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sábado, 16 de junho de 2018

Crónica de Caçadores...


Quanto mais  conhecemos os direitos dos animais, menos vontade temos de os comer.
Hoje venho falar-vos de algumas incongruências  do ser humano que registei na última semana.
A primeira, prende-se com a frase com que dou início a esta crónica e que me foi referida por uma amiga que desde há meses trabalha numa clinica veterinária.
Dizia-me ela que, quase de repente, adquiriu uma consciência, uma mutação, uma nova maneira de olhar o mundo desde que lida de perto com a dor dos animais.
Ela, que sempre fora uma pessoa preocupada com o bem estar animal (sempre possuíra cães e gatos) estava agora com um certo peso na consciência por no passado ter matado com as suas próprias mãos animais que hoje procura salvar, nomeadamente coelhos.
Dava-me como exemplo o felpudo animal, por ser também um animal de estimação — especialmente para estrangeiros — e, ao mesmo tempo, um item da nossa cadeia alimentar à venda no talho onde adquire outras carnes depois de sair desse trabalho veterinário.
Outro exemplo dessas incongruências foi-me relatado na semana passada aquando do meu regresso a Entradas. Falava-se de um vizinho meu cuja cadela tinha parido 7 canitos.
Até aqui nada de anormal. O motivo de censura — para o grupo de mulheres com quem falava­ — era ele não os ter afogado à nascença. 
Estas mulheres, gente boa, honrada e de bons princípios, cresceu com esta “normalidade” que é matar os filhos de outros à nascença e depois regressar à cozinha para terminar o estrugido.
O poeta José Gomes Ferreira, referindo-se à caça em certo poema afirmava não compreender como é que um homem pode chegar a casa, beijar mulher e filhos, e fazê-lo com cadáveres presos à cintura.
Por falar em caça, deixo aqui a última incongruência. Passeava eu os meus cães perto de casa, quando avistei um vizinho com um balde na mão.
O homem entabulou conversa comigo e, muito entusiasmado, dizia-me ter descoberto  um bando de pombos de mais de 500 indivíduos. Que o trigo no balde era para os habituar a regressar ali todos os dias para no dia 20 de Agosto darem lugar à chacina.
E com os olhos resplandecentes de orgulho relatou-me que no ano transato, ele e os amigos tinham abatido de uma só vez 180 deles.
E já de abalada confessou: —  Eu até nem gosto de pombo, é mais pelo vício de matar!


Publicado no Jornal Correio Alentejo de 21 de Julho de 2017
Copiado do blogue: http://pulanito.blogspot.pt/

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Napoleão Mira e Reflect - 12 Canções Faladas


Um homem que edite o primeiro trabalho discográfico, em nome próprio, aos 60 anos, é louco. Se não é louco, então algo de surreal aconteceu.
Julgo que o resultado destas 12 Canções tem um pouco das duas hipóteses.
Quando o Pedro Pinto — também conhecido por Reflect — me contactou para gravar o poema “Foi Chuva” da malograda Carolina Tendon, estava muito longe de imaginar que o resultado desaguaria no registo que agora tem nas suas mãos.
Nessa noite fria em que fui registar a voz desse texto invernil, levei comigo um outro: “Máscaras de Orfeu”.
Pedi-lhe que mo deixasse gravar para ver como saía. Quando terminei, o Pedro e os restantes elementos da banda saíram da régie com cara de caso. Perguntaram-me se tinha mais material daquele calibre. Respondi-lhes que sim e, logo ali, lhes lancei o repto de musicarem o tema em questão.
Uma semana volvida, fui convidado a regressar ao estúdio para aquilatar do resultado. Estava perfeito.
A partir daí, regressei uma vez e outra à Kimahera. Ensaiámos, gravámos e musicámos outros temas, até chegarmos à conclusão que não devíamos guardar o resultado dessas madrugadas de criação só para nós.
Dessas noites de insónia nasceu a performance de spoken word: 12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado.
O abrupto desaparecimento da Carolina foi um choque. Um choque terrível e brutal. Porém gosto de pensar que, lá das planícies eternas onde agora habita, terá o poder de mexer uns cordelinhos, de alinhar uns quantos astros, de modo a que levemos a nossa — e a sua! — poesia aos corações de quem na quiser escutar. Quero acreditar que foste o clique, o tal fio condutor que resultou nesta feliz parceria.
Obrigado, Carolina!

sábado, 30 de janeiro de 2016

Entrudanças 2016 (Castro Verde)

Músicas e danças tradicionais do Baixo Alentejo e as de outras origens, gastronomia local, passeios temáticos e atividades para crianças e famílias fazem o Entrudanças.2016.
De 5 a 7 de Fevereiro, a vila de Entradas, em Castro Verde, recebe mais uma edição do Entrudanças, o Festival que junta numa vila do coração do Alentejo artistas de várias disciplinas e participantes de todo o país, para um fim-de-semana de convívio e diversão a descobrir as tradições. Este ano, o mote é "A Chocalhar o Entrudo": 3 dias a escutar a musicalidade dos chocalhos na Planície e a aproveitar um fim-de-semana preenchido por atividades, em que a programação sugere a transumância, transportando-nos numa dança entre identidade local, nacional e internacional, cruzando gentes, tradições e saber-fazer de vários locais.
Entre as atividades programadas contam-se os concertos-bailes com Moços de uma Cana, Grupo Coral Vozes do Casével, Os Cardadores da Sete, Os Ganhões de Castro Verde, As Atabuas de São Marcos da Atabueira, Ana Valadas, mas também Duo Milleret Mignotte, Samba Sem Fronteiras, Orquestra de Foles, Paulo Bastos, Parapente700, entre muitos outros. Serão bailes, concertos e oficinas de dança, animações de rua, oficinas de instrumentos e gastronomia local. As ruas e as praças de Entradas, o Centro Recreativo, a Biblioteca, o Museu, as Tabernas e até Carpintarias irão transformam-se em palcos, onde confluem tradições do Baixo-Alentejo com as de outras paragens.
O Entrudanças é organizado pela Associação PédeXumbo, Câmara Municipal de Castro Verde e Junta de Freguesia de Entradas.

PROGRAMA
SEXTA-FEIRA, 05 de Fevereiro
18h00 - 20h00: Abertura da Exposição “Memórias das Transumâncias do Campo Branco” - MR
Participação do Grupo Coral As Ceifeiras de Entradas - Feira de Artesanato - PZA
18h30 – 20h00: Crianças e Famílias “Pinturas faciais e balões” - B
19h00 – 20h30: Oficina de dança - Iniciação ao Baile Tradicional com Matias - CRE
21h00 – 22h00: Concerto “Alentejo Cantado” - PZA
22h00 – 23h30: Baile com Paulo Bastos - CRE
23h15 – 24h00: “Há Fado na Carpintaria do Pardal”, com Ana Valadas - Carpintaria do Pardal
00h00 – 01h30: Baile com Rúa Del Bal - CRE
SÁBADO, 06 de Fevereiro
10h30 – 12h30: Crianças e Famílias “Oficina de Gigantones Selvagens” com LPN - B
10h30 – 12h30: Visita à Herdade das Fontes Bárbaras “Prova de Vinho e Música”, com Violas Campaniças*
11h00 – 12h30: Oficina de dança “Salsa-Scottish Fusion”, com Ricardo Faria - CRE
12h00 – 13h30: Oficina de Instrumentos “Gaita de Foles”, com Associação Gaita-de-Foles - MR
14h30 – 16h00: Apresentação projeto Escolas “Entrudanças Chocalheiro”
com turmas do Agrupamento de Escolas de Castro Verde, Associação ART,
Os Ganhões, Comunidade local - Ruas de Entradas
16h00 – 17h30: Oficina de dança “Danças de Entrudo”, com Montse - Tenda CRE
Oficina de dança “Danças de foles”, com Orquestra de Foles, Joana Gui e Margarida Agostinho - CRE
16H00 – 17h30: Cantes da Planície e da Serra, com Os Ganhões de Castro Verde, As Atabuas
de São Marcos da Atabueira, As Adufeiras da Casa do Povo de Paul - PZA
17h30 – 18h00: Animação musical “O toque do Acordeão”, com o acordeonista Tiago
Rodrigues - Taberna do Pedro Feio
17h30 – 19h00: Oficina de dança “Samba de Gafieira” com Marlon Rodrigues e Livia Oliveira - Tenda CRE
Oficina de instrumentos “Musica de ensemble”, com Jérémie MignOtte - MR
18h00 – 19h00: Crianças e Famílias: Hora do conto “Um dia um Guarda-chuva…”, Oficina de expressão plástica
“Decorar o chapéu-de-chuva”, com David Cali e Valerio Vidali - B
18h30 – 19h15: Oficina de Cante com Os Cardadores da Sete - MR
19h00 – 20h30: Baile/Concerto “Orquestra de Foles”, com Assoc. Gaita de Foles, Joana Gui e Margarida Agostinho - CRE
21h30 – 22h30: Concerto com MUSICALBI - PZA
22h30 – 00h00: Baile com Samba Sem Fronteiras - CRE
23h00 – 00h00: Espinhos – Música com Bernardo e Eduardo Espinho - MR
00h30 – 02h00: Baile com Jérémie MignOtte Solo - CRE
DOMINGO, 07 de Fevereiro
09h30 – 12h30: Uma bucha com com “O Guardador de Rebanhos”*
Passeio Ambiental com a LPN “Cante da Terra”
10h15 – 11h15: Crianças e Famílias: Oficina de Máscaras*
11h00 – 12h30: Oficina de dança Danças de Entrudo com Montse - CRE
11h30 – 12h30: Crianças e Famílias: Hora do conto “Um dia um Guarda-chuva…” de David Cali e Valerio Vidali
Oficina de expressão plástica “Decorar o chapéu-de-chuva”
14h00 – 15h00: Crianças e Famílias Oficina de expressão plástica – Vamos fazer um chocalho!
14h30 – 15h15: Encontro de Tocadores de Harmónica – MR
15h00 – 16h30: Oficina de Instrumentos – Pandeireta Galega Com Montse - MR
15h30 – 16h30: Concerto Moços D´uma Cana e baile – PZA
16h30 – 18h00: Oficina de dança “Salsa”, com Ricardo Faria – Tenda CRE
Oficina de dança “Forró”, com Marlon Rodrigues e Livia Oliveira - CRE
16h30 – 17h30: Cantes da Planície e da Serra, com Grupo Coral Vozes de Casével, Grupo Coral As Camponesas,
e Grupo de Zabumbas de Alpedrinha
17h30 – 18h30: Oficina “Cante para Famílias”, com os Carapinhas - B
Animação Musical “Enquanto a “Flaita” toca - Taberna do Pedro Feio
18h00 – 19h30: Oficina de dança “A Dançar é que a Gente se Entende”, com Matias – Tenda CRE
18h30 – 19h00: Modas ao Balcão - MR
18h30 - 19h15: Bailinho Acústico com Vicente Camelo & David Rodrigues - MR
19h00 – 19h40: “A Banda A Tocar”, com Banda da Sociedade Filarmónica 1º de Janeiro - PZA
19h30 – 20h30: Baile com Parapente700 - CRE
21h00 – 22h30: Baile com Duo Milleret Mignotte - CRE
CRE: Centro Recreativo de Entradas || MR: Museu da Ruralidade || B: Biblioteca || PZA: Praça Zeca Afonso
Tenda CRE: Tenda do Centro Recreativo de Entradas
* Participação sujeita a inscrição no secretariado do Festival.
6 e 7 de Fevereiro - Não faltes à Moda!

Programa sujeito a alterações.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Napoleão Mira & Reflect em Évora (21FEV15)


No próximo dia 21 de Fevereiro pelas 22.horas, no Armazém 8 na Rua do Electricista em Évora, estreia a performance em que venho trabalhando com os Reflect.
Chama-se: 12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado.
Este é o primeiro espetáculo em nome próprio, onde abordarei essencialmente a minha poesia, mas também terei como convidado especial o rapper Reflect que, para além de meu amigo, é um poeta que me surpreende a cada dia que passa. Nessa performance estarei com gente que vai colorir de música as minhas palavras e com quem tenho particular orgulho em trabalhar.
São eles: João Mestre: Piano, Guitarras e harmónica.
               Gijoe: Dj e máquinas
               Deeze: Máquinas e voz
               Reflect: Voz e percurssão

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Vamos ó Balho ?

Nos anos 50 do passado século, Entradas registava o seu maior crescimento demográfico, havia por essa altura perto de 2000 pessoas a residirem por estas bandas.
As famílias eram invariavelmente numerosas e a vila transbordava de juventude. A maioria destas famílias tinha na sua prole 4, 5 ou mais filhos para sustentar, tarefa difícil de levar a cabo em terra de paupérrimos recursos e onde os trabalhos eram quase sempre de carácter sazonal, logo, com largos períodos de carência onde a imaginação era levada ao limite para alimentar tanta boca ávida de pão.
Os moços e moças assim que ganhavam corpo eram encaminhados para trabalhos que não eram proporcionais às suas fracas figuras. No entanto, e como é próprio da juventude, a diversão e o catrapisco namorativo, davam-lhe ânimo para depois de longas jornadas de trabalho, ainda irem arrastar os pés cansados nos bailes tradicionais que por aqui se realizavam. Estes bailes eram realizados em casas particulares com duas intenções: uma para aconchegar o parco orçamento familiar através das entradas e das vendas de petiscos, outros com uma intenção mais hábil que consistia em “ fazer solo” ou seja; como o chão das casas era em terra batida, estes ocasionais “ balhos” serviam para calcar o chão da divisão pretendida, matando-se assim, dois coelhos de uma só cajadada.
Nesse tempo haviam dois bailes com garantia de casa cheia, eram os “ balhos da Patanisca” e os “ balhos da Torradinha” assim conhecidos, porque durante o serão dançante havia um convite formal ao consumo, aqui chamado de “ garvanço” que consistia em comer pataniscas, ou torradinhas consoante o organizador da função.
Como a electricidade ainda era coisa de que nem se ainda ouvira por aqui falar, a “ balhação” era feita à luz de candeeiro a petróleo, o que presumo que daria ao ambiente um certo toque romântico, propicio à troca de olhares mais cúmplices ou ao jogo das sombras decalcadas nas paredes. Quando não havia flautista, ou acordeonista, os bailes eram cantados, ou seja; bailava-se, ria-se e cantava-se ao mesmo tempo, e segundo testemunho dos que me são próximos, a diversão não deixava de estar garantida por tão importante falha.
Por esse tempo, moço que se prezasse trazia nos bolsos dois objectos importantes, navalha e “ flaita”. Navalha porque faz parte da indumentária de qualquer alentejano que se preze, e “flaita” para animar musicalmente bailes ou mesmo outros períodos de ócio, nomeadamente na pastorícia onde o tempo abunda e o bulício da solidão convidam ao pincelar de sons a paisagem transtagana.
Por essa altura havia em Entradas um acordeonista de três acordes, de seu nome Manuel do Carmo, que animava os “ balhos” de então. Este músico taberneiro, percursor da música brejeira hoje tão em voga, vincava no fole do seu instrumento letras que ainda hoje em Entradas são recordadas e de que vos deixo breve exemplo, para que possam aquilatar da veia poética deste taberneiro, músico e poeta:

Minha sogra é forneira
Meu sogro vai à lenha

Minha vaca já pariu
E a minha mulher está prenha


Ou então o seu grande sucesso que ainda hoje é cantado:

Balhem putas, balhem putas
Balhem putas dum cabrão
Quanto mais vocês balham

Mais putas vocês são...

Texto copiado do blog do nosso compadre Napoleão Mira, http://pulanito.blogspot.pt/
A foto foi retirada do Blog http://memoriacomhistoria.blogspot.pt/ e é datada de 1935...

domingo, 5 de outubro de 2014

De Coração d' Interiores

Este é o meu terceiro livro. Um livro em forma de mim, do que sinto, do que me rodeia. Um livro sempre com o Alentejo como pano de fundo.
Depois de um romance, regresso ao registo assumidamente autobiográfico que, de certa maneira, é um género que me apraz.

Ao longo destas páginas, reúno textos dos últimos anos como se estes fossem olhares escritos. Fotogramas de palavras. Instantes-impulso em que a necessidade de os transcrever foi mais forte do que eu. Como se não tivera mão neles, nem eles mão em mim.

Estou de regresso a um território preferencial. O dos afetos. À escrita do vinho e do fogo. Às pessoas que comigo repartiram caminho. Às silenciosas e inquietas madrugadas.

Este De Coração D’Interiores, como o nome induz, é uma porta escancarada para a casa que habito. Para a intimidade do que escrevo. Para aquilo que tenho de mais sagrado. Para a minha memória.

Em muitos destes textos, recorro à lembrança de um tempo menino que, apesar de longínquo, me continua a perseguir como se de uma interminável empreitada se tratasse. Penso mesmo que terá sido essa a razão que me fez voltar à escrita. A redescobrir nela o prazer solitário de esculpir nas palavras, imagens, sons e cheiros que me acossam, mas que sinto esvaecerem-se a cada dia.

Relendo detalhadamente as crónicas que aqui publico, dou comigo a pensar que algumas estão impregnadas de gente que já não está entre nós. Gente que, de alguma forma, me terá marcado a existência. Pessoas que partiram, mas que faço questão que continuem vivas nas páginas que aqui lhes consagro.

Deste modo, regresso às ruas da minha terra, a da memória e a da esperança, aos inconfundíveis aromas que perfumam as manhãs aldeãs, aos silêncios ensurdecedores das muitas noites de insónia, aos caminhos calcorreados na solidão do pó, ao desejo inequívoco de ser feliz.

Não sei se estou contente com o resultado alcançado. Provavelmente nunca estarei. Apenas sei que nestas páginas deposito muito do que sou. Um ser cada vez mais taciturno, mais ensimesmado mas, ao mesmo tempo, mais complacente para com os outros homens meus irmãos.

Este livro, feito viagem ao âmago das minhas entranhas, não é mais que uma vontade quase irracional de perpetuar dados momentos. Uma espécie de catarse que não consigo explicar. Um desejo feito impulso que reside para lá de mim. Uma coisa em forma de espanto.

                                                                                                                    - Napoleão Mira.


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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

De regresso á Taberna da Mariana da Estação

Num destes passados fins-de-semana em que o Entradense não jogava em casa, portanto com o programa domingueiro assim para o limitado, desafiei o meu amigo António José brito para uma mini á da Mariana da Estação.
Não é tarde nem é cedo, vamos embora - disse ele – e assim nos fizemos á estrada.
Aí chegados ficámos momentaneamente aliviados por ver a porta aberta, sinal que a "brigada dos costumes " ainda deixa respirar a pobre da Mariana.
Entrámos e pedimos duas minis ao inenarrável taberneiro, neto de Mariana Maria.
Olhámos ao redor e vislumbrámos na penumbra a personagem que nos havia feito deslocar de Entradas à Estação de Ourique.
Sentámo-nos á conversa junto ao lume onde a nossa "Calamity" se aquecia; ao ouvirmos uns ruídos estranhos que nos despertaram a curiosidade abri um saco cujo movimento ondulante, denunciava alguma criatura no seu interior.
É um bacorinho que ando a criar – respondeu-nos Mariana matando de vez a nossa curiosidade.
O bicho não teria mais que 3 ou 4 dias e o calor emanado da lareira substituía na medida do possível a falta da mãe porca.
Junto a uma das paredes da dita lareira (assim a amornar) estava uma garrafa de mini meia de leite e com uma tetina de borracha que fazia de biberão. E assim, num ambiente surreal - maternal, temos uma taberna onde a estalajadeira no mesmo espaço onde cria o porquinho também vende as suas minis.
Não sei se Kusturika teria a ousadia de se lembrar de um cenário deste gabarito!
A conversa decorreu sobre as maleitas que a apoquentam, a gripe que não a larga vai para dois meses e pelo meio, estórias ingénuas, deliciosas, que bebemos de forma sôfrega.
Deixo-vos duas.
Mariana Maria ainda é assídua ouvinte do programa “ Património” da Rádio Castrense (programa de índole cultural de grande longevidade e de enorme implantação junto da comunidade rural da região). Ouvinte e participante ( conforme fez questão de mencionar), mas ultimamente não tem conseguido ligação apesar do muito tentar.
Conclusão de Mariana Maria:
Isto nã tá bein. Antão aquelas maganas lá da serra conseguem a ligação, e pra mim que tô aqui a dôs passos o telifone está sempre impedido. Só pode ser avaria. Tenho que dezêr ô mê Sérgio para ligar pra companhia dos telifones pra ver o que se passa.
Doutra vez adquiriu um lote de pacotes de lixívia que podia vender mais barato que os vendedores ambulantes que visitavam a aldeia. Apesar da lixívia ser muito mais barata que aquela que os vendedores ocasionais vendiam, as mulheres da aldeia não arrimavam à sua porta. Mariana ferida no seu orgulho fechou de vez a mercearia que a custo mantinha aberta. - Agora mesmo que queiram uma lata de conserva emprestada, não lha empresto. Tenho ali mas é para os meus fregueses. Às vezes pode aparecer aí alguém para almoçar ou jantar e assim já os posso servir, tá a perceber?
Rematou, despeitada a nossa anfitriã daquele tarde de Domingo.

Copiado do blog do nosso compadre Napoleão Mira: http://pulanito.blogspot.pt

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A Mulher. o Campo e o Canto

Ceifeiras de Entradas                                                   



São três caminhos convergentes no largo da moda em feminino. Uma trilogia,  de espaço, melodia e ser que congrega , pelo menos, metade, de todo o nosso imaginário cultural. E esta mesma trindade, esteve desfeita durante décadas. Com a industrialização e a mecanização agrícolas, o campo deixou de absorver o trabalho braçal nas ceifas, nas mondas ou na  apanha da azeitona e pouco a pouco, foi-se  despovoando.


Mudaram-se os hábitos  de vida de um  povo que cantava, nas idas, durante e no regresso do trabalho. Os homens continuaram a dar largas ao seu gosto pelos descantes quando nas tabernas se juntavam ou em grupos se reuniam, mas as mulheres, remetidas à solidão de casa, deixaram de ter ambiente, faltaram-lhes as vozes, para prosseguir a moda.


E assim foi durante anos, décadas.


Acabados os bailes cantados pela modernidade emergente das tecnologias sonoras, extintos os trabalhos no campo, as mulheres deixaram de ter espaço na vida social, para nela exercerem o seu gosto, o seu saber, a sua necessidade de interpretarem colectivamente o cancioneiro.


Prosseguiram os homens o seu afã pelo cante. Cada vez menos no trabalho, só às vezes nas vendas, praticamente, só dentro dos grupos corais.


E com o passar dos anos, à conta de tanto se ver só cantar os homens, havia já quem afirmasse que o cante alentejano era pertença deles, era, em suma, um exclusivo dos corais masculinos.


Mas eis , senão quando, a partir do inicio da década de oitenta, aqui, ali e acolá, as mulheres foram conquistando a liberdade de assumirem, também elas, um papel activo na pratica regular do cantar, integradas em estruturas organizadas, à semelhança do que os homens haviam feito e faziam.


Em termos sócio-culturais, este foi o grande salto, a grande ruptura, a  revolução vencida pelas mulheres do nosso povo, negando a razão àqueles que em nome da tradição, as prendiam  à condição de pessoas desprovidas do direito de se juntarem, de se organizarem, de publicamente  assumirem o protagonismo bastante para cantarem em qualquer lugar a  sua própria tradição.


E hoje, passadas menos de três décadas, até já nos parece impossível que algum dia, em qualquer tempo, não pudessem existir coros femininos, pela circunstância das mulheres terem vivido, pessoal e socialmente proibidas de se juntarem em grupos para cantar a moda, como dantes o faziam, integradas nos ranchos das mondas e das ceifas, nas idas e nas vindas dos campos.


  Pelo compadre José Francisco Colaço Guerreiro, http://patrimonio89.blogspot.pt/