Eram Cochos e Tarros de vários tamanhos, algumas miniaturas de instrumentos agrícolas, mas o que me atraiu de imediato a atenção foram as miniaturas de carroças e churriões alentejanos, feitos com uma perfeição incrivel.
Explicou-me então que o Lar lhe ficava com o dinheirinho da magra reforma e nem para beber um copito tinha trocos no bolso: "É por caridade, amigo João, prantas isto na pratelêra, na me serveim pra nada."
"Então mas vê-se perfeitamente que isto foi feito com muito carinho, são recordações de outros tempos..."- disse-lhe, tentando dissuadi-lo de tal.
"Dás-me o que queseres, sê lá se quando morreri, isto na vai abalar prá lixêra..."
Se eu lhe comprasse aquelas obras de arte, estaria a preservá-las, assegurando-lhe alguma dignidade. E assim fiz por um preço justo.
Aquelas peças vieram para minha casa e ocuparam lugar de destaque na minha pequena colecção de objectos etnográficos.
E desde então, quando passava junto á minha porta, eu fazia questão de o convidar a entrar, beber um copo de vinho tinto e falávamos, falávamos muito de tempos idos, tempos em que ele foi jovem, típico trabalhador rural.
E os seus olhos voltavam a brilhar, deixava de ser o velhote que estava á minha frente...
Ás vezes, pedia-me para ver as suas peças. E lá ia eu buscá-las, zeloso guardião das suas recordações.
Depois de se assegurar que tudo estava como dantes, bem conservado, dizia-me satisfeito, á abalada:
" Até mais ver, João..."
Dedicado ao meu amigo Ti António do Tiro, falecido em Agosto de 2013.
"Até mais ver, Ti António..."
Sem comentários:
Enviar um comentário