terça-feira, 12 de julho de 2022

O Deita-Gatos






O “DEITA-GATOS”
Gatear tudo que fosse loiça partida em cacos, era tarefa do “deita-gatos”, um servidor ambulante, em tempos de privação e, em muitos casos, de verdadeira pobreza, de que apenas os idosos do presente, guardam recordação e para quem a Revolução dos Cravos tem importante e grato significado.
Foram tempos em que, praticamente, tudo era aproveitado, dos frascos e garrafas às latas, caixas e caixotes. Os consertos nas roupas, no calçado, na telefonia (a televisão estava a décadas de aparecer), nos ainda poucos electrodomésticos e no que quer que fosse prolongavam-lhes a vida ao limite da utilização.
Na sociedade de consumismo desenfreado que é a nossa, ninguém se lembra hoje de mandar pôr uma vareta nova numa sombrinha, colocar um pingo de solda numa panela, a que o uso de anos abrira um buraquinho no fundo, ou juntar os cacos de um prato que caiu ao chão.
Nesse prolongar de vida de muitas peças de barro e de faiança, dois tipos de loiça de casa muito frequentes nesses anos, tinha papel importante o deita-gatos também ele, quase sempre o “amola-tesouras” e muitas vezes, “funileiro à porta”.
O nosso homem começava por unir os cacos e, por cada “gato” (um pedaço de arame terminado por duas pequenas garras) a colocar, marcar os dois pontos onde fazer um furo com a ajuda de um broquim primitivo, como os que se mostram na figura. Juntos e colados todos os cacos era a vez de, com a arte que a experiência sempre dá, introduzir as garras dos “gatos” e fixá-los de modo a ficarem bem apertados.
Ainda guardo, mas agora com o significado de antiguidades, pratos e travessas da Real Fábrica de Loiça de Sacavém, mandadas gatear pela minha mãe e pela mãe dela. 

Texto  da autoria do nosso compadre Antonio Galopim de Carvalho

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