ESTREMOZ – Mercado de Sábado em meados do século XX. Foto de Rogério Carvalho (1915-1988). Passeio do Rossio frente ao Hospital. Um camponês de pelico e safões prepara-se para beber uma aguardente, que a viúva, proprietária da taberna-churrião se prepara para lhe servir. À esquerda, o carro aberto dum vendedor de cereais. Ao fundo, a Igreja dos Congregados, antes do completamento da construção.
Nesta época, por ocasião das tradicionais Festas de Setembro, este passeio ficava repleto destes carros, propriedade de quem vinha às Festas. Pelos arreios dos animais, pelos assentos, pelas cortinas e pelos enfeites dos carros, se conhecia o poder económico de quem neles se fazia transportar.
ESTREMOZ – Feira de Santiago, 25 de Agosto de 1947. Fotografia tirada no Rossio Marquês de Pombal, frente à Casa da Família Reynolds. O fotógrafo foi Manuel Gato, um dos sócios da extinta firma de electrodomésticos Quadrado e Gato, situada no Rossio Marquês de Pombal, junto ao Café Águias d'Ouro. Trata-se de um grupo de camponeses petiscando num típico churrião, que funcionava como taberna ambulante, onde se servia vinho, aguardente, pão, queijo e carnes cheias. Era um local de amena cavaqueira e de convívio, onde por vezes se defrontavam ao desafio, poetas populares como os lendários Hermínio Babau e Jaime da Manta Branca.
Consta-se que certa vez, o primeiro, versejador de vastos recursos e crítico do Estado Novo, se terá saído com esta cantiga:
“Lá em Santa Comba Dão,
Nos foros de Jesus,
Para dar cabo de uma Nação,
Deu uma mãe um filho à luz.”
Esta tirada foi aproveitada por dois indivíduos que não o gramavam e o foram denunciar à Guarda Nacional Republicana, cujo posto se situava na Igreja dos Congregados. Após a denúncia e chegados à taberna-churrião, os guardas deram ordem ao Hermínio de os acompanhar até ao posto, o mesmo se passando relativamente aos dois bufos. Uma vez no posto, os guardas disseram-lhe que era acusado de estar a dizer versos contra o Governo, ao que ele respondeu que não senhor, que não era verdade, desafiando então os denunciantes a repetirem os versos que ele tinha dito. Como eles não foram capazes de o fazer, o Hermínio declarou então aos guardas:
- Meus senhores, os versos foram estes:
“Acabaram as revoluções.
A situação melhorou.
Portugal é um brinquinho
Desde que este Governo entrou.”
Os acusadores, bem clamaram que os versos não eram aqueles, mas como não foram capazes de apresentar versos contrários como prova, foram acusados pelos próprios guardas de terem prestado falso testemunho e foram eles que acabaram por passar a noite no posto. Em termos de rifonário popular, chama-se a isso “Ir buscar lã e sair tosquiado”. Quando ao Hermínio Babau voltou à taberna-churrião para continuar a função.
Era em churriões puxados por mulas, que os camponeses das freguesias rurais se dirigiam à cidade para vender e para comprar ou simplesmente para tratar de assuntos que só na cidade podiam ser tratados.
Era também em churriões destes que se ia às Festas de S. Mateus a Elvas.
Churrão junto ao Aqueduto – Elvas.Bilhete-postal ilustrado de meados do séc. XX. Edição da Livraria e Papelaria Rego - Elvas.
Era uma romaria que durava dias, entre o ir e o voltar. E ali os romeiros estacionavam os churriões por zonas, conforme a zona de proveniência. Digam-me lá, se o alentejano é ou não é um tipo organizado?
Aspecto do Arraial da Feira de S. Mateus – Elvas. Bilhete-postal ilustrado do início do séc. XX. Edição da Tabacaria Costa – Lisboa.
Era na altura em que os ganhões que mourejavam nas herdades, iam aquelas Festas gastar a maçaroca amealhada a custo. Lá diz uma quadra do rico cancioneiro popular alentejano:
”Ó feira de S. Matheus,
Onde as ganharias vão
A gastarem o dinheiro
Da temporada do v’rão.”
Eram outros os tempos…
Copiado integralmente do blog: http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/
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