terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Adeus 2013...

E assim nos despedimos de 2013.
Somos um povo forte, habituado desde sempre a resistir a pragas e fomes, a conquistadores e a maus governantes e só assim é possível termos quase mil anos de história como nação independente.
Quantas naus foram ao fundo? E nós sempre fomos mais além ...

As aldeias e vilas do interior estão a ficar cada vez mais desertificadas. É urgente atrairmos jovens para as povoarem, criando condições para que não tenham de emigrar.
Divulgar e promover o património material e imaterial, dignificar as populações, os seus hábitos e tradições, incentivar a vinda de visitantes através de caminhadas e passeios culturais é uma aposta que poderá dar frutos nas pequenas e aldeias e vilas do interior de Portugal...
Havemos de dar a volta a isto brevemente, basta que todos os portugueses consumam produtos e escolham destinos portugueses...
Desejamos a todos um 2014 mais Próspero, com muita força vontade para vencer!...

Foto: ESTREMOZ - DIA DE MERCADO (1955).
Fotografia de Henri Cartier-Bresson (1908-2004).

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A Cozinha Alentejana


Na casa alentejana a cozinha era a divisão mais importante, funcionando como espaço social e de trabalho. Era o centro da confraternização familiar.
Local onde se comia, onde se contavam histórias, onde se discutia e onde se sonhava com um melhor futuro, mais desafogado e menos sofrido.
Nos serões alentejanos toda a família se reunia em volta da lareira. O lume de madeira de azinho estava sempre aceso, com maior ou menor intensidade, consoante a época do ano.
Enquanto a mulher cozinhava ou fazia renda á luz do candeeiro a petróleo e as crianças brincavam, o homem ia avivando as brasas do lume.
Era este o cenário de conforto e união familiar o idealizado pelas famílias dos trabalhadores rurais, gente habituada a uma vivência de sacrifícios e que valorizava o mais singelo aconchego, a família reunida na cozinha em volta do agasalho da lareira.

Texto retirado do panfleto do Centro Interpretativo do Mundo Rural, Vimieiro.

Foto gentilmente cedida pelo nosso compadre Manuel Botas.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Em busca de Orquideas Raras



Neste sábado fui em busca da única orquídeas outonal de Portugal !
Os medronhos já convidam . . . .

                                 Finalmente a minúscula orquídea Spiranthes spiralis !!! 
 
Vista de cima também é visível a espiral que as flores apresentam  . . . .
                              Outros seres interessantes, mas ficam para outras postagens . . . . .

 No alto da serra voavam os Grifos !!!

                 Mais uma tarde bem interessante, como todas que faça por esta serra  . . . .

               Copiado do blog do compadre Ivo Rodrigues: http://serra-da-adica.blogspot.pt/

sábado, 28 de dezembro de 2013

Raid Pedestre na Herdade das Murteiras









Em plena Serra de Portel, entre as aldeias de S. Bartolomeu do Outeiro e Torre de Coelheiros, a Herdade das Murteiras é uma área repleta de bons trilhos para pedestrianistas, onde nas paisagens tipicas do Montado Alentejano estão disseminados vestigios de antigas povoações paleoliticas...
No próximo dia 18JAN14, a Secção Outdoor da Associação dos Amigos de Alcáçovas (Projeto Alcáçovas Outdoor Trails) vai organizar uma caminhada gratuita nesta zona...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Cadeirinhas alentejanas recicladas...




Estas miniaturas de cadeiras alentejanas saem das mãos eximias do compadre António Guerreiro, artesão nas horas livres.
Começou por fazer experiências com os pauzinhos de algodão doce apanhados no chão na Feira de Alcáçovas e aos poucos, foi afinando esta arte. E depois, os caixotes de madeira, aqueles da fruta que costumam ir para o lixo, passaram a ser a sua principal fonte da matéria prima...
Pura Reciclagem de materiais, portanto...
E não há duas cadeirinhas iguais, têm todas um toque especial...
Este artesão local também faz trabalhos em cortiça e em madeira, tipicos do Alentejo.
Podem apreciar estes objetos na próxima Quinzena Cultural de Alcáçovas, onde o Artesanato Guerrreiro vai estar representado...

Contacto para encomendas:
Artesanato Guerreiro
(Alcáçovas)
266954290
966776813

Castelo de Montemor-o-Novo











O Castelo de Montemor-o-Novo é o recinto original da Vila medieval de Montemor-o-Novo. Conquistado aos Mouros por D. Afonso Henriques. D. Sancho I concedeu-lhe o 1.º Foral em 1203. A muralha terá sido reconstruída no reinado de D. Dinis. Nos séculos XIII e XIV administrava as freguesias urbanas todas com sede no interior do castelo: Sta. Maria do Bispo, Sta Maria da Vila, S. João e S. Tiago.
Progressivamente abandonado pela população a partir do Séc. XV; o Castelo conserva hoje importantes testemunhos da história medieval e moderna de Montemor-o-Novo: troços da muralha, Paço dos Alcaides, Igreja de Santiago, Igreja de S. João, Igreja de S. Maria do Bispo, Torre do Relógio, Porta da Vila, Torre e porta do Anjo, Torre da Má Hora, Convento da Saudação, entre outros.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Do café negro se faz o dia claro...


Do café negro se faz o dia claro. Nasce com os homens num estalido de língua no céu-da-boca, seco, amargo, pungente, a gritar ao mundo que o dia começou e é para se viver. Do café negro, dos negros, se fazem mil misturas mais ou menos puras, mais ou menos corruptas como os homens e as raças que são compostas por eles. Cá na Terra o café sabe a família também, às noites no lar, por dentro dele, a dois ou a muitos. Sabe a brasa apagada que se deitou no fundo da chocolateira para que se beba sem borras, sem terra. O café é companheiro, é fiel nos seus gostos e vai especialmente bem com o doce dos  bolos no serão mortiço ou com a firmeza do pão a acompanhar toucinho, o queijo quando os há, a qualquer hora. É caseiro o café da Terra. Não se bebe na rua. É convite para entrar e sentar à mesa já posta. É remate lógico de uma mesa nem sempre farta mas sempre bem rodeada de gente e de conversa. Em boa verdade, todos os que chegarem têm lugar à mesa. Ainda que a mesa não seja mais do que uma velha amassadeira onde mal cabe a tigela para todos comerem dela. Ainda que o caldo seja só um perfume de ervas e azeite em que se banham repetidas fatias de pão que se multiplica num milagre de casa. O café da noite nem bem café se chama. Traz com ele moídas, a chicória, a cevada, para dar gosto de cereal, encher barriga e aliviar o custo deste primeiro ouro negro. Vende-se em sacas de pano ou latões na venda, na mercearia e é medido em arráteis.
As memórias da Terra confundem-se com o aroma do café. No final das festas, em cima de tabuleiros de paninhos bordados, servem-no aos últimos convidados as mães das meninas-rainhas de vestidos coloridos. Servem-nos os que restam compostos, da família destroçada num velório que se prolonga invariavelmente, pela noite fora. Bebem-no os velhos e os novos, junto ao crepitar da lenha ou no que sobrou do borralho na lareira que é sala, que é divisão da casa. Haverá alguns que o beberão de manhã e os que o fazem não o deixam entrar sozinho quente, dentro do corpo. Vertem-no numa tigela e cortando com paciência o pão em pedaços mais pequenos que os dedos de uma mão, juntam-nos com um sopro de açúcar e algumas voltas de uma colher. O café dança nos salões de baile com as moças solteiras - que o vinho não é para elas. O café canta e chia nas cafeteiras de ferro em cima das trempes nos fogões. Chá é para doentes, café é vida, é urgência, é cheiro da terra também. 
Depois do café pousam-se as cartas de jogar, lavam-se as chávenas, deita-se a família e dorme a Terra.
Copiado do blog da comadre Ana Terra: http://aterradaana.blogspot.pt/
Foto gentilmente cedida pela comadre Maria Madalena Silva.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Feliz Natal


Os dinamizadores do Projeto Alcáçovas Outdoor Trails desejam a todos os nossos compadres e comadres frequentadores deste blog um Feliz Natal, repleto de Alegria e Paz...

E que, aos poucos, o Mundo se torne um bocadinho melhor...

Feliz Natal !...

Desenho gentilmente cedido pela comadre Luísa Gonçalves...

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Diabo dos Bolos...


O diabo entra no corpo da gente de mais de mil maneiras possíveis. Ter o diabo no corpo é pior do que passar-se para o lado dele de vez. Não há forma de saber ou aviso prévio quando o diabo do corpo se põe a jeito de lhe entrar o diabo dentro. E o pior é que quando ele vem e se instala, é já difícil saber o chegou primeiro, se o corpo, se o diabo que entrou nele. E há tantas maneiras de o ter dentro, como se o corpo fora um pomar rico em frutas doces e sumarentas ou um oceano pejadinho de peixe firme e luzidio.

Com bolos se enganam os tolos. É com bolos também que se enganam os que não se dizem gulosos, os que não podem ou os que não devem. Se são bolos, são doces, aligeiram os reveses dos dias tão amargos. São secos os bolos, são enxutos, ao contrário das lágrimas e do suor que caem por debaixo dos lenços, que escorrem pela aba dos chapéus. São bolos  do que há e do que não há: açúcar, só um nadinha, que as extravagâncias não são para os da terra. Do mel e da canela se faz a boca mais doce e só o limão, azedo e pungente, vem lembrar que não é tudo tão doce como se previa. O azeite faz a ligação do que não parecia alguma vez poder ligar-se.

Dos dias iguais uns aos outros, estrada acima,montes abaixo, nasce um ou outro que por ser de festa, se permite uma dentada mais doce. E embora a festa não dure sempre, o diabo dos bolos é que abrem o caminho ao diabo para entrar e comer-nos por dentro. E com os bolos vêm os bailes em sociedades de paredes de branco caiadas, de acordeão de som limpinho e sapatos a roçar sapatos, barrigas a encostar a barrigas, num vai e vem infinito de notas de música e promessas sussurradas ao ouvido.

Com os bolos vem o copo de licor quente, de poejo, de ginja,de tudo, a aguardente (a água ardente), o vinho do Porto de outras paragens é certo, mas que aqui assenta tão bem. Com os bolos vem esta vontade que seja tudo mais doce. Vem a revolta quando não os há, que a vida não se fez só para trabalhar antes mesmo que o sol se levante e continuando muito depois que ele desapareça. 

O diabo dos bolos apetecem sempre, mesmo quando o café se acabou na chocolateira junto ao lar e lá dentro só sobrar o resquício da brasa apagada. Com os bolos entram na gente as ideias que adoçam como o mel mas que trazem nelas um travo a vida real, como o limão. E nascendo e morrendo tantas vezes, os bolos vão deixando as suas migalhas, a vontade de provar mais, o direito de ter melhor.

Porque tanto bolo se amassou, que no corpo o diabo entrou.
Copiado do Blog da nossa comadre Ana Terra: http://aterradaana.blogspot.pt/

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Colher da Conversada


COLHER DE CONVERSADA.

Peça de arte pastoril em madeira (4,3 x 1 x 16,7 cm).
Colecção de Hernâni Matos.


Talvez esta colher não encerre em si própria, mensagens iniciáticas que passem pela descoberta de proporções áureas ou até mesmo mágicas, que nos possam guiar na descoberta da pedra filosofal. Se calhar, através dela não chegaremos nunca à descoberta do valor de “pi” ou de “g”. Provavelmente, ela não encerrará também em si, segredos milenares como os das pirâmides de Gisé ou das estátuas gigantes da ilha da Páscoa. Todavia, na sua integral simetria, cromaticamente realçada pelo vermelho e pelo verde da bandeira verde-rubra, ela revela-nos toda a ânsia de harmonia que atravessou a alma e animou a navalha dum construtor de sonhos, navegante do espaço e do tempo, na imensidão da charneca alentejana, ao qual se convencionou chamar pastor e do qual rezam os adágios:
- “Quem não tem que fazer, faz colheres”.
Harmoniosa simetria axial povoada por motivos geométricos e vegetalistas, finamente bordados. A geometria enquanto símbolo do equilíbrio tão necessário à vida harmoniosa e os elementos vegetais a representar a ligação à Terra-Mãe donde tudo provém. Ao fundo, dois rabanetes, metade raiz, metade folhas, metade terrestre, metade aérea. A sacro-santa ligação à Terra-Mãe e a ânsia de se libertar dela. As amarras ao material e a ânsia de libertação pela elevação espiritual.
Duas metades que são imagens espelhadas uma da outra, como se de almas gémeas se tratasse.
No eixo central da colher, unem-se os corpos cujos corações (rabanetes) palpitam e simbolizam o amor correspondido, que virá a ser consumado com os dois corações a palpitar como um só, já que a colher termina por uma concha, ela própria com a forma de coração.
Pela sua riqueza plástica e por todo o simbolismo vislumbrado, trata-se, sem dúvida, duma prenda que um camponês ofereceu à sua conversada, que na comunhão do amor perene, a terá usado e provavelmente ostentado com orgulho, como forma de selar a sua condição de conversada do ofertante. Quem sabe se este, porventura preso de amores por ela, não lhe terá dito na ocasião:
 
“O teu coração é lima,
O teu corpo é limoeiro,
Os teus braços são cadeias
Onde eu vivo prisioneiro.” [1]

BIBLIOGRAFIA
[1] – THOMAZ PIRES, A. Cantos Populares Portugueses, vol. II. Typographia Progresso. Elvas, 1905.




domingo, 22 de dezembro de 2013

O Ti Domingos e o seu cão Piloto


Foi numa deslocação ao Alentejo que conheci o senhor Domingos. Conheci-o naquela tarde e nunca mais o vi. É possível até que já tenha falecido; ele era já muito idoso nessa altura, mas não consegui esquecê-lo e ainda hoje o vejo apoiado ao cajado, uma manta rota sobre as costas curvadas, o rosto magro e cheio de rugas, a barba rala e aqueles olhos encovados, muito claros, que nos olhavam com uma expressão amiga, como se nos conhecêssemos há muito tempo e entre nós não pudesse haver segredos.
 Era pastor de uma herdade onde eu estava de visita, devido a uma actividade profissional que exerci numa empresa agro-pecuária como conselheiro, e foi o acaso de uma venda de gado que proporcionou o nosso encontro. Vendedor e compradores tinham decidido ir apartar as ovelhas para uma próxima feira e lá fui com eles ao monte, onde, próximo, o gado andava na pastagem.
 Pareceu-me que ele simpatizou logo comigo e enquanto os outros foram tratar do negócio ficámos os dois a conversar, ele apoiado no cajado, eu encostado num chaparro à sombra. Ao começo pouco dissemos. Falou-se do tempo, do gado, das crias, mas a conversa parecia a cada momento emperrar. Habituado à solidão, as palavras saiam-lhe com custo e os silêncios prolongavam-se, sem que isso parecesse incomodá-lo, como me acontecia. Foi precisa a chegada de um novo personagem para tudo se normalizar entre nós e eu conhecer verdadeiramente o "tio" Domingos. Essa personagem foi o "Piloto".
 Chegou vagarosamente junto do idoso, veio depois cheirar-me e por fim sentou-se, cabeça baixa, olhos mortiços. Vi o "tio" Domingos fazer-lhe uma festa na cabeça e com tanta ternura foi feita a carícia que isso me impressionou.
 - Vá, amigo, descansa um bocado - disse ele, com voz branda.
 Depois tirou da sacola um grande naco de pão, perguntou-me se era servido e, partindo-o ao meio deu a parte maior ao cão e começou a trincar o resto.
 Tudo aquilo tinha sido feito com tal simplicidade que o gesto ficou-me nos olhos e quase me comoveu. Não que fosse extraordinária a partilha, mas ela pareceu-me vir tocada de tanta ternura que fiquei a olhar os dois com muita simpatia. Já não sei se naquele momento disse alguma coisa, ou se ele adivinhou o que se passava comigo, mas os olhos brilharam-lhe de um fulgor estranho e a expressão modificou-se-lhe.
 - O senhor gosta de cães, não gosta?... - perguntou.
Disse-lhe que sim e na cara encarquilhada de rugas vislumbrei um sorriso de compreensão.
 - Eu só gosto deste... - disse, num encolher de ombros, onde parecia haver um desalento. - Somos companheiros há dezoito anos...
 E o "tio" Domingos começou a falar. Agora já não era nada aquilo que ali via: o "Piloto" fora o melhor cão de pastor que conhecera. Era vê-lo quando era novo; não havia ovelha que saísse do rebanho, nem um palmo de terra adiante, chegava a trazê-las quase de rastos, os pelos presos ao dentes! Sim, aquilo é que era um cão pastor, fiel! E o cuidado que ele tinha com as crias?... Era vê-lo a defendê-las das marradas de alguma ovelha brincalhona... não, como aquele, não havia outro!...
 - Estamos velhos os dois... mas não quero mais nenhum... - e o "tio" Domingos limpava com a manga do blusão talvez um pingo do nariz, não sei, ou alguma lágrima indiscreta.
 Eu ouvia-o, e era comovente aquela amizade. Anos e anos, longe de tudo e de todos, o céu e a planície sempre nos olhos, e ele e o 'Piloto' juntos, como dois companheiros que se amparam na solidão. Mas havia uma tragédia. O "tio" Domingos sabia bem como o pobre cão estava velho. Mais um mês, mais dois, talvez um ano, e seria o fim: a morte. Que faria ele depois?... Não era um cão que morria, era um companheiro que ninguém podia substituir.
 - Não... o senhor não pode saber o que é... é preciso ter vivido como eu vivi com ele... e o "tio" Domingos olhava o 'Piloto', abanando a cabeça desalentado, um nó na garganta a impedi-lo de falar.
 - Ele compreende tudo o que digo, acredite... temos conversas longas os dois e eu sei que ele me entende... até adivinha que estou doente... vem para o pé de mim, lambe-me as mãos, como se estivesse a dizer-me: deixa-te estar... eu vou, eu sei que não estás bem... fica aí, eu vou. Não. O senhor não pode compreender... quando ele morrer, fico para aqui perdido, sem ninguém...
 Foi nesse momento que lhe vi uma lágrima deslizar pelas faces cansadas. Era Verdade. O senhor Domingos chorava.
 - Não. Quando ele se acabar, ninguém vai tomar o seu lugar. Não quero!... Prefiro ficar sozinho...
 E num gesto de cansaço, onde havia toda aquela ternura humana que existia dentro dele, e que era grande, fez uma festa no velho cão, que, como num mudo agradecimento, se encostou a ele.
 - Não... depois de ti, meu amigo, não quero mais nenhum... está descansado... tu sabes que é verdade...
 No rosto do "tio" Domingos havia lágrimas ao dizer aquilo...

 Nunca mais o esqueci.

Foto e história: alfobre.blogspot.pt

sábado, 21 de dezembro de 2013

Adega Velha (Mourão)










  
 Alentejo autêntico na cozinha e nos cantares

Contam-se pelos dedos da mão os restaurantes no Alentejo onde pode acompanhar um prato típico regional, com um bom vinho da talha e sessões espontâneas de cantares alentejanos. São as cores de Mourão que lhe são servidas de bandeja na Adega Velha. E a preços de amigo.
Leve o nome à letra… É restaurante que foi adega e disso ainda tem as marcas. E maduro, para não dizer velho que não é bonito, é com certeza. Se comida serve há 22 anos, vinho produz há bem mais tempo que isso, há pelo menos um século.

Da rua apenas uma singela tabuleta a dizer Adega Velha denuncia o local. Isso e, eventualmente, o miudinho das vozes alentejanas em convívio que deixa adivinhar o que ali se passa. E é, claro, convidativo. Ao passar a ombreira da porta, percebe que o corredor comprido distribui os comensais por quatro salas, cada uma mais caricata do que a outra.

Na primeira, encontra o balcão onde são servidos os licores caseiros, desde a ginjinha ao licor de poejo e o vinho da talha a copo. Não há mesas e as paredes estão cobertas de relógios, pratos de porcelana e quadros onde a temática da tauromaquia é recorrente. Não há ordem na arrumação de todos os objectos que cobrem as paredes. Mas a graça da sala vem, precisamente, desse caos.

Na segunda sala, há mesas a pensar nos casais e grupos pequenos que aparecem para o repasto. A particularidade desta sala é uma parede coberta de telefonias. Há-as para todos os gostos, grandes e pequenas, quadradas e redondas, espécimes dos anos 20 até à década de 80.
Não conte é com elas para lhe dar música. Deixe esse assunto com o grupo de alentejanos que geralmente se encontra na primeira sala. Afinal de contas, parte da experiência da Adega Velha são os cantares alentejanos.

A terceira sala está preparada para receber grupos maiores. Aqui encontra apenas as mesas corridas de madeira e um móvel pesado onde é guardada louça antiga. Consegue vê-la através das portas vidradas. E consegue ver-se através do espelho gigante e palaciano que encobre uma das paredes da sala.

A quarta sala, rodeada de talhas em toda a volta é mais isolada e onde fica a única mesa redonda da casa.

No corredor ficam as talhas, as guitarras e ainda loiças. As paredes rugosas, caiadas a branco estão cobertas de memórias onde encontra todo o tipo de fait-divers, desde diplomas de prémios a jarras de latão. E o chão, tal e qual chão de adega, é de laje e desnivelado, a dar conta da passagem do tempo. É para que saiba que está numa casa vivida e com personalidade.

A adega sempre pertenceu à família Bação. Mas esteve sempre alugada a terceiros. Até que há aproximadamente 20 anos, o engenheiro Joaquim Bação a resolveu transformar em restaurante. E apesar da experiência de bom vivant pela capital e afins, optou por abrir uma espécie de taberna, onde os sabores são genuínos e as paredes contam histórias.

É por isso que opções na ementa, há poucas e boas. E todas elas são típicas, todas elas regionais. Para entradas, não falha nem o pão alentejano nem o queijo da região. As azeitonas e outros petiscos, como o chouriço e outros enchidos locais também se fazem notar. Mas não exagere. Há que deixar espaço para o verdadeiro repasto que se segue.
No Alentejo come-se bem e o termo pratadas é adequado para o próximo passo da refeição. A comida vem servida em tachos de barro, bem a condizer com a tradição da terra, ainda a fumegar e de preferência com o cheirinho a cozinha da avó. De peixe, encontra apenas a sopa de cação, acompanhada pelo pão alentejano que vai molhando na sopa para ficar com o mesmo gosto.

Na carne, opte entre um cozido de grão, uma sopa da panela, um feijão com chouriço ou um lombo de porco preto assado no forno. E se preferir pratos de caça, em qualquer altura do ano, lá encontra na ementa a perdiz à Adega Velha ou a lebre guisada. Tudo regado a vinho da talha de produção própria.

Eis que percorreu toda a ementa da casa. Ou quase toda. Faltam-lhe as sobremesas. E como três é a conta que Deus fez, delicie-se com uma encharcada, um bolo rançoso ou um manjar real. E a conta não lhe vai ultrapassar os dez euros. Para fechar com chave de ouro, peça um dos licores da casa. Ajuda-lhe a digestão. 

Fotos gentilmente cedidas pelo compadre Paulo Fernandes.
Texto da comadre Andreia Melo.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Alcáçovas


Alcáçovas e não Alcáçova (do árabe al-qasba = fortaleza com residência soberana no interior) pois acredita-se que aqui existiram duas fortalezas.
No Jardim Público, junto ao coreto, em tempos recuados acontecia a Feira da Conversa. Da “conversa” pois apesar dos cestos do Algarve, da ourivesaria de Gondomar e outras joias vindas de vários lugares de Portugal, os frequentadores, oriundos das localidades em redor, aproveitavam o ensejo para por a conversa em dia… para desespero dos feirantes que nada vendiam. Daí o nome: Feira da Conversa.
Nesse mesmo jardim já teve também lugar a Feira do Chocalho. O chocalho, um símbolo da vila. Aliás, garantem os pastores, os chocalhos pendurados aos pescoços das animálias, aumentam a produção de leite.
No sec. XIX existiam duas bandas filarmónicas: a Banda dos Pés Frescos – formada por elementos de baixo poder aquisitivo – e a Banda dos Nalgueiros – mais abastados, e não só de nalgas… Ambas faziam arruadas e sempre que se encontravam era briga certa. Mas um dia fizeram as pazes: juntaram-se e criaram a Sociedade União Alcaçovense.
Na Igreja Matriz São Salvador, chamam-me a atenção quatro leões em madeira que foram trazidos da Índia. Na verdade, dessas paragens vieram oito dessas estatuetas. As outras quatro estão no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Estas e outras coisas aprendi caminhando pelas ruas da vila, com Nuno Grave servindo de cicerone.
Alcáçovas, uma vila com história, dizem os seus habitantes.
Uma vila cheia de histórias, penso eu.

Texto e foto gentilmente cedidos pelo compadre Pedro Veludo.
Foto: Coreto de Alcáçovas
https://www.facebook.com/pveludo/posts/1445697832320318

Entre Alqueva e a Marina da Amieira













Caminhada com cerca de 14 Km, promovida pela Câmara Municipal de Portel no âmbito do programa "Passeios por Cá" e integrada no programa da "XIV Feira do Montado 2013"
30NOV13
Fotos gentilmente cedidas pelo compadre João Ferro.