terça-feira, 9 de junho de 2020

Damascos Caninos...


Meus irmãos, o que vislumbrais nesta foto, não é mais nem menos que um damasco da variedade canino. Não porque tenha algo a ver com canídeos, mas porque é mesmo o nome da variedade, canino. Que vos garanto tratar-se de uma autêntica delícia.
O maior dos problemas, reside no facto de não ser eu o único a considerar esta fruta como delícia, pois os pássaros da minha horta e zonas adjacentes, comungam integralmente e sem reservas desta opinião gustativa.
Ora, o que a foto na realidade reproduz, é tão só e apenas a colheita referente ao meu quinhão da produção anual deste damasqueiro.
Passo então a explicar melhor, esta árvore na semana passada continha suspensos muitos frutos como este, quase se assemelhando a uma árvore de Natal. Mas hoje, inteiro apenas sobrava um, pois um gang mafioso de aves das mais diversas origens, mas liderado por Gaios e Melros, já se havia encarregado de limpar o resto. E vai lá vai, ainda tenho é que ficar agradecido por este exemplar único que por cá deixaram, porque se não deu para enjoar, pelo menos ainda chegou para provar.
Confesso, que nem consigo compreender a razão de toda esta passarada ter assentado arraias no Vale Machoso, com tantas estevas, terrenos incultos, pinhais desordenados e eucaliptos que há por aqui em volta, mas enfim, cada um é livre de tomar as suas próprias opções. Quem sabe, se não estamos perante o cenário perfeito para a realização de uma segunda versão do "Birds" de Alfred Hitchcock.
Temos de encarar estes contratempos com espírito cristão e solidário, sobretudo para com os animais que connosco partilham o planeta, pois estes também são filhos de Deus. Dessa forma, reparti irmãmente a produção frutífera de forma igualitária e justa com toda esta passarada, ao que estes, em contrapartida retribuíram dividindo as tarefas comigo, resultando daqui uma harmoniosa pareceria em que se consignou o seguinte, quanto à produção esta é repartida em partes iguais de 99 % para eles e 1% para mim e, quanto à divisão de tarefas, a minha é trabalhar e a deles comer.
Se recuássemos algumas décadas atrás, àquele tempo em que apanhar pássaros era o deporto nacional infantil, muitos destes aventureiros já estariam neste momento temperadinhos em vinho branco, sal e alho, a caminho da frigideira mais próxima.
Não estranhem este hediondo desabafo, porque eu ainda sou do tempo em que as crianças brincavam na rua e iam para o campo, não existia Internet e os canais televisivos eram apenas dois, ao que ainda podemos somar o facto dos nossos bolsos andarem constantemente cheios, mas não se iludam que não eram cheios de grana, mas sim de ar, pois nada mais por lá havia. Tudo isto, seriam alguns dos factores que nos conduziam à prática de hobbies e passatempos com recurso ao que tinhamos à mão e sem quaisquer encargos, sendo um dos preferidos a censurável captura de pássaros, o que para os padrões da época era apenas a coisa mais natural do mundo, em consonância com as tradições do Portugal rural.
Felizmente, hoje não me revejo neste tipo de práticas, as quais abomino, sendo o Vale Machoso e com orgulho pessoal também um santuário para a vida selvagem, pelo que dessa forma não me queixo da sorte, pois meus irmãos, "quem se contenta com a sorte é feliz até à morte" !!!

Texto e Foto da autoria do nosso compadre Rui Delgado.

Sem comentários:

Enviar um comentário