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terça-feira, 13 de março de 2018

Pias (Serpa)












Hoje vamos até ao distrito de Beja, ao concelho de Serpa para visitarmos a Vila de Pias.
A vila de Pias já pertenceu ao concelho de Moura entre os anos de 1864 e 1890.
Passou definitivamente para o actual concelho de Serpa em 1898.
A origem do nome da vila de Pias, deve-se ao facto de antigamente ter havido nesta zona a produção de manufacturas em granito que eram extraídas das saliências rochosas e que eram utilizadas para dar de beber e comer aos animais.
Também era atribuído o nome de "Pias" aos buracos que ficavam nas rochas após se extraírem as mós para os moinhos, ás pias e ás soleiras que ficavam cheias de água no Inverno, assim como à existência de mulheres "pias"(piedosas ou devotas) nesta região.
Na linha ondulante da paisagem, aparecem as pequenas casas da vila de Pias, apenas interrompidas pela alta Torre do Relógio. A verdadeira descoberta nesta simpática vila de casas brancas, é quem lá vive. Dá gosto ouvir o Cante Alentejano, feito de vozes masculinas e cantado pausadamente ao ritmo dos pés a bater na terra. O seu artesanato está representado pelos trabalhos feitos em ferro forjado e em madeira. Nesta terra de pão, azeite e vinho, a gastronomia é feita de produtos simples, como a sopa de poejos, os cogumelos do campo ou o cozido de couves. Mas os pratos de caça são aqui uma especialidade.
E como diz o proverbio popular: Lá vai Serpa, lá vai Moura e as Pias ficam no meio...
Um lugar a ter em conta para visitar.

Texto da autoria do nosso compadre José Pessoa.
Fotos retiradas da internet e trabalhadas pelo nosso compadre José Pessoa.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

A Carvoeira de Pias...










“Sou aquela que sabe aqui trabalhar melhor com os fornos”.
Neste aspeto não sobra um pingo de modéstia, ou de realismo, a Mariana Carreto Véstia Moisão.
Até porque, acredita ela, esta é uma arte que não necessita de “grandes sabedorias”, mas que tem lá os seus truques. E a última carvoeira de Pias conhece-los a todos. Sabe de cor a cor que o fumo toma. Teme os ventos de inverno que acendem perigosamente a lenha. Receia as chuvas que desfazem a lama que abafa os fornos.
Poucos atulharão uma fornada com tanta precisão como a sua. Mas o que realmente a realiza é encher as sacas. “Quem trabalha com a forquilha sou eu”. 
Aos 55 anos, e passados 30 sobre o dia em que queimou a sua primeira carrada de lenha de azinho, Mariana Moisão já não é capaz de esconder: “agora vou estando cansada”. São as dores, pois claro. “Agora já não venho encher… Eu, que chegava a puxar-lhe fogo e vinha encher e tirava e enchia e ainda ia ao Algarve levá-lo”. Ao carvão, pois claro, essa negra e adormecida encarnação do fogo, cujo fabrico exige dedicação total e absoluta. “Pode haver um dia de folga, mas temos de vir cá sempre… Quer dizer: Há, mas não há”.
“Gosto de trabalhar com a forquilha”
“Agora já não lhe puxo fogo”.
“Nunca pode sair fogo pelos ouvidos porque, se saísse, o forno rebentava”.
“O forno tem sempre um bafinho quente. A gente entra ali e parece uma sauna para começar a trabalhar”.
“Agora já não venho a encher, as dores já vão sendo muitas”.
“É um trabalho de força e, a gente fazendo força, está melhor pela fresca do que pela hora do calor”.
“O inverno é perigoso para isto. O vento e a chuva são contra os fornos”.
“Tudo isto tem a sua ciência. Não é nenhuma coisa de grande sabedoria, mas tem os seus preceitos de se fazer as coisas”.
“A gente nota, já conhece o fumo”.
“É um trabalho muito preso, não vamos descansados a lado nenhum”.
“É o encher, é o levantar… É o encher, é o levantar, isto mexe muito com o corpo da gente”.


Texto Paulo Barriga Fotos Rui Cambraia

http://da.ambaal.pt/index/

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Cante, um Hino ao Alentejo...

Documentário sobre o Cante "Alentejo, Alentejo" de Tréfaut estreou-se no dia 28 do mês passado.

O documentário insere-se no projeto de candidatura do Cante a Património Imaterial da Humanidade e conta com a participação, entre outros, d'Os Camponeses de Pias, dos Cantadores da Aldeia Nova de S. Bento, do Grupo Coral da Casa do Povo de Serpa e do Grupo Feminino de Alcáçovas, que interpreta "Portugal está na crise", ...uma letra contemporânea.

"Alentejo, Alentejo", que inclui ainda a participação de várias escolas básicas, recebeu o Prémio para o Melhor Filme Português no Festival Indie Lisboa, deste ano.

"Nascido nas tabernas e nos campos, o cante transmitiu-se ao longo de várias gerações. Nas últimas décadas, com a diáspora alentejana, novos grupos surgiram na periferia de Lisboa e em diversos países de emigração. Muitos deles formados por adolescentes e crianças, provando que o cante está vivo e é o traço identitário de toda uma população", afirma em comunicado a produtora.

"'Alentejo, Alentejo' é uma viagem a um modo de expressão musical único e à paixão dos seus intérpretes", segundo a mesma fonte.

Além dos grupos participantes, como o Papoilas do Corvo, o filme do realizador nascido no Brasil regista vários depoimentos, como o de Bento Maria Adega, de Safara, no concelho de Moura, que afirma: "Foram cigarras e pássaros que ensinaram os alentejanos a cantar".

Entre os grupos que se foram formando fora do Alentejo, território de origem do cante, participam, entre outros, Os Rouxinóis da Damaia e Os Bubedanas.

Um dos momentos do documentário é a interpretação do tema popular "Solidão", por um grupo de cantadores, junto da campa do etnomuiscólogo Michel Giacometti, no cemitério de Peroguarda, Ferreira do Alentejo...

Mais informação : http://portocanal.sapo.pt/noticia/35718/

terça-feira, 9 de julho de 2013

Cante no feminino.

«Ceifeiras de Pias» e «Papoilas do Enxoé» são dois grupos corais femininos do Alentejo. Com eles empreendemos uma viagem ao mundo do cante alentejano, um património oral onde também cabem as mulheres. Os primeiros grupos corais femininos surgiram somente na década de 1970, 40 anos depois das primeiras formações masculinas. Hoje, são ainda minoritários.

Mariana Cristina, responsável pelo Grupo Coral Feminino «As Ceifeiras de Pias», dá indicações aos 21 membros do grupo. Dos 8 aos 84 anos, «arrumam-se» em diversas carreiras, umas atrás das outras, formando um triângulo. Dão os braços 
que, juntamente com o arrastar lento e ritmado dos pés, ajuda ao balancear característico dos grupos corais alentejanos.

O grupo coral foi constituído em 2009 e Mariana Cristina está nele desde os primeiros meses. «Vestimo-nos todas de modo diferente porque desde logo entendemos que antigamente as mulheres quando iam para o campo não se vestiam igual. Comprámos os tecidos e fizemos as nossas roupas», comenta Mariana. Em comum, a foice da ceifeira, o lenço na cabeça e o chapéu.

  O grupo está «arrumado», é hora de entoar as primeiras notas. As cantigas pertencem ao cancioneiro tradicional alentejano, o mesmo onde os grupos corais masculinos vão «beber» as suas modas. Quase sempre os versos descrevem o dia-a-dia no campo. «O Cante foi uma prática quotidiana no seio das comunidades alentejanas dos finais do século XIX e princípios do século XX, cantado por homens e mulheres no trabalho, na ida e vinda do trabalho, no lar, na taberna, nos bailes e festas locais», comenta Sónia Cabeça investigadora do cante feminino.

Ao contrário do que muitas vezes é sugerido, o cante alentejano no feminino é tão genuíno quanto o masculino. Sónia Cabeça explica que «esse entendimento, infelizmente ainda hoje veiculado, de que a mulher não tem tradicionalmente lugar no cante, se deve ao facto de se associar a sua genuinidade apenas à sua expressão coral, aos grupos corais».

No entanto, os grupos corais mais antigos datam da década de 1920, mas o cante é anterior a isso. «Ao criar esse formato [grupo coral], a mulher vê-se arredada da prática formal do cante. Ela não teve lugar nos grupos, não podemos esquecer o papel que era atribuído à mulher na altura, mas continua a cantar. Foi-lhe vedado inicialmente o acesso a determinadas modalidades do cante porque o espaço social da mulher não incluía nem a taberna nem o grupo coral, mas ela sempre foi intérprete do cante», acrescenta a investigadora.

Alheias a estas discussões estão as «Ceifeiras de Pias» que a várias vozes, umas mais agudas que outras, vão contando histórias, em rima, do trabalho do campo, dos amores e dos desamores, do quotidiano da planície.

Sónia Cabeça considera que «muitos destes grupos femininos vêm revitalizar não só peças do repertório do cancioneiro tradicional votadas ao abandono pelos grupos formais, como outras tradições locais entretanto caídas em desuso. Hoje, vários grupos femininos, masculinos e mistos adoptam este “novo” repertório, como por exemplo, o cante ao menino, os reis e as janeiras. Por outro lado, muitas modas haviam sido forjadas no seio dos grupos outrora exclusivamente masculinos. Ora a mulher, por deles estar arredada, não as cantava e estas não estavam adaptadas às suas vozes. Hoje, elas fazem parte do repertório comum».


 A investigadora sublinha ainda que «cantando em conjunto ou separado, nada impede que homens e mulheres cantem as mesmas modas».

As «Ceifeiras de Pias» terminam a sua apresentação. Há ainda tempo para ouvir o Grupo Coral Feminino «Papoilas do Enxoé», de Vale de Vargo. Juntam-se, como o grupo anterior, sob a orientação de Sebastião, o ensaiador do grupo. O membro mais velho conta já 77 anos, enquanto os mais novos têm pouco mais que uma década de vida. Vestidas de ceifeiras, mondadeiras, de chefe, de aguadeira, as «Paoilas do Enxoé» recriam as profissões de antigamente. Para Sebastião, as mulheres não conseguem cantar as mesmas modas que os homens, por isso ensaia com este grupo «modas mais leves que se adaptam melhor à voz feminina», diz.

Ao cancioneiro alentejano vai buscar as cantigas mais antigas para o grupo de 23 membros cantar.

Recuando no tempo, Sónia Cabeça adianta que «o grupo feminino mais antigo ainda em actividade data de 1979. É o Grupo Coral Feminino “Flores de Primavera” de Ervidel, na altura constituído por sugestão de um senhor e formado por várias jovens casadas, o que resultou num coro de críticas na sua terra. Seguiram-se, já nos anos 80, o Grupo Coral e Etnográfico Feminino “As Camponesas de Castro Verde” (1984) e um grupo entretanto desaparecido nas Alcáçovas».

Possivelmente, esclarece a investigadora, estas formações femininas acontecem depois de se interrogarem: «“Se os homens cantam em grupos, porque não as mulheres?”». Sónia Cabeça diz que «terá sido, porventura, esta a questão que a maioria dos primeiros grupos femininos colocou. Mas a mulher continuou a ser um elemento minoritário no universo dos grupos corais e só no final do século XX e princípios do século XXI encontrou maior expressão. Fazendo uma contagem um pouco grosseira, posso afirmar que entre 1995 e 2005 foram fundados pelo menos 25 grupos corais femininos que ainda hoje se mantêm no activo».
Reportagem da comadre Sandra Pelicano,

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pias (Serpa)

Grupo Coral e Etnográfico " Os Camponeses de Pias"
 
Lá vai Serpa, lá vai Moura e as Pias ficam no meio, em chegando à minha terra não há que haver receio.
Ó Pias, ó piais, à volta de Pias só há olivais.

A origem do nome da vila de "Pias" deve-se ao facto de antigamente ter havido nesta zona a produção de manufacturas em granito, que eram extraídas das saliências rochosas e que eram utilizadas para dar de comer e beber aos animais.
Também era atribuído o nome de "Pias" aos buracos que ficavam nas rochas após extraírem as mós, as pias e as soleiras que no Inverno se enchiam de água.
O desenvolvimento desta indústria e a sua diversificação levou a que muitos cabouqueiros se viessem a instalar nesta zona e, em face da indústria praticada, o nome do local se passasse a chamar de Pias ou Aspias.

 
Foto gentilmente cedida pelo compadre Henrique Carvalho