Francisco José da Mata Um alcaçovense prisioneiro de guerra em 9 de Abril de 1918
"...às vezes estavam muito descansados e depois ouviam aqueles barulhos muito grandes…os estilhaços que lá metiam e aquilo rebentava fugiam prá qui, fugiam pra lém e metiam-se naqueles buracos dizia ele…por aquela terra a fora e depois caiam aqueles estilhaços…abalavam a fugir morriam dois morriam três e dizia ele que ouvia os outros muita vez…ai amigos levem-me, ai amigos ajudem-me, mas outros ficavam logo…”
“…ele teve a sorte de escapar, mas viu lá morrer muitos, muitos, muitos dizia ele…”, “…e às vezes tinha pena de os ouvir, mas para se safar a eles não olhavam para os outros…” “…porque o meu pai ainda lá esteve 6 meses, preso “…ele teve a sorte de escapar, mas viu lá morrer muitos, muitos, muitos dizia ele…”, “…e às vezes tinha pena de os ouvir, mas para se safar a eles não olhavam para os outros…”
Os alemães batiam-lhe, não lhe davam de comer, eles andavam com fome, muito sujos, já tinham piolhos no corpo, dizia ele aqueles bichos no corpo, às vezes estavam-se a despir e era limpar daqui, limpar dali, havia depois aqueles barulhos, tinham-se que vestir à presa porque tinham, que fugir e depois morriam lá aqueles animais, aqueles cavalos ou matavam os animais e eles andavam lá por aquele campo e onde estava um animal morto eles iam cada qual, partiam um bocado e tinham umas latas que eram muito negras, dizia ele, acendiam um lume e ferviam ali umas ervas e ferviam ali aquilo, e ferviam aqueles bocados de carne, dos cavalos e depois comiam aquela carne, o meu pai sofreu ai tanto que veio de lá com uma doença de intestinos, que depois foi reformado até cedo que o Dr. Trigo de Sousa reformou, por causa dos intestinos, que era daquilo que ele comia…”
“…Quer dizer que os alemães batiam-lhe, faziam-nos trabalhar, ele até falava assim com os modos dele, faziam-nos trabalhar e depois havia aquelas valas, dizia ele, faziam aquelas valas muito compridas, muito compridas, e fundas e depois conforme iam morrendo os camaradas iam-nos deitando para a vala e eles iam tapando, tapando…com a terra...”
Joaquina Rosa da Mata, 81 anos.
Filha de Francisco José da Mata.
Testemunho Oral recolhido em Novembro de 2010
De: Francisco José da Mata
Último domicílio: Paroquia das Alcáçovas
Concelho de: Viana do Alentejo
Distrito de: Évora
Ocupação: Trabalhador
Nasceu a 3 de Dezembro de 1894
Filho de Feliciano Augusto da Matta e de Lourença da Nazareth Monteiro
Residentes em: Alcáçovas
Concelho de: Viana do Alentejo
Distrito de: Évora
Estado: Solteiro
…da instrução de recruta em 28 de Agosto de 1915.
Licenciado em 12 de Setembro indo domiciliar-se na paróquia de Alcáçovas concelho de Vianna do Alentejo.
Passou ao R.I. 17 em 26 de Março de 1916 (S.E.).
Presente em 21 de Setembro fazendo parte do C.E.P. embarcou para França em 8 de Agosto de 1917 desde quando conta com 100% de aumento sobre o tempo de serviço.
Prisioneiro de guerra em 9 de Abril de 1918.
Presente no C.E.P. em 20 de Novembro.
Desembarcou de regresso de França em 13 de Janeiro de 1919.
Aumenta 299 dias. Licenciado em 16 de Junho.
Francisco José da Mata
Alcunha – Ti Chico Arroba
Sepultado - no cemitério das Alcáçovas, talhão 3, campa 113
Nasceu – 3/12/1894
Faleceu – 5/2/1994
Natural – Alcáçovas
Profissão - Cantoneiro
Esteve em França de 8/8/1917 até 13/1/1919 (3º Bt. do Reg. Inf. Nº17)
Filho de – Feliciano Augusto da Mata e de Lourença Nazareth Monteiro
Esposa – Joaquina Rosa Maquinista
Nasceu – 3/12/1896
Faleceu – 19/11/1970
Filhos – Felismina da Mata
Angelina da Mata
Lourença da Mata
Inês da Mata
Joaquina da Mata
Ermelinda da Mata
Clariano e outra menina (Felismina) que nasceu entre a Inês e a Joaquina
100 ANOS - Batalha de La Lys - 9 e 10 de Abril de 1918.
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