A herança portuguesa em Olivença: S. Jorge da Lor
Como vem sendo habitual no blogue nestes últimos tempos, damos as boas-vindas a mais um amigo, neste caso o fotógrafo Javier Alonso, que tem vários blogues dos quais destaco o dedicado à fotografia. As suas fotos sobre o mundo rural das regiões de Zamora de Sanábria, Carballeda e Aliste, bem como as áreas raianas do Nordeste Transmontano são lindas de se ver. Recomendo-o sem falta!
Hoje vou falar da herança portuguesa em Olivença. Como este blogue não é político, não vou falar da questão oliventina. Importa apenas indicar que a região oliventina tem estado na posse de Espanha desde 1801, depois da Guerra das Laranjas, um episódio emoldurado dentro das chamadas guerras napoleónicas. Mas Olivença foi «reconquistada» e repovoada por cavaleiros da Ordem de Cristo vindos de Portugal a partir de 1234, sendo que o território fazia parte inicialmente do reino de Leão. A povoação não teve muito desenvolvimento, talvez a causa da indefinição de fronteiras que levaram ao Tratado de Badajoz de 1267 pelo qual o Guadiana fazia de limite entre Portugal e o reino de Castela e depois ao Tratado de Alcanices de 1297, pelo qual Campo Maior, Ouguela, inicialmente leonesas, e Olivença e Táliga passavam a mãos portuguesas. Daí, o domínio português sobre o território foi contínuo, a excepção de breves períodos de conquista nas contínuas guerras que decorreram nos mais de cinco séculos que durou a dominação portuguesa. Foi então que Olivença cresceu como vila abaluartada com muralhas e fossos para a defesa do reino sendo uma das chaves da fronteira juntamente com Elvas e Ouguela.
O território oliventino estava formado por tres concelhos: Olivença, Táliga e Juromenha, que detinha a aldeia de Vila-Real (Villarreal, segundo a toponímia oficial, em diante t.o.). Para além de Táliga e de Olivença, esta região apresenta várias aldeias espalhadas pela planície com a presença vizinha da Serra da Lor (de Alor, t.o.). Talvez a mais característica é a aldeia de São Jorge da Lor (San Jorge de Alor, t.o.) pelas suas vistosas chaminés alentejanas, algumas de início do século XIX.
Trata-se de uma aldeia situada nas encostas da Serra da Lor, com vistas para a localidade extremenha de Valverde de Leganés, com típicas casas brancas caiadas ao modo alentejano, mas com varandas e grades nas janelas ao modo da Extremadura espanhola. Afinal, duzentos anos de dominação espanhola fazem mossa, mas mesmo assim, é das aldeias com menos deturpações relativamente ao que seria caso tivesse permanecido sob soberania portuguesa. Mas é, sem dúvida, a chaminé o que dá à aldeia o seu carácter alentejano. E é que a chaminé alentejana é uma chaminé em tronco de pirâmide quadrangular, fazendo parte do alçado ou da frontaria da casa, encontrando-se normalmente junto à porta da entrada. Essa forma rectangular é a mais característica, mas existem outras, designadamente de forma cilíndrica, com remates em cúpula ou em pináculos, sendo que o fumo sai pelos interstícios deixados pelos tijolos colocados de forma vertical que suportam essas cúpulas ou pináculos.
De resto, S. Jorge da Lor podia ser mais uma aldeia alentejana se não fosse pelo facto de estar situada na região oliventina e ter sofrido essa forte pressão uniformizadora no sentido de se integrar em Espanha. Daí a proibição do uso da língua portuguesa e a castelhanização dos apelidos familiares até extremos ridículos do tipo Perera/Pereira, Cuello/Coelho, Sardiña/Sardinha, Pesoa/Pessoa, e assim por diante. Os topónimos também têm sido deturpados, apesar do qual ainda é possível observar claramente essa herança portuguesa.
S. Jorge da Lor e a restante região oliventina deve constituir um bom exemplo de valorização do património cultural, artístico e imaterial, incluindo a língua portuguesa. Não apenas para uns quantos portugueses nostálgicos e saudosistas ou para a maior parte dos portugueses que estão-se nas tintas para a «questão» de Olivença, mas também para os espanhóis de deviam valorizar mais a sua riqueza cultural e linguística. É por isso que não posso deixar de louvar a iniciativa da associação Além Guadiana, criada por oliventinos cientes do seu património e que querem recuperar essa herança portuguesa também longe de disputas políticas e à qual já me tenho referido em mais de uma ocasião. Essa falta de visão é o que tem feito estar em perigo essa herança pois em Espanha, como já tive ocasião de ver, às vezes mistura-se língua com nacionalismo, o qual constitui um erro. Não é por acaso que uma das emendas ao novo Estatuto da Região Autónoma da Extremadura espanhola no parlamento espanhol seja a protecção à língua portuguesa em Olivença, para além das falas galaico-portuguesas do vale de Xálima, na região raiana do noroeste da província de Cáceres, perto de Penamacor, na Beira Interior.
Por isso, toda acção com o intuito de recuperar o património de um lugar, quer etnográfico, quer linguístico, quer imaterial, como é o caso da «Além Guadiana» é digna de se ter em conta. Esperemos que os seus esforços não sejam em vão e dêem os seus frutos.
Hoje vou falar da herança portuguesa em Olivença. Como este blogue não é político, não vou falar da questão oliventina. Importa apenas indicar que a região oliventina tem estado na posse de Espanha desde 1801, depois da Guerra das Laranjas, um episódio emoldurado dentro das chamadas guerras napoleónicas. Mas Olivença foi «reconquistada» e repovoada por cavaleiros da Ordem de Cristo vindos de Portugal a partir de 1234, sendo que o território fazia parte inicialmente do reino de Leão. A povoação não teve muito desenvolvimento, talvez a causa da indefinição de fronteiras que levaram ao Tratado de Badajoz de 1267 pelo qual o Guadiana fazia de limite entre Portugal e o reino de Castela e depois ao Tratado de Alcanices de 1297, pelo qual Campo Maior, Ouguela, inicialmente leonesas, e Olivença e Táliga passavam a mãos portuguesas. Daí, o domínio português sobre o território foi contínuo, a excepção de breves períodos de conquista nas contínuas guerras que decorreram nos mais de cinco séculos que durou a dominação portuguesa. Foi então que Olivença cresceu como vila abaluartada com muralhas e fossos para a defesa do reino sendo uma das chaves da fronteira juntamente com Elvas e Ouguela.
O território oliventino estava formado por tres concelhos: Olivença, Táliga e Juromenha, que detinha a aldeia de Vila-Real (Villarreal, segundo a toponímia oficial, em diante t.o.). Para além de Táliga e de Olivença, esta região apresenta várias aldeias espalhadas pela planície com a presença vizinha da Serra da Lor (de Alor, t.o.). Talvez a mais característica é a aldeia de São Jorge da Lor (San Jorge de Alor, t.o.) pelas suas vistosas chaminés alentejanas, algumas de início do século XIX.
Trata-se de uma aldeia situada nas encostas da Serra da Lor, com vistas para a localidade extremenha de Valverde de Leganés, com típicas casas brancas caiadas ao modo alentejano, mas com varandas e grades nas janelas ao modo da Extremadura espanhola. Afinal, duzentos anos de dominação espanhola fazem mossa, mas mesmo assim, é das aldeias com menos deturpações relativamente ao que seria caso tivesse permanecido sob soberania portuguesa. Mas é, sem dúvida, a chaminé o que dá à aldeia o seu carácter alentejano. E é que a chaminé alentejana é uma chaminé em tronco de pirâmide quadrangular, fazendo parte do alçado ou da frontaria da casa, encontrando-se normalmente junto à porta da entrada. Essa forma rectangular é a mais característica, mas existem outras, designadamente de forma cilíndrica, com remates em cúpula ou em pináculos, sendo que o fumo sai pelos interstícios deixados pelos tijolos colocados de forma vertical que suportam essas cúpulas ou pináculos.
De resto, S. Jorge da Lor podia ser mais uma aldeia alentejana se não fosse pelo facto de estar situada na região oliventina e ter sofrido essa forte pressão uniformizadora no sentido de se integrar em Espanha. Daí a proibição do uso da língua portuguesa e a castelhanização dos apelidos familiares até extremos ridículos do tipo Perera/Pereira, Cuello/Coelho, Sardiña/Sardinha, Pesoa/Pessoa, e assim por diante. Os topónimos também têm sido deturpados, apesar do qual ainda é possível observar claramente essa herança portuguesa.
S. Jorge da Lor e a restante região oliventina deve constituir um bom exemplo de valorização do património cultural, artístico e imaterial, incluindo a língua portuguesa. Não apenas para uns quantos portugueses nostálgicos e saudosistas ou para a maior parte dos portugueses que estão-se nas tintas para a «questão» de Olivença, mas também para os espanhóis de deviam valorizar mais a sua riqueza cultural e linguística. É por isso que não posso deixar de louvar a iniciativa da associação Além Guadiana, criada por oliventinos cientes do seu património e que querem recuperar essa herança portuguesa também longe de disputas políticas e à qual já me tenho referido em mais de uma ocasião. Essa falta de visão é o que tem feito estar em perigo essa herança pois em Espanha, como já tive ocasião de ver, às vezes mistura-se língua com nacionalismo, o qual constitui um erro. Não é por acaso que uma das emendas ao novo Estatuto da Região Autónoma da Extremadura espanhola no parlamento espanhol seja a protecção à língua portuguesa em Olivença, para além das falas galaico-portuguesas do vale de Xálima, na região raiana do noroeste da província de Cáceres, perto de Penamacor, na Beira Interior.
Por isso, toda acção com o intuito de recuperar o património de um lugar, quer etnográfico, quer linguístico, quer imaterial, como é o caso da «Além Guadiana» é digna de se ter em conta. Esperemos que os seus esforços não sejam em vão e dêem os seus frutos.
Foto 1. Vista geral de S. Jorge da Lor.
Foto 2. Rua da aldeia com as típicas chaminés alentejanas.
Foto 3. Igreja matriz, de óbvia factura portuguesa.
Foto 4. Chaminé alentejana e grades extremenhas.
Foto 5. Outros recantos da aldeia.
Foto 6. Olivença vista da estrada de S. Jorge da Lor.
Foto 7. Elvas vista de S. Jorge da Lor.
Texto e fotos copiados integralmente do blog: http://historiasdaraia.blogspot.pt/
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