Património Rural ou mesmo verdadeiras relíquias de engenharia mecânica popular os moinhos de água são engenhos accionados pela força motriz da água. Estas construções localizavam-se nas margens de rios ou ribeiras cujo o caudal era quase permanente, mantendo assim o moinho em movimento praticamente todo o ano. Para ser um bom moinho, havia que preencher alguns requisitos, como moer todo o ano, possuir duas ou mais mós, uma para milho e as restantes para trigo e cevada. A água era conduzida ao moinho, através de açudes e levadas. Estas tinha que estar muito bem conservadas de forma a resistirem às cheias e enxurradas.
Os moinhos de água, uns mais tarde outros mais cedo, a partir dos anos 60, 70 do século passado, começaram a ficar inactivos com o surgimento das moagens industriais, accionadas a electricidade ou a motores de combustão, factos que irão contribuir para o desaparecimento de mais uma profissão, o de moleiro. Hoje restam apenas ruínas das estruturas e algumas histórias e testemunhos orais das vivências de outros tempos.
O moinho do Bigorrilhas, nas margens da ribeira de Alcáçovas é testemunho disso mesmo, tendo sido o último, de alguns moinhos existentes nas margens da ribeira a ser desactivado no ano de 1970. O meu pai
com 15 anos ainda foi lá buscar alqueires de farinha. Iam lá levar o trigo e
depois distribuíam pelas pessoas. O ti Bigorrilhas vivia lá mesmo com a sua mulher era a Sra. Umblina. Era o mais pequeno dos irmãos, mas era considerado o mais valente. O irmão deste era o Ti Tanissa, que era mais alto, era também proprietário de um moinho junto à ribeira de Alcáçovas. Estes moinhos já vinham dos antepassados deles.
1 Alqueire de farinha (10 kg) dava para 6/7 pães caseiros
que eram pães com mais de 1 kg cada um. A minha avó amassava 1 alqueire de farinha, com o
fermento que ficava de uma semana para a outra. Ficava uma bola de uma semana para
a outra. Amassava-se de semana a semana. O pão cozido dava para a semana toda.
A Ribeira de Alcáçovas representou sem dúvida durante muitos anos um factor de
desenvolvimento económico e social para a vila de Alcáçovas. Através da
ribeira e o funcionamento dos moinhos representavam o sustento de grande
parte da população da vila. Na altura, os patrões mandavam o trigo e milho para os moinhos
para depois distribuírem pelas pessoas que para eles trabalhavam.
Testemunho oral de Joaquim Grave e Ana Arsénia Fava Caipira
– 11/4/2009.
Testemunho oral de Celestino d’Ascenção Caeiro – 23/5/2009.
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