sábado, 21 de dezembro de 2013

Adega Velha (Mourão)










  
 Alentejo autêntico na cozinha e nos cantares

Contam-se pelos dedos da mão os restaurantes no Alentejo onde pode acompanhar um prato típico regional, com um bom vinho da talha e sessões espontâneas de cantares alentejanos. São as cores de Mourão que lhe são servidas de bandeja na Adega Velha. E a preços de amigo.
Leve o nome à letra… É restaurante que foi adega e disso ainda tem as marcas. E maduro, para não dizer velho que não é bonito, é com certeza. Se comida serve há 22 anos, vinho produz há bem mais tempo que isso, há pelo menos um século.

Da rua apenas uma singela tabuleta a dizer Adega Velha denuncia o local. Isso e, eventualmente, o miudinho das vozes alentejanas em convívio que deixa adivinhar o que ali se passa. E é, claro, convidativo. Ao passar a ombreira da porta, percebe que o corredor comprido distribui os comensais por quatro salas, cada uma mais caricata do que a outra.

Na primeira, encontra o balcão onde são servidos os licores caseiros, desde a ginjinha ao licor de poejo e o vinho da talha a copo. Não há mesas e as paredes estão cobertas de relógios, pratos de porcelana e quadros onde a temática da tauromaquia é recorrente. Não há ordem na arrumação de todos os objectos que cobrem as paredes. Mas a graça da sala vem, precisamente, desse caos.

Na segunda sala, há mesas a pensar nos casais e grupos pequenos que aparecem para o repasto. A particularidade desta sala é uma parede coberta de telefonias. Há-as para todos os gostos, grandes e pequenas, quadradas e redondas, espécimes dos anos 20 até à década de 80.
Não conte é com elas para lhe dar música. Deixe esse assunto com o grupo de alentejanos que geralmente se encontra na primeira sala. Afinal de contas, parte da experiência da Adega Velha são os cantares alentejanos.

A terceira sala está preparada para receber grupos maiores. Aqui encontra apenas as mesas corridas de madeira e um móvel pesado onde é guardada louça antiga. Consegue vê-la através das portas vidradas. E consegue ver-se através do espelho gigante e palaciano que encobre uma das paredes da sala.

A quarta sala, rodeada de talhas em toda a volta é mais isolada e onde fica a única mesa redonda da casa.

No corredor ficam as talhas, as guitarras e ainda loiças. As paredes rugosas, caiadas a branco estão cobertas de memórias onde encontra todo o tipo de fait-divers, desde diplomas de prémios a jarras de latão. E o chão, tal e qual chão de adega, é de laje e desnivelado, a dar conta da passagem do tempo. É para que saiba que está numa casa vivida e com personalidade.

A adega sempre pertenceu à família Bação. Mas esteve sempre alugada a terceiros. Até que há aproximadamente 20 anos, o engenheiro Joaquim Bação a resolveu transformar em restaurante. E apesar da experiência de bom vivant pela capital e afins, optou por abrir uma espécie de taberna, onde os sabores são genuínos e as paredes contam histórias.

É por isso que opções na ementa, há poucas e boas. E todas elas são típicas, todas elas regionais. Para entradas, não falha nem o pão alentejano nem o queijo da região. As azeitonas e outros petiscos, como o chouriço e outros enchidos locais também se fazem notar. Mas não exagere. Há que deixar espaço para o verdadeiro repasto que se segue.
No Alentejo come-se bem e o termo pratadas é adequado para o próximo passo da refeição. A comida vem servida em tachos de barro, bem a condizer com a tradição da terra, ainda a fumegar e de preferência com o cheirinho a cozinha da avó. De peixe, encontra apenas a sopa de cação, acompanhada pelo pão alentejano que vai molhando na sopa para ficar com o mesmo gosto.

Na carne, opte entre um cozido de grão, uma sopa da panela, um feijão com chouriço ou um lombo de porco preto assado no forno. E se preferir pratos de caça, em qualquer altura do ano, lá encontra na ementa a perdiz à Adega Velha ou a lebre guisada. Tudo regado a vinho da talha de produção própria.

Eis que percorreu toda a ementa da casa. Ou quase toda. Faltam-lhe as sobremesas. E como três é a conta que Deus fez, delicie-se com uma encharcada, um bolo rançoso ou um manjar real. E a conta não lhe vai ultrapassar os dez euros. Para fechar com chave de ouro, peça um dos licores da casa. Ajuda-lhe a digestão. 

Fotos gentilmente cedidas pelo compadre Paulo Fernandes.
Texto da comadre Andreia Melo.

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