«Muitas são as localidades, vilas, cidades ou aldeias, que através dos tempos conseguem manter uma especialização industrial ou artística, que é como que o fácies característico e inconfundível que as torna conhecidas. Alcáçovas também possui a sua indústria própria, especial, única, os chocalhos, através dos quais o seu nome se tem tornado conhecido...»
A produção de chocalhos e de esquilas constitui a principal indústria da povoação de Alcáçovas que os fabrica desde o século XVIII, e cujo segredo se mantém na posse de algumas famílias que o vêm transmitindo de geração em geração, levando-o consigo quando emigram. Deste modo, é possível encontrar aqueles objectos de artesanato em Serpa, Estremoz e Portalegre.
Hoje, o fabrico destes objectos continua a processar-se exactamente do mesmo modo, e as oficinas mantém o mesmo aspecto de há 200 anos. Mas, o seu número tem vindo a diminuir drasticamente. Ainda há 40 anos havia dezasseis oficinas, das quais actualmente apenas três funcionam.
Os chocalhos e as esquilas eram usados para pendurar ao pescoço de alguns animais (os guias), à volta dos quais se juntavam os outros enquanto pastavam. Também serviam para indicar o paradeiro das reses mais gulosas quando estas se afastavam da manada para os campos semeados. Actualmente, o sistema de limitar as zonas destinadas à pastagem com cercas aramadas está a fazer cair em desuso a utilização dos chocalhos
Os ganadeiros tinham orgulho em apresentar os seus animais munidos de chocalhos ornados com as iniciais da casa agrícola a que pertenciam e pendurados ao pescoço por coleiras de couro cravejadas e trabalhadas. Essas coleiras eram presas segundo dois sistemas: com fivelas de metal ou peças de madeira (cáguedas), também primorosamente decoradas.
Os chocalhos têm nomes diversos conforme os tamanhos, que podem ir desde os 2 aos 50 cm de altura. Os de formato grande destinam-se ao gado vacum e cavalar e a alguns bodes guias. Os médios aplicam-se no gado lanígero e os pequenos em animais domésticos. Hoje, são vendidos principalmente para fins decorativos e os compradores e coleccionadores, sobretudo estrangeiros, preferem adquirir os chocalhos já usados.
(Adaptado de Mário do Rosário - A vila de Alcáçovas – 1924)
Fotos tiradas na Oficinas de Mestre Rodrigo Sim Sim, em Alcáçovas.
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