A Coudelaria de Alter foi criada em 1748, no âmbito de uma nova política coudélica, iniciada em 1708, pelo Rei D. João V, consequência da moda europeia.
Dominando a política coudélica, estava a profunda convicção de que a identidade nacional e a caracterização plástica e artística da Picaria Real teria de assentar na produção nacional de cavalos de sela, de Alta Escola.
A Coudelaria de Alter será instalada na Coutada do Arneiro, propriedade da Casa de Bragança, sendo a mais antiga e notável Coudelaria Portuguesa e, no mundo, a que mais tempo leva de funcionamento ininterruptamente no assento originário.
É ao Rei D. José I que, quase inteiramente, cabe o mérito da instalação e estruturação da Coudelaria de Alter.
O núcleo inicial da manada foi inteiramente constituído por éguas, na sua maioria, propositadamente adquiridas em Espanha.
No processo de alargamento da área de pastoreio foi organizado, no final de 1757, o potril da Azambuja para funcionar como estrutura complementar da Coudelaria de Alter, para recria dos poldros após a desmama.
Entre 1770 e 1800 a Picaria Real atingiu o máximo esplendor, para o que também foi decisivo o ensino do, Estribeiro-Mor, D. Pedro de Meneses, 4º Marquês de Marialva. É também reflexo desse período a edição, em 1790, de “A Luz da liberal e nobre arte da cavalaria” da autoria de Manoel Carlos de Andrade, Picador da Picaria Real.
Em 1787 a Rainha D. Maria I decidiu a criação de um novo picadeiro, mais consentâneo com a dama da Picaria Real iniciando-se de imediato a sua construção. O novo picadeiro, em estilo Neoclássico, foi inaugurado em 1793, e podemos vê-lo visitando o Museu Nacional dos Coches.
Não é só no picadeiro que os Alter Real brilham. Brilham também no Terreiro do Paço na estátua que Machado de Castro esculpiu, em 1775, para glória do Rei D. José I, montado num Alter-Real, o Gentil e no fausto dos cortejos de Gala, espelho do poder e grandeza da Corte e do País.
No decorrer do século XIX, a instabilidade da vida nacional, reflecte-se na vida administrativa e técnica da Coudelaria de Alter.
De 1842 a 1910 a Coudelaria passa por grandes dificuldades e sobressaltos, foi o tempo dos cruzamentos. Nesta altura o que se pretende é completamente diferente: num primeiro tempo pretende-se a produção de cavalos de tiro e num segundo a produção de cavalos de corrida provocando a secundarização do Alter Real.
Constatados os maus resultados da introdução de sangue de tiro e de sangue árabe na manada de alter, a partir de 1876 voltaram a ser utilizados reprodutores Alter Real.
Proclamada a República e arrestados os bens da coroa, a Coudelaria foi transferida, em Março de 1911, para o Ministério da Guerra, através da Comissão Técnica de Remonta. A Coudelaria passa assim a Coudelaria Militar.
O objectivo da Coudelaria Militar de Alter do Chão tinha claras intenções de fomento.
Mas foi feita uma forte persistência nos cruzamentos absorvendo o Alter Real e produzindo cavalos de desporto.
Em 1939, face à crescente mecanização das forças armadas são extintos os serviços de fomento hípico do Ministério da Guerra.
Em 1942 a Coudelaria Militar de Alter do Chão foi extinta e as propriedades e a manada foram integradas no Ministério da Economia.
Em seu lugar surgiu a Coudelaria de Alter sob jurisdição da Direcção Geral dos Serviços Pecuários.
O objectivo foi desde logo definido, sendo ele a recuperação do Alter Real, na altura quase em extinção. O trabalho para o alcance deste objectivo inicia-se logo em 1942 a partir de 11 éguas e 3 garanhões. As éguas, as únicas Alter Real puras recebidas da Coudelaria Militar e os três reprodutores, “Regedor” e “Vigilante” (Reprodutores adquiridos em leilão em 1938 pelo Dr. Ruy D’Andrade que agora os cede ao estado) e “Marialva II” (da Coudelaria do Dr. Fontes Pereira de Melo, na qual sempre imperou sangue Alter Real). Foi com base nestes três reprodutores que ate 1979 se conseguiu obter a recuperação do Alter Real.
A partir de 1980 desenvolve-se um trabalho constante de especialização do Cavalo Alter Real em Alta Escola mais afincadamente procurada e plenamente atingida a partir do lançamento, em 1989, da Escola Portuguesa de Arte Equestre, numa sequência do que foi a Picaria Real.
Em 1996 são tomadas medidas de intensificação da actividade da Coudelaria de Alter através do Programa de Desenvolvimento Integrado, que vigorou até 2006.
Em 2007 a Coudelaria de Alter é integrada na Fundação Alter Real, mantendo a sua missão de fundo, criação e valorização do cavalo Lusitano Alter Real.
A 2 de Agosto de 2013, a Coudelaria de Alter passa a ser gerida pela Companhia das Lezírias, SA, tendo-lhe sido atribuída através de delegação de competências de serviço público, a preservação do património genético animal da raça lusitana, quer na linha genética da Coudelaria Nacional, quer na linha Alter Real.
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- Resumo da publicação “ Coudelaria de Alter. Um Outro Olhar sobre o Passado” de Manuel Homem Themudo
“ Coudelaria de Alter. Um Outro Olhar sobre o Passado” é por sua vez um resumo da grande obra “Elementos para a História da Coudelaria de Alter”, de Ruy d’ Andrade, publicada no Boletim Pecuário - Direcção – Geral dos Serviços Pecuários, em VI Partes, entre 1947 e 1971.
“ Coudelaria de Alter. Um Outro Olhar sobre o Passado” é por sua vez um resumo da grande obra “Elementos para a História da Coudelaria de Alter”, de Ruy d’ Andrade, publicada no Boletim Pecuário - Direcção – Geral dos Serviços Pecuários, em VI Partes, entre 1947 e 1971.
No vale de Santarém, não longe dos campos de Valadas, Situa-se a Quinta da Fonte Boa onde está instalada a Coudelaria Nacional que, juntamente com a Coudelaria de Alter e a Escola Portuguesa de Arte Equestre integram a Fundação Alter Real. Criada em 1887 com a designação de Coudelaria Nacional do Sul, absorveu, em 1890, a Coudelaria Nacional do Norte, então sediada na Quinta Bemcanta, em Coimbra, antiga Quinta de veraneio do Bispo e mais tarde Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra.
A Coudelaria formou-se a partir do efectivo transferido da Quinta Regional de Sintra, em grande parte oriundo da Coudelaria de Panca, aquando da sua extinção, e de parte da manada da Coudelaria de Mougadouro, extinta em 1886, cujo efectivo se tinha formado a partir da coudelaria do Crato. Os efectivos das Coudelarias do Crato e de Pancas tinham sido constituídos (1860) por éguas adquiridas aos Snrs. António Pereira Palha, enquanto liquidatário judicial dos bens do IX Marquês de Nisa, Rafael da Cunha e António Lopes Gusmão. A este efectivo foram, sucessivamente, acrescentados 24 éguas Puro Sangue Inglês, 10 éguas Hackney, 10 éguas Cleveland e 4 éguas Árabes.
O actual efectivo da Coudelaria Nacional é composto por cerca de 10 éguas puro-sangue árabe descende das éguas adquiridas em 1903 e 12 éguas de raça lusitana.
Desde a sua fundação a Coudelaria Nacional contribui, com os seus produtos, para o deposito de garanhões que anualmente estão ao disposição dos criadores para beneficio das suas éguas.
Os reprodutores actualmente utilizados na Coudelaria Nacional são da mesma origem e de aptidão comprovada. A orientação seguida, que a consanguinidade média da eguada CN ainda permite, não sendo certamente aquela que mais frutos produz em termos de mercado é seguramente, aquela que mais interessa à raça no seu todo. A obtenção de reprodutores de grande pureza étnica e a salvaguarda de um núcleo cuja existência é essencial à variabilidade na raça, é um objectivo que se inscreve na vocação de serviço público da Coudelaria Nacional.
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