quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Caça aos Grilos...

A Caça aos Grilos,  ( 1891) autor: José Malhoa




Caça aos Grilos...
Como sou alfacinha de gema, assim que acabava a época escolar e começavam as férias grandes, normalmente em meados de Junho, lá ia eu a caminho das Alcáçovas com a trouxa ás costas, a fim de passar uma larga temporada em casa dos meus avós paternos.
Isto de ser caçador de grilos tinha para mim uma grande importância e não era raro o meu professor primário dar-me uns tabefes e safanões valentes só porque eu estava distraído em plena sala de aulas, arquitectando estratégias e planos totalmente maquiavélicos para caçar os pobres grilos desprevenidos quando os apanhasse a jeito...
Bom, isto de ser caçador de grilos tinha muito que saber....
Os grilos eram bichos muito espertos e também estavam sempre atentos á aproximação de putos como eu. Por norma, eu ia sózinho porque os outros miúdos eram muito barulhentos e não levavam a caçada a sério.
Normalmente, o meu território de caça era na área da Fonte do Concelho e Vale de Freixo, porque ainda hoje estou para perceber, haviam imensas tocas de grilos na zona.
Assim, antes de sair de casa, reunia o meu material de campo, composto por uma mochila com várias caixinhas de fósforos com dois buraquinhos cada, uma garrafinha de água, uma palhinha grande e duas ou três folhas de Alface.
A Fonte do Concelho fica situada a cerca de dois quilómetros da vila e naquele tempo, não haviam vedações a delimitar propriedades como agora.
Resultado: Aquilo era tudo meu...
A caçada começava assim que eu ouvia um grilo a cantar. Pé ante pé, ia-me aproximando devagarinho da toca, sem fazer barulhos, porque senão o magano do grilo calava-se e eu perdia a noção onde estaria o esconderijo dele.
Mas normalmente corria bem e eu lá localizava a toca sem grandes dificuldades. Então, enfiava a palhinha no buraquinho e o grilo saía disparado. Eu apanhava-o á mão e metia-o numa das caixinhas de fósforos com um pouco de alface, para o bichinho não passar fome.
Se o grilo não saísse logo á primeira, a técnica seguinte era urinar em cima da toca.
Normalmente resultava, o problema é que a vontade de urinar não durava para sempre e era aí que entrava a garrafinha de água. Como a Fonte do Concelho tinha sempre água a correr, arranjar liquido para afugentar os grilos das tocas era muito fácil...
Depois, havia que distinguir se os grilos eram machos ou fêmeas. As fêmeas têm três rabos e não cantam, logo não eram úteis para o negócio...
O meu avô João da Torrinha vendia os grilos nas lojas de animais em Lisboa e só queria aqueles que fossem machos e estivessem em perfeitas condições. Assim sendo, os grilos pernetas também não eram levados para cativeiro... ( os grilos são animais que lutam entre si se estiverem juntos e tiram as pernas uns aos outros nessas ditas lutas ).
Também havia a questão da concorrência: os outros miúdos da nossa vila também apanhavam grilos para vender ao meu avô...
Por esse motivo, haviam zonas de caça especificas e nada de invadir os territórios de cada um. Ás vezes, as lutas entre nós eram apenas para definir regras e áreas de caça... Uns murros e uns pontapés, nada de grave, portanto...
Tenho saudades do tempo em que haviam grilos no Alentejo. Hoje, ando pelo campo e não os oiço....
Ás vezes, penso que sou eu um dos culpados por já não haver grilos com fartura e tenho pena dos miúdos de hoje que desconhecem as técnicas da nobre arte de caçar grilos no campo...

A minha área de caça aos grilos, Vale de Freixo, é hoje uma pocilga gigante, cheira mal e a água suja das escorrências dos porcos atravessa este pequeno vale, em direcção á Ribeira de Alcáçovas. 
E ninguém faz nada, ninguém quer saber...
Fotos de grilos retiradas da internet.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Vila Nova da Baronia










Vila Nova da Baronia é uma bonita freguesia pertencente ao concelho do Alvito, em plena planície Alentejana, situada entre dois regatos que formam a Ribeira de Sobrena ou ribeira de Vila Nova da Baronia, numa zona de grande beleza natural.
Esta é uma povoação muito antiga, ascendendo o povoamento humano por estas paragens a tempos anteriores à ocupação Romana do território.
Anteriormente a freguesia tinha o topónimo de Vila Nova de Alvito, tendo alterado para Vila Nova da Baronia em 1708, por fazer parte dos domínios do Barão de Alvito.
Pacata freguesia, apresenta um rico património do qual muito se orgulha, com monumentos interessantes, como a Igreja Matriz; as Ermidas de Santa Águeda, de Nossa Senhora da Graça, de Santo António ou a de São Pedro; a bela Igreja da Misericórdia; a Ponte Romana; a Fonte Marçal, o orgulhoso Pelourinho na Praça da República ou o bonito edifício dos antigos Paços do Concelho, símbolo de outros tempos de desenvolvimento.
https://www.guiadacidade.pt/pt





A nossa próxima caminhada gratuita de divulgação será em 10MAR18, com começo e final em Viana do Alentejo, mas vai passar por Vila Nova da Baronia, onde haverá oportunidade para parar, comer e visitar esta bonita vila alentejana. 
Ainda estamos na fase de reconhecimento de percurso, mas fica aqui um pequeno registo para vos dar alguma vontade de caminhar com o nosso Projeto Alcáçovas Outdoor...
Estejam atentos a este blogue...



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

CASMP em Alcáçovas (25FEV18)

 














Em 25FEV18, cerca de 130 caminheiros do Clube Associativo de Santa Marta do Pinhal vieram caminhar com o Proj. Alcáçovas Outdoor ( Associação dos Amigos das Alcáçovas ), num percurso de 14 kms em redor da nossa vila.
Como sempre acontece nas nossas caminhadas, recolhemos o lixo que fomos encontrando ao longo do nosso caminho.
Visitámos também a Igreja Matriz, o Jardim e a Capela das Conchas, locais a não perder  para quem visita Alcáçovas.
Evento abrilhantado pela actuação do Grupo de Cante Feminino "Paz e Unidade de Alcáçovas" no convívio final...
Obrigado a todos os participantes, foi um prazer enorme poder caminhar convosco, voltem sempre!... 







Foto: Franklim Camacho
Link para visualização do percurso: 
https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/casmp-em-alcacovas-25fev18-22919439

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Nógado



Hoje apeteceu-me fazer um doce/acepipe típico alentejano, escolhi um de origem árabe, com a receita fixada há muito tempo, sofrendo nos dias de hoje poucas alterações. Há quem faça um nógado barato, pequenos rolinhos de massa (sem frutos secos) e os frite em azeite e depois os ponha sobre a folha de laranjeira cobertos com calda de mel ou de açúcar.
Esta receita de Nógado que apresento é, na minha opinião, a que está mais próxima da original receita árabe.


Ingredientes:
  • 150 g de nozes
  • 100 g de amêndoas
  • 100 g de avelãs
  • 500 ml de mel
  • 7 gemas de ovo
  • 300 g de farinha
  • açúcar e água para o ponto leve de açúcar
  • folhas de laranjeira
Preparação:
  1. Parta aos bocados as nozes, as avelãs e a amêndoa.
  2. Pise-as grosseiramente no almofariz e deite-as no mel que deve estar a ferver.
  3. Retire do lume e depois de a mistura estar morna, deite as 7 gemas de ovo bem batidas.
  4. Leve ao lume para cozer os ovos.
  5. Adicione a farinha pouco a pouco e vá mexendo até que forme uma massa e que coza a farinha.
  6. Retire e espalhe a massa em cima de uma tábua molhada para arrefecer.
  7. Quando já não se queimar, molde pequenos cubos ou, corte pequenas porções de massa e com a ajuda de um rolo da massa tenda tiras de massa mais ou menos com espessura de meio centímetro e passe-os por uma calda de açúcar em ponto fino, deixe-os escorrer um pouco e disponha-os em cima de folhas de laranjeira. 
Torna-se um pouco enjoativo se comer demasiado.

Receita copiada do blogue do nosso compadre Nelson Banza,  http://nelson-banza.blogspot.pt/

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Aldeia dos Pequeninos ( S. Bartolomeu do Outeiro)






S. Bartolomeu do Outeiro é uma aldeia do concelho de Portel, conhecida pelo seu miradouro panorâmico sobre a Barragem de Albergaria dos Fusos, mesmo ali ao lado
Um passeio por estas ruas antigas dá-nos a conhecer o verdadeiro Alentejo, aquele não normalmente não é percorrido pelas multidões de turistas. Mesmo no centro, podemos observar um bonito espaço, que causa admiração a quem o observa com atenção:
Hoje partilhamos convosco fotos da Aldeia dos Pequeninos, feita em 1980 por Abílio Veiga  ( O Sassá), antigo presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu do Outeiro e já falecido.
Esta obra foi feita com trabalho voluntário e sem recursos financeiros....

O Projeto Alcáçovas Outdoor Trails dispoõe de guias locais habilitados a guiarem pequenos grupos pedestrianistas nesta área.
Traga amigos e venha caminhar connosco !...
Contacto: trilhosalentejanos@hotmail.com

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Doce de Tomate (Alentejano)



DOCE DE TOMATE (ALENTEJANO)
2,5 Kg tomate maduro
1,250 Kg açúcar
1 Pau de canela
2 Tiras de casca de limão
2 Cravinhos (cabeça)
Pele o tomate, para facilitar, depois de lavados dê um golpe na pele em cruz no lado oposto ao pedúnculo. Introduza durante alguns segundos o tomate em agua a ferver. Retire-o e mergulhe-o em água bem fria(numa tigela).depois é só puxar a pele.
Abra o tomate ao meio, na transversal e aperte-o para expelir as sementes.
Ponha-o a escorrer.
Depois do tomate preparado introduza-o na panela de aço inoxidável – em camadas alternadas com o açúcar. Junte a canela, a casca do limão e os cravinhos.
Se lhe for possível deixar ficar assim durante algumas horas (vai ficar com mais sumo).
Leve ao lume.
Se o tomate tiver largado muito sumo e o açúcar estiver desfeito, aplique lume forte. Se não, lume brando até o açúcar estar completamente dissolvido.
Deixe então cozer, com o lume muito forte e o recipiente destapado durante 20 minutos e nem mais um segundo – termómetro nesta altura atinge 104º ou 105º- temperatura para uma boa conservação do doce. (eu não uso termómetro).
Deite o doce imediatamente em boiões de vidro escaldados e bem secos (no forno9, enrosque a tampa e guarde, encha os frascos até mesmo aos bordos. Parece que vai vir fora. Enrosca a tampa e vira os frascos com a tampa para baixo.
Cobre os frascos com um pano e deixe arrefecer completamente.
(Cuidado com as correntes de ar, pois arrebentam os frascos).
Nota: quando o doce está pronto, retire a espuma, com ajuda de uma escumadeira molhada em agua fria.
Receita copiada do blogue: http://pensamentosoft.blogspot.ca/
Foto retirada da net


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Refrigerantes Fóca



Entre os anos 30 a 70, houve uma profusão de marcas de refrigerantes em todo o país. 
O Alentejo não foi excepção: de Grandola, podemos ver aqui quatro garrafas de 33 cl de sumo "Fóca" ("sem rival") - "Produto de qualidade", com engarrafamento automático.
Produzido pela empresa "Oliveira & Irmão", com o telefone 42055.

Esta marca de refrigerante foi muito consumida no litoral alentejano, de Odeceixe a Alcácer do Sal...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Noite de Fados Solidária (Alcáçovas)


Noite de Fados Solidária, no Auditório Paço dos Henriques, em Alcáçovas,  dia 02MAR, ás 21H00.

Este é um evento organizado pela Associação dos Amigos das Alcáçovas e tem o apoio da Câmara Municipal de Viana do Alentejo e do Projeto Pagus.
Com a venda dos bilhetes, vamos ajudar a nossa amiga Andreia Chora a acabar de pagar a sua cadeira de rodas...
Vão actuar os fadistas João Rosado, Valdemar Mochila, João Pereira, Martinha, Joaquim Valverde e Inês Villa Lobos, acompanhados á Guitarra por José de Sousa e á Viola por José Geadas.
Bilhetes: 12,50 Fados
Marcações: 964196107 ou 967134783
Parceiros: LoboSolar, Crédito Agrícola, Casa Maria Vitória, Chocalhos Pardalinho, S.J.Car, Casa Santos Murteira, A Padaria do Ernesto, Churrasqueira Escadinhas, Luis Santos (Material Hospitalar), Farmácia da Misericórdia (Alcáçovas).

Amigos e familiares venho por este meio informar que no dia 2 de Março ás 21horas vai se realizar uma Noite de Fados para angariação de fundos para acabar de pagar a minha cadeira de rodas electrica.
Gostaria de contar com a vossa presença...

                                                             -Andreia Chora-

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Fortes Novas ( Ferreira do Alentejo)


Portugal, Alentejo: cerca de quarenta velhos foram condenados a viver enclausurados, nas suas casas, de janelas fechadas, 24 horas por dia; condenados a respirar o negro; condenados a uma alimentação parca e pobre. Problemas respiratórios, tosse, lacrimejar de olhos, ardor na garganta chegaram em tons de dor. Sem ar, sem água e sem alimento, rezam pedindo a morte e que esta  não se demore.  Falo em quarenta mas minto. Não são quarenta: são mais. Quarenta velhos e um menino (de doze anos) são os mais violentados num dever que devia ser sagrado: o direito à vida.
Chamo-lhe: velhos. Os idosos são cuidados com afeto e esmero. Os velhos agoniam ansiando a morte. Aos idosos, a sociedade proporciona o bem; aos velhos, a mesma sociedade, retira-lhes o ar, a água e o sustento: mata-os em vida (devagarinho e com dor).
Poluição em Fortes
     Vou fazer o contraproducente: escrever muito sobre um tema. Dizem que, por terras dainternet, se é muito: ninguém lê. Vamos testar a Vossa capacidade de concentração. Sugiro: aquiete-se na leitura e mexa-se na indignação.

     Após escrever sobre os graves crimes ambientais e contra o património (consequência dos olivais superintensivos no Alentejo), recebi milhares de mensagens e pedidos de escritos. Um despertou-me o agastamento e decidi investigar.
“ Os letrados chamam-lhe desenvolvimento; eu rezo para que a morte chegue e em breve”- o relato vem de Fortes Novas; Figueira de Cavaleiros; Alentejo.
 Couve de Fortes

     Outrora pacata, num Alentejo profundo, brindou  a um Alqueva que lhe prometia água- ignorando a morte lenta, escrita em cada gota do grande lago que lhe garantia, um dia, matar a sede. As hortas, as cabras… permitiam a sobrevivência, garantiam o sustento e fizeram jus ao sonho de educar os filhos. Gente que vivia das parcas reformas portuguesas e que necessitava da terra para matar a fome. Chegou o olival e o desenvolvimento, de forma moderada, aconchegado  sonhos de emprego e de futuros risonhos; trouxe o lagar, o maior do mundo; trouxe a esperança. Dias curtos de quem só sonhou. Tudo se foi tornando maior, e maior, e maior… ocupando todos os espaços, gritando em nome da economia e do desenvolvimento. Os sonhos não sorriram e os empregos não se conhecem por ali. Mas veio a fábrica; veio a fábrica transportando o negrume,  a dor e a morte (dizem eles e parece que têm razão). 
Vinha seca
     Com a poluição, as hortas morreram e com elas o alimento de uma população pobre; o ar deixou de ser respirável e a água passou a ser negra. 
Vinha seca
     O negro invade-os ainda em vida.
Poluição atmosférica

     Começaram a queixar o seu tormento mas gente velha não é ouvida.  Queixam-se, choram e esperneiam- esperneiam dentro de casa (na rua, o ar é irrespirável e o fumo negro nauseabundo não permite ver qualquer horizonte).
Água poluída

     Referem uma unidade fabril de extração de óleo de bagaço de azeitona (proveniente dos olivais superintensivos) como causa dos seus males. Labora dia e noite, entre nove a doze meses por ano; e, cerca de, cinco chaminés, de forma intensiva, lançam na atmosfera não se sabe bem o quê; sabe-se que num raio de dez quilómetros, a vida não é um bem que se preze; sabe-se que, a viver num raio de 400 metros, esta gente é enterrada em vida.
Poluição no interior de uma casa- Fortes

      Petrifiquei perante a sua dor. Fui ouvindo; fui lendo.
“ trinta vacas morrem envenenadas após beber água”…” brutal fuga de água contaminada por uma ribeira abaixo”

“… as casas e as viaturas ficam cobertas por um resíduo oleoso e cinzas e não se pode estender roupa” – fica suja e a cheirar mal.

“os filtros não são substituídos porque a sua substituição impede o rendimento máximo da fabrica - só se vier a inspeção…”

“ devido aos olivais, no solo, a poluição acumulada é tanta que se chover o Sado morre e chega ao mar”
Poluição dos solos

     Ouvi e vi fotografias que comprovam as águas negras, as roupas sujas, o negrume que se cola a tudo- mesmo no interior das casas. Vi que não se via  devido à densidade do ar.
     E li, li tudo o que encontrei de artigos, jornais, emails, respostas…
     Li que a poluição abarca muito mais que o raio de 10km. Em Santiago do Cacém, numa albufeira em Monte Novo dos Modernos, a autarquia retirou 700kg de peixes mortos. Chamada a GNR:

“Os militares, ao deslocarem-se à albufeira, verificaram que a água se encontrava completamente “negra” e com cheiro a “bagaço de azeitona”…”

“ Após efetuadas diligências de investigação, a GNR apurou  que os motivos da contaminação da albufeira foram motivados por “descargas provocadas por uma empresa que se dedica à compra e venda de biomassa, atividade para a produção de azeite e fabrico de pellets de bagaço de azeitona a partir de bagaço seco”

 “ fonte da GNR afirma que a empresa está referenciada… no domínio da poluição hídrica, de solos e de atmosfera”

     A GNR:
“detetou… durante uma acção de fiscalização… e da acção resultou a elaboração de cinco autos de contra-ordenação por existência de lagoa sem proteção, abandono e injeção de resíduos no solo, falta de auto-controlo de emissões para a atmosfera, acções  de condução ao perecimento e evidente depreciação de azinheiras e sobreiros e operação de gestão de óleos usados em violação das normas estabelecidas”
(…)
Carro com óleo

    
     Relativamente à empresa em questão- li que, através de um porta-voz ,foi garantido: “o que sai das chaminés da fábrica, “mais bem preparada da península Ibérica, é apenas vapor de água”. E acrescenta: “As consequências para a qualidade  de vida das pessoas são “o outro lado da moeda” sublinhando que “é impossível haver actividade económica sem impactes ambientais negativos”

     Ops! Senhores, se é vapor de água, qual é o impacto ambiental negativo que referem? Contaminam as águas, os solos?

     Se reconhecem consequências na qualidade de vida das pessoas, posso perguntar:  o que estão a contaminar?
     Ajudaram a matar a sede e a fome a esta gente? Pagam tetos nas casas com telhado constituído apenas por telha? Fornecem alimento à população? O que fizeram? Qual é a Vossa contribuição para minimizar este enterro vivo?
      Já ajudaram as pessoas a saber de onde provêm os cheiros nauseabundos; a cobertura oleosa que se pega a tudo, os fumos que carregados de partículas impedem a visão? Ajudaram a saber o que é o “preto” que invade a aldeia? 
     Apraz-me dizer: E os velhos nunca mais morrem para ficarem calados de vez! Quem diria que mesmo fechados em casa, sem ar, sem comida e sem água, resistiam tanto.


Poluição dos solos

    Ouvi o programa do Hernani de Carvalho sobre o tema em questão.

     Senhor Presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo, permita-me partilhar a minha modesta opinião: não gostei de o ouvir. Eu sei que a população o defende e reconhece que está do lado deles; eu é que não fiquei convencida. Vão tentar encontrar soluções? Quando os velhos morrerem? E até lá, eles respiram, bebem e comem o quê? São velhos: morrem já morridos da vida que não vivem. Da forma como falou, senti que de um lado estava o dinheiro e do outro estavam os votos. O “não  é da competência da autarquia” precisava ser melhor  definido. Precisava que, nas mesmas condições que os habitantes, o senhor e os que nada decidem vivessem lá uma semanita. Sabe que, segundo o que li, a fábrica que labora aí foi transferida de Vila Velha de Ródão. O Ministério do Ambiente considerou-a quase uma luz divina sem qualquer poluição. O Presidente da autarquia juntou-se à população e,  da sua ação, resultou o fecho da fábrica pelo tribunal, por: incumprimento, por parte da empresa, dos valores limite de emissão aplicáveis aos poluentes, partículas, monóxido de carbono e compostos orgânicos”. A situação foi considerada de extrema gravidade pelo tribunal. Este senhor deixou obra: permitiu a vida na região. E não era da sua competência.

     Pelo Alentejo, assiste-se a um surto de presidentes de autarquias e câmaras que querem deixar obra: o que se traduz em rotundas repletas de obras de arte. Não tenho nada contra a arte, antes pelo contrário,  apenas acho injusto  trocar o ar, a água, a vida, o património pela sua existência. Não sei se é obra sua: não pude deixar de reparar que recentemente foram colocadas duas em Figueira de Cavaleiros.
Figueira de Cavaleiros

     Uma das quais tem semelhanças com o povo de Fortes: ambos não têm. O povo de Fortes não tem água, não tem ar, não tem comida; a rotunda não tem estradas. Não tem; olhei, olhei, fui lá e não tinha: não havia estrada.  Está ali, numa imponência desmedida, no meio de nenhures.
Olivais superintensivos



    Senhor Presidente, não ligue à minha Ironia mas não fale, aparentemente feliz, em Desenvolvimento do Alentejo, numa alusão aos olivais superintensivos e azeites daí provenientes. O que o senhor chama de desenvolvimento, eu chamo de destruição e o Povo de Fortes fala em exterminação (morte). Não tem conhecimento que tudo foi arrasado pelo Alentejo: património histórico; património ambiental (fauna, flora); recursos Hídricos; ar….? E agora arrasa com a vida humana. O senhor ocupa uma posição, um cargo, eleito pelo povo, que lhe permite fazer mais e melhor. E o povo é poucochinho a pedir: quer água, ar e comida. Percebeu que a sua região beneficiou com duas rotundas (uma sem estradas) e ficou sem tudo o resto que é essencial à vida;?Nem empregos (os trabalhadores não são dessa zona). Vai dizer-me, também, que os habitantes que representa não querem trabalhar? Tenho a certeza que consegue fazer mais e melhor. Urgente… urgente era garantir, no imediato: direito a respirar; direito a comer; direito a beber e direito a sair de casa. Depois vinham as soluções: “os sopradores” (como referiu o Hernani). Eu não dormiria se os que me elegeram, e acharam digno para o cargo, estivessem enterrados em vida. A população precisa de 1000 euros para fazer análises independentes e fidedignas; a sua autarquia vai colaborar de forma monetária?Quando? (Pode  vender uma rotunda- a que não tem estradas).
Olivais superintensivos

     Ouvi, também, não a voz,  a mensagem do senhor administrador da empresa em questão: Nuno Branco. De Inglaterra, manifestou a voz da empresa... De Inglaterra? O senhor vive em Inglaterra? Não trabalha em Fortes? Como é que chega a horas ao trabalho? Burrice a minha: trabalha nos computadores? Mas conhece Fortes, certo? Ah? Já viveu com estas pessoas para constatar a sua realidade? Não? Ups. Em modos do Alentejo: lança pescadas mas não percebe nada daquilo. Tem um cargo e é gente importante. Que se lixem os velhos.
Laranjas podres

      Para chegar aí, à Inglaterra, e trabalhar nos computs teve que estudar muito, certo? Se lhe explicarem o senhor percebe as coisas, correto? Ok.  Descobri que não lhe contam tudo; o senhor não vai lá e eles, provavelmente, mentem-lhe. Reparou que quando a Jornalista reproduziu a sua mensagem em duas ocasiões (“a fábrica labora 4 a 5 meses por ano” e “o vento sopra naquela direção quatro a cinco vezes no ano”) se ouve imenso barulho de fundo. São os velhos, senhor. São os velhos a manifestar a sua dor. A fábrica labora o dobro do tempo e o vento não gosta deles, leva tudo para lá. Sopra de tal forma e tantas vezes que já aconteceu que o rapazito de doze anos que vive a 100 metros da fábrica, não pôde sair de casa nas férias escolares.E isso é o de somenos. Tem filhos, senhor? Os seus têm ar? E comida e água? Aposto que sim. Férias? Bahamas, Dubai ou outro sorridente E tem pais? São velhos ou idosos?


Horta seca devido à poluição
     Explico-lhe mais. Não se fie nas análises efetuadas e que garantem o quão bom é o vapor de água que sai das chaminés: há testemunhos que foram efetuadas no dia do ano em que estes habitantes podem lavar a roupa (num dia bom), a 1 quilómetro de distância e no lado contrário ao vento. Esta gente vive a 400 metros. Seria difícil aquilo dar alguma coisa. 
Roupa estendida em Fortes

     Se quer mesmo saber, senhor: deixe a Inglaterra; largue os computs e chegue de forma pontual, presencialmente, ao seu local de trabalho. Mude-se para uma daquelas casinhas, com ou sem teto, leve a família e viva com as mesmas economias que o velhos do local. E não leve só a famelga, leve os donos, os acionistas…. Troquem de lugar com o povo numa semanita mesmo que de vento de dia bom. 
Casa de telha


     Por fim, lamento a decisão da IAPMEI de não efetuar nova vistoria: as análises estavam boas e a empresa mandou fotos de um funcionamento com zelo. As que os velhos tiram devem ter ido parar ao lixo.  Discriminação? Não falamos de idosos; falamos de velhos. Irra que nunca mais morrem! 
     Ainda me estão a ler? Pensam que já terminei? Não. Há uma questão que me assola. Temos o maior lagar do mundo; o melhor azeite, premiado não sei onde. 
Pêssegos de Fortes

Horta de Fortes
     Falta a explicação dos “Azeites de Portugal” : as hortas morrem  e o que lá se produz é incomestível; o que fazem ao diabo das azeitonas que, produzidas mesmo ao lado, as dizem tão boas, tão boas? A couves vão para o lixo e as azeitonas reluzem saúde e bem estar? Será que é mesmo bom o azeite?


Serão só quarenta velhos condenados à morte ou serão os primeiros de nós?
Partilhar, este texto, significa fazer eco da sua e da nossa voz.
Sem sorrisos
Guida Brito

Texto copiado integralmente do blogue da nossa comadre Guida Brito, 
https://navegantes-de-ideias.blogspot.pt/