quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Um olhar sobre o Alentejo...


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O olhar de uma cidadã inglesa sobre o Alentejo dos nossos dias :

Eu gostaria de vos dar uma perspectiva diferente (do Alentejo) que espero que possam ter em consideração. Nós somos todos viajantes. Imaginem que estão a viajar de França, Inglaterra, América, África do Sul ou da Ásia. O vosso voo aterra em Beja. Sim, está aberto. Vocês estão cansados depois do vosso voo, mas estão ansiosos por conhecer Beja e o Alentejo.
O vosso amigo/amiga visitou há dez anos atrás e disse-vos como era bonito. As chegadas ao aeroporto de Beja são calmas e eficientes. A bagagem chegou. As expectativas de um óptimo tempo são atingidas. Agora, o hotel. Onde está o comboio? Ah, não há sistema de comboios moderno! Uma estação velha com comboios velhos situada numa parte degradada de Beja. Talvez podemos ir de carro. Onde está a auto-estrada? Não está acabada! Vocês têm de viajar por terras pequenas e estradas que não tem a devida manutenção.
Ok, nós aceitamos isto. Valerá a pena para poder experienciar a beleza do Alentejo. Onde está? A primeira impressão de Beja e do Alentejo são milhares de pequenas oliveiras alinhadas como soldados. Não são os bonitos prados com flores silvestres, pastores com cabras e ovelhas e os carvalhos cobertos de cortiça que dominam o horizonte. O que é que aconteceu?
Será que aterrámos nas plantações de óleo de palmeira que dizimaram terras na Indonésia, África e América Latina ou as plantações de açúcar na Guatemala? Certamente Portugal não se tornou numa vítima desta maldição/praga? OK, vamos beber o maravilhoso vinho do Alentejo. Encontramos um restaurante e sentamo-nos lá fora para saborear a cultura e a comida. Mas que raio de cheiro, o cheiro é horrível. Como é que nos podemos sentar lá fora com este cheiro sufocante?
Quando o cheiro chega lançado pelas chaminés das fábricas que libertam gases que não são vigiados e não há lei nenhuma para parar isto. Tentamos observar pássaros. Encontramos muitos pássaros mortos perto das oliveiras, mortos pela maquinaria. Procuramos flores silvestres. Encontramos terra envenenada por glifosato que se confirmou causar cancro em pessoas e que destrói a terra. Decidimos passear até à água. A água está contaminada por fertilizantes, não há abelhas ou insectos porque estes morreram devido aos insecticidas.
Para onde é que foi o Alentejo? Partimos para casa com o conhecimento que aconselhará outras pessoas no Trip Advisor que este não é lugar para visitar. O governo encorajou o desenvolvimento da indústria do azeite, sabem que vai destruir o turismo, o ambiente. A população vai diminuir, uma vez que as pessoas jovens irão embora, não haverá oportunidades de negócio uma vez que nenhuma empresa irá florescer.
O governo não precisa de investir em infra-estruturas, educação, hospitais ou o aeroporto de Beja uma vez que o Alentejo que existia há dez anos, já não existe mais. O que decidirem fazer irá determinar o futuro do Alentejo e de Portugal. Vão permitir a destruição da terra e da cultura da vossa região?
Daqui a dez anos irão olhar para o legado das vossas decisões? Vão ficar orgulhosos? Ou envergonhados?
(...)
Foto e texto copiados do Site: https://www.jornalistaruirosa.pt/
Autor: Rui Rosa

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