenaria, tem frontaria apilastrada, portal e janelinhas graníticas e frontão circular, ladeado de pirâmides truncadas e falsa arqueta axial. A cabeceira é de forma semicircular, coberta por telhado de linhas radiadas.
O interior compõe-se de modestíssima nave de planta rectangular, com tecto de meio canhão e alçados lisos, caiados de branco. Lateralmente rasgam-se dois nichos vazios, e o altar-mor, aberto por arco mestre redondo, decorado pelo emblema domínico, é concebido num vão de cilindro cortado, apenas composto pelo cruzeiro da primitiva ermidinha de N.ª Sr.ª da Graça, obra marmórea assente em fustes de capitel jónico.
O Calvário, de pedra mais fina e bem esculpida em alto-relevo, é solidário com a cruz de meias canas, recoberta por pontas de capuchos entrançados, obra bem definida do espírito regional tardo-manuelino e da época de D. João III.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Cais Palafitico da Carrasqueira









Situado junto ao Rio Sado, este é o maior cais palafitico da Europa...

 A Carrasqueira é uma aldeia do Concelho de Alcácer do Sal e localiza-se na Reserva Natural do Estuário do Sado…um dos seus pontos de interesse é o seu Cais Palafítico e esta é a história que poucas pessoas conhecem e que teve início 30 anos atrás…

Os habitantes da aldeia da Carrasqueira dividem a labuta diária entre a faina do mar e o amanho da terra. A primeira pesca foi a apanha de amêijoas de cabeça (que eram vendidas a pessoas que se deslocavam à aldeia e aí as compravam).
Nesses tempos não haviam balanças, pelo que eram utilizadas latas de meia arroba para servir de medida. Depois as pessoas começaram a comprar ostras. Foi esta pesca que trouxe um grande desenvolvimento à Carrasqueira. Pelo que houve a necessidade de arranjar condições para acolher o crescente número de pescadores e respectivas embarcações.
E para que a pesca fosse possível, importava criar um acesso à água que não ficasse condicionado ao vai e vem das marés. É que, em situação de maré cheia a água atingia e às vezes galgava o “muro de maré” que defendia os terrenos agrícolas, para depois recuar na maré vazia algumas dezenas, senão centenas, de metros, entrepondo uma barreira de lodo entre a terra e a água.

As origens do Porto
Assim, escolhida que foi a melhor localização, no final de uma vala de drenagem dos terrenos agrícolas, dois pescadores lembraram-se de espetar uma estaca na borda do muro e puseram umas tábuas por cima para passarem. Os pescadores foram-se assim juntando dois a dois, constituiriam o seu bocado, espetavam mais estacas adiante do que estava e punham tábuas por cima, sendo que cada pescador atracava os barcos no seu lado. Este foi um processo evolutivo que prolongou o emaranhado de estacas e tábuas por centenas de metros.

Isto passou-se nos anos 50/60 e os pescadores eram poucos então. Reconhecendo no Estuário um manancial de riqueza tão próximo, as populações locais foram evoluindo no seu aproveitamento, abraçando cada vez mais a pesca como actividade mais lucrativa, mas sem abandonarem por completo a agricultura (a agricultura era a actividade dominante, enquanto a pesca inicialmente não era mais do que um complemento dos parcos rendimentos que a agricultura de latifúndio permitia aos trabalhadores).
E assim nasce o Cais Palafítico da Carrasqueira, que é hoje um dos locais mais visitados do concelho de Alcácer.


Fotos gentilmente cedidas pelo compadre Luís Peixoto.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Caminhada em Aguiar (01MAI14)

 
Os nossos comadres do Grupo Cultural e Desportivo de Aguiar organizam pelo terceiro ano consecutivo a Caminhada do dia 1 de Maio, seguida de almoço. Esta caminhada gratuita começa em Aguiar, ás 09H00 e percorrerá os trilhos do Montado até ás Termas da Ganhoteira, perfazendo cerca de 13 Kms. Quem quiser ficar para o almoço-convívio, terá de se inscrever previamente e pagará 6 Euros. (bebidas á parte).
As inscrições para a Caminhada de 1 de Maio já se encontram abertas.
Podem inscrever-se na Biblioteca de Viana do Alentejo, Biblioteca das Alcáçovas, Biblioteca de Aguiar, Loja da Joaquina em Aguiar ou através do Nr de Telefone 967639560.

Passeio em Borba (27ABR14)


domingo, 20 de abril de 2014

Caminhada no Torrão (26ABR14)


Numa parceria entre a Associação dos Amigos de Alcáçovas (Projeto Alcáçovas Outdoor Trails), a Câmara Municipal de Alcácer do Sal e da Junta de Freguesia do Torrão, vai realizar-se no próximo dia 26ABR14 uma caminhada gratuita na vila do Torrão, inserida no programa dos festejos do 40º Aniversário do 25 Abril.
Num percurso de cerca de 10 Kms, percorreremos a Rota das Ermidas, visitando a Ermida do Bom Sucesso e a Ermida de S. João Baptista. Depois, vamos conhecer os trilhos junto ás margens do rio Xarrama e da albufeira da Barragem de Vale de Gaio. Tragam farnel, pois faremos picnic no campo.
E, da parte da tarde, vamos visitar o Museu Etnográfico do Torrão e algumas das igrejas desta vila alentejana.

sábado, 19 de abril de 2014