segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Açorda alentejana



Quem é que não gosta de Açorda?

Alentejana, claro.
Com pão de trigo. Como é óbvio! 
Porque o pão alentejano já está abastardado.
Já com uns diazitos. Mas nada de paposecos ou pão de Mafra.
E, com água do poço, fria, fresquinha, pesada com sabor ferrenho.
Porque a da torneira sabe a cloro, a mofo e, e, e ...!
Com azeite puro, do lagar, esverdeado, daqueles que teimosamente não escorre da garrafa.
Porque o da loja está filtrado e parece óleo.


Ah… e alhos da horta pisados, nada de espremedor de alhos ou de alhos secos em pó que vêm em canudos de plástico e é só borrifar.

E, claro os coentros (não se enganem e ponham salsa), tal como os alhinhos, da horta, criados também com água do poço, de preferência ferrenha.
E se não for pedir demais, os ovinhos, um para cada freguês se houver, se não houver esmaga-se um e provam o caldinho, também de galinha criada no campo a alimpaduras, minhocas ou farelos, (não lhes deem farinha industrial carregada de hormonas, senão estragam tudo).
Não ponham cebola nem grão-de-bico senão sai uma açorda afrodisíaca. Pelo menos é o que diz o Tratado Árabe do Amor, O Jardim Perfumado.
 A normal pitada de sal grosso, porque o fino não sabe a sal, uma colher de aluminio e umas talhadas de toucinho frito e, e, … apanhá-las.


Chamemos-lhe Açorda ou se quisermos impressionar os amigos chamemos-lhe Çorda, do Árabe Andaluz thorda, (não se esqueçam que o th em árabe lê-se ç e ponham o a como em azeite az-zayt, ou açucar as-sukkar).

     Comida sacra, as freiras e frades adoram-nas, principalmente depois do jejum.
     Comida de profetas, Maomé adorava-as. Não fosse afinal o seu bisavô que as inventou.
     Comida de reis, Afonso II adorava-as, (não há referências, mas era gordo).
      Comida para todos.
      Seja açorda cega ou rica, conforme os acompanhamentos.
      Está aí para durar.

Texto da autoria do nosso compadre José Pereira Malveiro, https://garvao.blogs.sapo.pt/

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