terça-feira, 3 de setembro de 2013

Estação de Alcáçovas






Na Linha do Sul, entre Casa Branca e Viana do Alentejo, a Automotora parava na Estação de Alcáçovas e era um corropio de gente, alcofas e cestos a entrar ou sair do comboio. Esta pequena estação servia a vila de Alcáçovas, além da aldeia de S.Brás do Regedouro e dos Montes e Herdades ali á volta.
As carroças vinham de longe e a Venda, logo ali no Largo de Estação, era ponto obrigatório de paragem para um copo e uma bucha, enquanto a Automotora tardava em chegar.
As galinhas, os perús, os pães alentejanos, as alfaces e couves, os paios e linguiças, os queijos secos e os garrafões de azeite compunham aquele quadro de azáfama humana, pois homens, mulheres e moços misturavam-se na chegada e partida.
Então o Chefe da Estação soprava o apito solenemente e o comboio lá partia para outras paragens, ligando pessoas e lugares, rumo a Vendas Novas, Pinhal Novo, Barreiro ou Beja e Funcheira, se o destino fosse o Sul.
Munidos do bilhete de cartão, os homens jogavam á sueca e as mulheres dormitavam ou cortavam na casaca de alguma vizinha desafortunada. E as galinhas e os perus, dentro das alcofas, espreitavam um novo mundo, tão diferente da sua capoeira natal.
E o Revisor aproximava-se. "o seu bilhete, por favor".
Corria as carruagens, repetindo a ladainha...
E eu, puto, agarrado a uma das alcofas que o meu avô João da Torrinha levava para Lisboa, sentia-me como uma das galinhas que ele transportava para vender na grande cidade, a escola ia começar e a liberdade de correr nos campos ia-se acabar para mim em breve.
Mas para o ano, nas férias grandes, lá faria eu a viagem de volta...

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