SAUDOSO GUADIANA
Hoje quando caminhava junto às águas do Alqueva, veio-me à memória fevereiro e março de 1979. Quando o Guadiana corria turvo e caudaloso, empurrando para um descanso forçado os moleiros, que em alguns casos não fossem os redemoinhos à superfície, ou alguma das referências de margem, perdiam completamente o norte aos seus moinhos naquela imensidão de água. Leva uma bela cheia, ou já tem os moinhos todos tapados, eram expressões muito próprias da época
As cheias eram também o renovar de um ciclo tão necessário ao equilíbrio de todo o ecossistema, as cheias traziam nutrientes que fertilizavam as terras e renovavam a água das lagoas, levando também os detritos indesejáveis depositados nas margens, era podemos dizer, um mal necessário que muito contribuía para um renovar de vida.
Eram as águas turvas e caudalosas, época de excelência dos guitos e das cordas iscados com lesmas, quantas e quantas vezes a subida das águas era de tal ordem, que apenas com o passar da noite se transformava a euforia em frustração, aquela piorneira onde tinhas prendido a corda, quando chegavas de manha já lá não estava, demorando por vezes vários dias até que as águas descessem e conseguisses recuperá-las.
Era tão bem com as cheias a época de ouro das Bogas, (hoje em extinção) quando a foz do Azevel se estendia até ao moinho do Coronheiro, não era necessário tarrafa ou qualquer outro apetrecho de pesca, as Bogas subiam em tão grande quantidade pelos pequenos ribeiros, neste caso o do Coronheiro, que se apanhavam à mão, bastando para tal fazer um feixe de esteva com o qual se lhe cortava a passagem e assim se apanhavam as que queríamos e quantas queríamos, escolhiam-se as mais gordas porque estavam cheias de ovas.
Referi atrás o ano de 79 que por razões familiares me ficou na memória, recordo que esse ano, connosco foi também o Ti Cacharamba e a sua respetiva burra, as Bogas no ribeiro do Coronheiro eram tantas que depressa enchemos uma saca que fizemos chegar ao Ferragudo na Burra do Cacharamba, na maioria das vezes distribuíamo-las gratuitamente pelos vizinhos, sendo as sobras para fritar nas tabernas para o petisco.
AINDA HOJE RECORDO O SABOR DAS OVAS FRITAS.
Texto.
Isidro Pinto
( Grupo Monsaraz a Caminhar )Fotos. Net
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