Ainda gosto de grão e feijão mas em pequena adorava. Como em casa da mãe estes alimentos não se comiam muitas vezes, antes de partir de férias para a aldeia, já eu sonhava com o cheiro do cozido e o aroma da hortelã a perfumarem as manhãs da cozinha da avó. Nada era mais aliciante para sair da cama do que o cheiro que vinha da cozinha…
Quando os primeiros raios de sol se espreguiçavam nos montes ...que rodeavam a aldeia despertando gentes e bichos, ainda as brasas do dia anterior não tinham arrefecido na lareira. Para lhes dar nova vida, a avó juntava-lhes uns paus que ia buscar ao manturo.
Manturo era o nome que toda a gente dava às pilhas de lenha de azinho, de esteva e de aloendro que cada família erguia no quintal ou perto de casa. Os manturos, para minha felicidade, eram também a maternidade das gatas da aldeia que aí pariam e escondiam as crias até elas terem ânsia de espaço e saírem, cambaleantes, para o lugar onde o céu não cheirava a esteva…
Quando eu me levantava, o fogo já crepitava e pintava de negro a panela de barro. Lá dentro, a carne de salgadeira e os enchidos que antes tinham baloiçado na chaminé, misturavam-se harmoniosamente com os grãos ou os feijões e faziam nascer uma fonte na minha boca.
- O que é hoje o almoço, avó? - perguntava eu, comendo o pão da primeira refeição da manhã e bebendo o café acabado de fazer na cafeteira, recipiente que na aldeia se chamava chocolateira apesar de, quase de certeza, a grande maioria nunca ter conhecido o sabor do chocolate.
Grão ou feijão eram as palavras que tanto gostava de ouvir da boca da avó mas às vezes, e eu já sabia pelo cheiro, isso não acontecia. Era nesses dias que percorria as ruas da aldeia não só para os encontros de brincadeiras mas também para perguntar o que tinham para o almoço as tias, as primas, as comadres e aquelas que não sendo nem uma coisa nem outra poderiam ter, do meu ponto de vista, o almoço ideal. Normalmente tinha sorte, havia sempre um grão com massa, um feijão com arroz, um grão com abóbora, um feijão com batata-doce... Escolhida a ementa, a conversa com a cozinheira desenrolava-se em redor do cheirinho que vinha da panela e dos meus gostos culinários e normalmente terminava com um convite para o almoço.
Claro que sim, respondia eu, só preciso avisar a avó…
Corria a dar a notícia e ela achava graça e brincava com o facto de eu ter a sorte de ser tantas vezes “convidada” para almoçar. Ai, se ela soubesse!...
Texto gentilmente cedido pela nossa comadre Natércia Duarte,
Quando os primeiros raios de sol se espreguiçavam nos montes ...que rodeavam a aldeia despertando gentes e bichos, ainda as brasas do dia anterior não tinham arrefecido na lareira. Para lhes dar nova vida, a avó juntava-lhes uns paus que ia buscar ao manturo.
Manturo era o nome que toda a gente dava às pilhas de lenha de azinho, de esteva e de aloendro que cada família erguia no quintal ou perto de casa. Os manturos, para minha felicidade, eram também a maternidade das gatas da aldeia que aí pariam e escondiam as crias até elas terem ânsia de espaço e saírem, cambaleantes, para o lugar onde o céu não cheirava a esteva…
Quando eu me levantava, o fogo já crepitava e pintava de negro a panela de barro. Lá dentro, a carne de salgadeira e os enchidos que antes tinham baloiçado na chaminé, misturavam-se harmoniosamente com os grãos ou os feijões e faziam nascer uma fonte na minha boca.
- O que é hoje o almoço, avó? - perguntava eu, comendo o pão da primeira refeição da manhã e bebendo o café acabado de fazer na cafeteira, recipiente que na aldeia se chamava chocolateira apesar de, quase de certeza, a grande maioria nunca ter conhecido o sabor do chocolate.
Grão ou feijão eram as palavras que tanto gostava de ouvir da boca da avó mas às vezes, e eu já sabia pelo cheiro, isso não acontecia. Era nesses dias que percorria as ruas da aldeia não só para os encontros de brincadeiras mas também para perguntar o que tinham para o almoço as tias, as primas, as comadres e aquelas que não sendo nem uma coisa nem outra poderiam ter, do meu ponto de vista, o almoço ideal. Normalmente tinha sorte, havia sempre um grão com massa, um feijão com arroz, um grão com abóbora, um feijão com batata-doce... Escolhida a ementa, a conversa com a cozinheira desenrolava-se em redor do cheirinho que vinha da panela e dos meus gostos culinários e normalmente terminava com um convite para o almoço.
Claro que sim, respondia eu, só preciso avisar a avó…
Corria a dar a notícia e ela achava graça e brincava com o facto de eu ter a sorte de ser tantas vezes “convidada” para almoçar. Ai, se ela soubesse!...
Texto gentilmente cedido pela nossa comadre Natércia Duarte,
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