Autor desta foto: Pedro Tomé |
Quantos de nós - os mais antigos - não se recordam desses espetáculos que, com alguma assiduidade, passavam pela nossa vila e que faziam correr a miudagem para, em seu redor, assistirem a esta manifestação de índole popular, que tanto era do agrado dos mais novos.
Vale a pena apreciarmos, sobre este assunto, o que escreveu o prof. António Galopim de Carvalho numa das suas habituais crónicas colocadas no Facebook.
(Texto da autoria do nosso compadre João Vieira)
(Texto da autoria do nosso compadre João Vieira)
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«Vêm aí os Robertos! Gritava o meu irmão Mário, ofegante de dois andares a subir de um pulo, vindo da rua. Era assim que nós nos referíamos a esta herança cultural portuguesa que é o teatro de fantoches ou de marionetas, dito “de luva”. Descemos de um salto e, já na rua, a correr, ouvíamos a voz de “palheta” do bonecreiro. Lá estavam eles, gesticulando, no topo de uma guarita instalada naquele passeio mais alargado da Rua João de Deus, em frente da mercearia do Anselmo, rodeada por uma muito razoável assistência de miúdos e graúdos. Já montada, a guarita era uma armação de madeira forrada com chita barata, a fazer as vezes de palco virado a todos os quadrantes.
De pé, escondido lá dentro, o bonecreiro, falando sem parar, manipulava os figurantes, simples bonecos ou fantoches reduzidos a uma tosca cabeça de pau, vistosamente pintada, agarrada a um meio corpo que não era mais do que a respetiva roupa. Diz-se fantoches “de luva” porque o operador mete o dedo indicador na cabeça do boneco e usa o polegar e o dedo médio para fazer os braços, enfiando-os nas mangas terminadas por mãos igualmente vistosas. Testemunho de uma das tradições mais antigas das artes cénicas europeia e portuguesa julga-se ter ido buscar heróis populares ao oriente.
Deste teatro de rua reduzido à sua expressão mais simples, recordo, sobretudo, as cenas de conflito, resolvidas à cacetada, e os sons muito especiais que, só mais tarde soube serem conseguidos com a “palheta” um instrumento adaptado à boca do operador e lhe confere uma voz metálica e bem audível, de que ressaltam, em especial, os “rrrrrr” contidos em muitas das palavras-chave do texto (rapaz, rosa, torre, porrada, Rita, Roberto,…), só possíveis através do uso deste instrumento. Eram os sons estridentes, assim conseguidos, que todos guardamos na memória, que captavam a atenção do público, além de que realçavam o discurso e a ação, tão importantes na transmissão de “vida” aos bonecos. (…)»
Fotos retiradas da Internet.
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