Este é o meu peixe.
Sessenta metros separam-me da margem onde acabo de observar um
Tartaranhão-ruivo-dos-pauis(Circus aeruginosus). Este, tranquilamente, come os restos de uma carpa que, aparentemente, há muito jaz naquele local. Ao seu lado, uma Garça-real patrulha as margens arenosas da albufeira e comporta-se nervosamente. Está agitada e inquieta com o que a rodeia. O Tartaranhão-ruivo-dos-pauis é o meu alvo fotográfico e fixo o meu olhar no seu comportamento. Direciono o abrigo flutuante para o local e faço-me ao caminho.
Tartaranhão-ruivo-dos-pauis(Circus aeruginosus). Este, tranquilamente, come os restos de uma carpa que, aparentemente, há muito jaz naquele local. Ao seu lado, uma Garça-real patrulha as margens arenosas da albufeira e comporta-se nervosamente. Está agitada e inquieta com o que a rodeia. O Tartaranhão-ruivo-dos-pauis é o meu alvo fotográfico e fixo o meu olhar no seu comportamento. Direciono o abrigo flutuante para o local e faço-me ao caminho.
A Albufeira do Caia está com uma cota de armazenamento de água muito abaixo do seu limite médio, mas, ainda assim, extende-se por quilómetros e quilómetros do Alto Alentejo. As margens são na sua maioria pouco inclinadas, rodeadas por vastas extensões de montado, que aqui e ali, começam a perder terreno para as culturas de olival intensivo que vão descaracterizando a paisagem.
O fundo deste extenso lago é, também ele, pouco acidentado com depressões ligeiras e pouco acentuadas que me permitem percorrer uma vasta área à procura dos motivos fotográficos. Entrei na água às 6h20m da manhã ao som de bandos de grous que me sobrevoam ruidosamente, abandonando os dormitórios existentes nalguns recantos da albufeira.
O fundo deste extenso lago é, também ele, pouco acidentado com depressões ligeiras e pouco acentuadas que me permitem percorrer uma vasta área à procura dos motivos fotográficos. Entrei na água às 6h20m da manhã ao som de bandos de grous que me sobrevoam ruidosamente, abandonando os dormitórios existentes nalguns recantos da albufeira.
Nas últimas duas horas percorri cautelosamente algumas centenas de metros até chegar a uma "pequena ilha" habitada por uma Garça-real, alguns Corvos-marinhos-de-faces-brancas e algumas dezenas de Gansos-do-egipto que ganham protagonismo como espécie invasora. As minhas movimentações são lentas e silenciosas. Por um lado, para promover a minha furtividade para as aves que nem desconfiam da minha presença e , por outro, com receio de ser ferido nos milhares acessórios de pesca (anzóis, chumbos, molas de engodos, etc...), garrafas de vidro ou latas cortadas que são anualmente abandonadas no leito da albufeira do caia. Apesar de me encontrar a uma centena de metros da margem, o som do obturador da minha máquina é facilmente abafado pelo som de tractores, pescadores com embarcações a motor, pedreiras que fazem as explosões controladas da sua matéria-prima, carros e motas que fazem das margens despidas as suas pistas de corrida e motores de rega que vão sugando parte da água para a substistência do gado. A pressão humana é incrível mas a natureza sobrepõe-se e contempla-me com um nascer do sol intenso. A neblina densa aceita os primeiros raios de sol e dá-se uma explosão de laranjas que criam um ambiente quase mágico.
Faço-me ao caminho na senda do Tartaranhão-ruivo-dos-pauis. As minhas pernas são constantemente sugadas pelo lodo fino que me colam ao chão e dificultam os meus movimentos. A meio caminho paro para descansar e avaliar o comportamento do Tartaranhão à minha aproximação. Tranquilo, a comer. A Garça-real revela-se cada vez mais inquieta ao redor daquilo que inicialmente me parecia uma rocha. Olho com atenção, e vejo o que me parece uma miragem: uma Lontra.
A 50 cm da margem, uma lontra adulta debruçada sobre uma pequena carpa que vai devorando eficazmente com a sua forte mandíbula. Extasiado com tão surpreendente encontro, aproximo-me vagarosamente . Verifico todas as definições da minha máquina duas vezes, faço testes, preparo cartões de memória e enterro as minhas pernas, garantindo a firmeza nos membros inferiores e libertando os superiores para a acção de disparar o obturador sem fazer abanar o abrigo. Faço meia dúzia de disparos ainda afastado do animal e sem nada o fazer prever, este salta para a água fazendo-me adivinhar o pior. Nadando na minha direcção, desconfio que me detectou e que está curioso sobre a minha presença. Roda sobre o abrigo, mergulha mais uma vez e volta à superfície com uma carpa muito maior do que a primeira. Regressa ao local de alimentação e vira-se para mim, como que exibindo a sua generosa presa. Orgulhosamente, coloca as garras em cima do seu peixe e começa a comer. Aproximo-me mais um pouco, realmente impressionado por um comportamento tão inesperado. A Garça-real aproxima-se timidamente da lontra tentando surripiar pedaços de peixe que saltam pelo ar, tal é o vigor com que come o adorável mamífero. Após três ou quatro dentadas eleva-se de forma altiva e olha na minha direcção durante alguns segundos, como que me mostrando as suas capacidades inatas de conseguir alimento facilmente e de tamanha dimensão. Este é o meu peixe - interpreto eu.
Paro de "disparar" durante segundos e contemplo aquele momento tão raro. Fico desarmado por tamanha beleza e como "pescador de imagens de natureza", penso no mesmo instante:
Este (também) é o meu peixe.
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