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quarta-feira, 16 de maio de 2018

Benção do Gado ( S. Amaro-Sousel)





















Benção do Gado em Santo Amaro, concelho de Sousel.

Santo Amaro é uma freguesia do concelho de Sousel, na região do Alto Alentejo, com 39,51 km² de área e 644 habitantes. A sua densidade populacional é de 16,3 hab/km²


No dia 12 de maio, Santo Amaro cumpriu uma das mais antigas tradições do concelho de Sousel, a Bênção do Gado.
O certame, foi organizado pela Junta de Freguesia de Santo Amaro e pela Câmara Municipal de Sousel.
Fotos da autoria da nossa comadre Ana Dores.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

A Choça do Pastor (By Manuel Manços)

Estátua de Homenagem aos Pastores (Beja)
Foto: Dália Pinto Pinho
A CHOÇA 
A choça, erigida pelo pastor, era formada por duas placas de razoáveis dimensões que tinham, na sua constituição, ervas e caules macios de cereais secos, que por sua vez se mantinham unidas na parte superior, formando um enorme triângulo, com o vértice virado para cima, e alguns paus, com função de barrotes sustinham, e mantinham de igual modo as ervas bem unidas. Serviam tanto na parte exterior, como na parte interior do abrigo, de suporte para colocarem e pendurarem os mais variados apetrechos que o pastor utilizava no dia a dia. Enquanto na parte exterior se podiam ver, por exemplo, um machado, uma fouce entre outros objectos, no seu “interior” havia outros barrotes de sustentação, teria que os haver também, que costumavam ser utilizados na suspensão de outros objectos, como por exemplo, toalhas de rosto, um espelho para o Pastor poder recordar a sua imagem, quando lhe chegasse a nostalgia de outros tempos, e para cortar a barba; duas candeias alimentadas por azeite, que costumavam fazer despontar duas pequenas chamas, cada uma, que combatiam a negrura total das noites, e aliviam tréguas enquanto lhe emprestavam a pouca luminosidade que lhes seria permitido oferecer, mal se pusesse o sol, e em outros dias até mais cedo, quando o céu ficava carregado de nuvens e se impunha a presença das quatro pequenas e débeis chamas, nos ares daquelas “charrabumbas” que o sol apenas visitava a determinadas horas do dia, por andar arredado, em outros locais. Os tachos, as panelas e os talheres costumavam ser arrumados sobre o tampo duma pequena mesa de madeira, próxima doutra mesa maior, onde eram servidas as sopas, em pratos rústicos, de louça alentejana, do Redondo. Também lá se encontravam três “burros” feitos de madeira, que deviam a sua origem a duas pernadas, cortadas dum chaparro, para que o Pastor e as suas visitas se pudessem sentar.

Por falta dum aparelho de televisão, e duma telefonia, para entreter e quebrar a nostalgia que a passagem do tempo lhe causava, o Pastor, observava a fantástica magia que o nascer e o pôr do sol exerciam, ainda que não fosse a mesma coisa, nem surtisse o mesmo efeito, “o astro rei” quase que os substituiria, quando decidia “banhar a terra”, com os seus mortiços raios de lume, e caminhava, a “passo lento”, para fazer despedidas e a depois desaparecer, mansamente, por detrás dos altos cabeços que os rodeavam, como se levasse com ele muitas saudades, para outras paragens, de outros Países distantes, e materializar-se nas sombras das árvores, que se agigantavam em imagens fantasmagóricas, para que ele, o Pastor, pudesse escolher livremente, na sua imaginação, para o seu “teatro de rua” as personagens e os cenários que mais lhe aprouvesse.

Mais de metade do espaço ocupado por aquele “palácio” ambulante, era substituído por palha, que se amontoava no chão, em alta camada, com a finalidade de formar um colchão fofo, onde o Pastor “armava” a sua confortável cama, e normalmente cobria com cobertores, mantas e lençóis. Ali se deitava só, ou acompanhado, consoante tivesse, ou não, os seus familiares, como visitas, depois de ter vigiado e tratado da melhor forma que sabia, o seu rebanho, sob a luminosidade dum manto infinito de estrelas, e ouviria, com a nostalgia dum poeta, o piar das aves noctívagas, e os ruídos naturais que o campo emitia, logo depois do galo cantar.
Cautelosa, a lua, por vezes, também aparecia, para lhe fazer uma visita. Primeiro espreitava por detrás dos cabeços, para depois se abalançar, ganhar confiança e caminhar vaidosa, sem nada ter que temer, pelos outeiros abaixo, e descansar, apenas, na planície, a seus pés, enquanto atirava parte dos seus raios luminosos para o interior da choça, que se tornariam rivais das fagulhas que a fogueira emitia, sem controle. Estes, por sua vez, ofereciam-lhe uma claridade relativa, que era acompanhada por invulgar poalha prateada, onde se poderiam até distinguir os rostos das pessoas e dos animais, assim como os contornos de alguns objectos que se encontravam, expostos, no interior da singela cabana.

A maior parte das noites, quando, por qualquer razão não se podia deslocar à sua residência, era ali que ele se deitava, como um triste e desolado eremita, em companhia dos seus fieis amigos, os seus cães, e dos animais que constituíam o rebanho, de que ele reconhecia a sua individual fisionomia, se estava só, ou em companhia da sua esposa e dos seus filhos. Era ainda naquela cama que ele recuperava forças e até chegaria a conceber a vida, que se materializaria na fisionomia de um ou de dois dos seus descendentes.
Também, em algumas noites, carregadas de breu, que teriam a particularidade de rechear os ares e os campos por fortes tempestades, tocadas por aguaceiros e ventos ciclónicos, que fariam estremecer e perigar a constituição e a segurança da choça rudimentar, como se andassem por ali mãos de titãs, e obrigavam os objectos, pendurados no seu interior, a dançar como simples penas de aves.

Por vezes, lá longe, encavalitados nos rochedos, avistavam-se raposas, e lobos até, que pretendiam visitar o rebanho, os últimos muito raramente, porque os cães, sempre atentos e vigilantes, quando lhe pressentiam o cheiro, espetavam o focinho no ar, davam dois uivos que ecoavam nos cabeços e até se enfiavam nos buracos dos barrancos, e eles, como que por magia, desapareciam das vistas de quem ali se encontrasse, levando a mesma fome de volta que tinham trazido.
Também era costume aparecerem, sem aviso prévio, como se houvessem saído do fundo dum buraco, no subsolo, velhas andrajosas e velhos famintos, que constituam os exércitos de bruxas e de lobisomens, de que tanto se falava, e muito assustavam os mais fracos e sensíveis. Esfomeados e sequiosos, no seu humilde olhar, pediam ao Pastor, uma esmolinha, um bocado de pão com toucinho, ou com azeitoninhas, que eram os “condutos” mais baratos, tudo “pla mor de Deus” e o Pastor, “raso de pena”, dava-lhos, porque também gostava de os ter ali com ele, sempre teria com quem falar, para além da companhia que eles lhe faziam, enquanto ali permanecessem. Mas de que poderia falar a “gente velha, e escaqueirada”, se não das suas mazelas, da fartura das suas fomes e dos farrapos que vestiam…? Até abrigo eles pediam, porque, normalmente, se lhes tornaria impossível dar um passo, no breu da noite, fosse para onde quer que fossem, devido à terrível fúria dos elementos, que costumavam andar por ali à solta, e com que a natureza os castigava, na sua passagem… e porque os castigaria ela assim, se o seu único e real pecado, era serem velhos, não terem um naco de pão, para comer e vestirem tanto no verão, como nos Invernos rigorosos, o mesmo figurino, de farrapos andrajosos?
O Pastor condoía-se da sua sorte, que não tinha sorte nenhuma, costumando desviar uma porção de palha, à palha da sua cama. A seguir e sem temer os seus “poderes sobrenaturais”, deitava-os numa cama, a seus pés, feita só para eles, depois de os ter obrigado a enxugar, a eles, e aos seus farrapos, em redor do lume. E quando ele lhes oferecia um dedal de vinho…? Era do céu que “aquela fartura” caía, como enorme felicidade, que não estavam à espera, e ele gostava de lhes ver aquela alegria estampada nos rostos mirrados e sujos. Depois, bêbedos de sono e cansaço acabavam por sonhar… Sonhavam sempre com a felicidade que não tinham, nunca tinham tido e jamais poderiam vir a ter.
Na sua solidão, restaria ao Pastor, ver o sol declinar, e encaminhar-se para outras paragens, como a azafama que observava nas ruas dos Montes, que se encontravam erguidos nas proximidades, onde os assalariados entravam e saíam, com a satisfação estampada no rosto, e se pressentia ao longe, para se encaminharem para as suas residências, que se encaixavam numa rua, em alguma das aldeias limítrofes, deixando-lhe ficar por companheira, a nostalgia, por ele não ter anoitecido, também, na sua aldeia, nem ter dormido na saudade da sua cama.
Manuel Manços


sábado, 11 de julho de 2015

Arte Pastoril Alentejana

Colher (Dimensões: 31 x 8,5 cm; Peso: 82 g)
Executada em 1974 em pau de bucho, levou 35 horas 
a ser confeccionada e custou na época, 350$00,
o que corresponde hoje a 53,6 €.
Colecção particular.

Garfo (dimensões: (24 x 3,5 cm; Peso: 26 g)
 Executado em 1973 em pau de bucho.
Em 1985 era vendido por 2000$00,
o que corresponde hoje a 112,5 €.
Colecção particular.

Tão certo como o Alentejo não ter sombra, senão a que vem do céu, é que, sem sombra de dúvida, que a arte pastoril alentejana é uma das mais ricas e expressivas manifestações de arte popular portuguesa.
Com uma simples navalha, ora se escava a madeira em baixo ou alto-relevo, ora se borda artística filigrana que nos faz lembrar o ouro minhoto. O motivo é fruto do imaginário do artista popular e tem sempre um significado expresso na pauta, muitas vezes de madeira, mas também de cortiça e de chifre, tal como um virtuoso violinista que com o seu preciso arco, faz vibrar as tensas cordas do seu violino. A sinfonia é a mesma. A peça executada tem sempre uma função para a qual foi concebida e executada: a de poder ser utilizada ou como forma de expressar a paixão nutrida pela mulher amada ou o respeito e consideração pelo patrão que dá trabalho. São certezas ancestrais que remontam à memória dos tempos. São estados de alma e convicções profundas que registam magistralmente naquilo que a terra dá, os traços indeléveis da identidade cultural alentejana.
 
Copiado do blog do nosso compadre Hernâni Matos:

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Rota dos Pastores - 14/6/14












No passado dia 14 de Junho, o Projecto Alcáçovas Outdoor Trails realizou mais uma caminhada e desta vez andámos por trilhos novos. Com um dia bem quentinho, iniciámos a nossa caminhada em S. Brás do Regedouro, junto à sua igreja e durante os cerca de 16 km, visitámos montes, uns abandonados, outros ainda habitados, que sem dúvida alguma representam um património rural identitário do nosso Alentejo. Passámos por duas ribeiras, a de S. Brissos e a de Alcáçovas e em ambas pudemos molhar os pés, a cara e houve mesmo quem tomasse banho. Visitámos a ponte romana do séc. III dos Ruivos e a Anta que se encontra mesmo junto ao Monte da Casa Branca. Além do convívio e companheirismo entre os participantes, todos ficaram com vontade de voltar. Um agradecimento à Junta de Freguesia de Alcáçovas pela ajuda na logística. Ao Ernesto Marujo por ter oferecido os bolinhos para o briefing inícial e que sem dúvida é uma excelente forma de promover os produtos locais. E também à Câmara Municipal de Viana do Alentejo. Até breve.  

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Chocalhos...

 
 
O senhor Penetra mantém a forja e um pequeno museu de iniciativa e teimosia pessoal.
Descendente de várias gerações de homens que faziam chocalhos, guizos e cascavéis, gente que trabalhava desde antes da madrugada e com calores só suportáveis por quem desde pequenino cumpria o árduo trabalho de assinalar o gado dos outros. Havia chocalhos para vacas, outros para ovelhas, chocalhos para o gado que pastava nas herdades sem cercas, chocalhos para o gado que se deslocava para outras pastagens mais frescas.
Alcáçovas era local de passagem para os longos caminhos da transumância, desses pastores que se deslocavam incessantemente das montanhas para as planícies, acompanhados por esses cães a que só lhes faltava falar, habituados a ordens, com vozes, assobios e apitos, que só uma cultura inteligente e secular pode produzir. Os últimos homens da transumância eram conhecidos por gente de "mal andar", porque o seu gado ia comendo por onde passava, mudando constantemente de lugar, mal sabendo os novos donos das propriedades, que antes de haver esta propriedade privada exclusiva, já existiam pastores com direitos de passagem desde há milénios.
O chocalho não é apenas um objecto construído com suor; é também um símbolo de gente que desconhecia ou derrubava fronteiras.
 
Texto copiado do blog do nosso comadre João Simas, http://ruadealconxel.blogspot.pt/




quinta-feira, 5 de junho de 2014

Cocho ou Cocharro

Antigamente, não havia fonte ou poço que não tivesse um Cocho disponível para que o viajante sedento pudesse extrair a preciosa água e apaziguar a sua sede.
Cocho ou Cocharro, dependendo da zona do Alentejo, este objecto em cortiça era feito por mãos hábeis, geralmente de pastores, que tinham muito tempo para se dedicar a esta arte.
Utensílios preciosos, mas baratos, era impensável roubar-los, muito menos para os levar de recordação.
Dizem as más línguas que, quem os levou, utiliza-os para decorar as paredes das garagens. Será?
Aqui no Alentejo, enquanto os velhotes forem vivos, continuaremos a ver Cochos. E depois?
Quando a geração mais idosa deixar este Alentejo para sempre, quem fará mais Cochos com uma navalhinha e um pedaço de cortiça?
Perderemos mais uma importante parcela da nossa identidade.
Dirão alguns doutores pensantes: E depois? Qual é o problema? Bebam água engarrafada, se quiserem...
Pois... E o Alentejo deixará de ser Alentejo. Ficará sem alma, sem orgulho...
A nossa força depende da nossa tradição, dos nosso costumes ancestrais, da memória que nos foi deixada pelos nossos avós...

sábado, 5 de abril de 2014

Artesanato em Madeira










Por todo o Alentejo, existem pessoas que se habituaram a trabalhar a madeira e a cortiça de forma eximia e que o fazem com muita dedicação e orgulho, pois as suas obras retratam os objectos do dia a dia rural do Alentejo de outros tempos. 
São artesãos locais que normalmente não vendem o seu artesanato, mas que ficam muito orgulhosos quando o mostram aos visitantes.
Hoje, publicamos fotos dum artesão de Alcáçovas, Miguel Batista, a quem muito agradecemos ter-nos aberto as portas da sua casa para nos mostrar o seu pequeno tesouro...