terça-feira, 3 de outubro de 2023

Rostos - Fora da Caixa







 O Fora da Caixa é um café reaberto numa velha mercearia no centro de Vila Nova da Baronia pela mão de Hugo Calca.

Hugo tem apenas 44 anos, mas já fez muita coisa na vida. Foi padeiro, dono de bares, empresário em restaurantes. Agora é o único funcionário do Fora da Caixa, um café que também tem pastelaria e refeições ligeiras, que aluga bicicletas elétricas e quer alugar caiaques, que oferece bom ambiente e boa disposição.
“Estou muito feliz com este espaço. Foi a minha bisavó que abriu isto em 1915 e tinha aqui a melhor loja de Vila Nova da Baronia. Vendia mercearia, loiças, tecidos, tabaco, calçado. Em 1960 passou a café; estava para ser uma taberna mas, como a escola primária ficava aqui em frente, o Estado Novo não deixou. Ficou aqui o café do Sr. Domingos. E assim era conhecido, até eu o reabrir, tentando recriar o interior daquela primeira mercearia: tudo o que vemos dentro desta mercearia é de 1929. E isso orgulha-me muito”, conta.
Hugo Calca nunca quis, ou pensou, sair de Vila Nova da Baronia. E agora, que está casado com uma cabo-verdiana há quase 18 anos, diz que é ela quem não quer sair dali.
“A única coisa que ela me diz é ‘não saio daqui para lado nenhum, porque aqui tenho tudo o que necessito’. Temos uma filha com 12 anos, e agora a bebé. Elas têm autocarro quase à borla para as piscinas (o que se paga é mesmo simbólico). Tens refeições à borla na escola, tens centro de saúde – que é muito importante -, tens biblioteca, correios, lojas, não tens trânsito. Por mais stress que apanhes num café a trabalhar, a encheres a cabeça, chegas a casa abres a janela do teu pátio ou do teu quintal, ouves os passarinhos e desanuvias de tudo. Ficas bem. Ficas melhor contigo. E isto é maravilhoso”, argumenta.
O espaço abriu em finais de 2022 – “na mesma altura em que nasceu a minha segunda filha”, avisa Hugo, como que a assinalar o marco, duplamente inesquecível, mas também a justificar as prioridades que, na sua cabeça, estão bem definidas. “Quero ter tempo de chegar a casa e ver a minha filha crescer”, assume.

Texto e fotos: Luísa Pinto, Rostos da Aldeia.

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