Anos 60. Caiando a casa. - Foto Amadeu Ferrari. |
A imagem do Alentejo esteve desde sempre associada á brancura das suas casas. Esta tradição foi-nos legada pelos povos do norte de África, perdurou no tempo e ainda hoje se mantém. Além de embelezar reflecte o Sol ajudando ao arrefecimento do interior das casas.
Usada desde tempos remotos, a cal era um dos materiais de base para a construção, em toda a zona mediterrânica. E era também usada pela maioria das pessoas, no dia a dia das suas casas, como “detergente universal”. Hoje é considerada pelos especialistas da construção sustentável como um material fundamental e de futuro: por ser ecológico, económico e a sua produção não utilizar tanta energia como o cimento e outros materiais
A cal é também um material fundamental para a conservação das casas tradicionais, sejam elas de taipa, adobe ou alvenaria e rebocadas com argamassas de cal.
Nas palavras do antropólogo Pedro Prista, numa apresentação que efectuou num seminário sobre Cal e Pigmentos, “não é apenas a cal como material, mas a caiação, o acto de caiar, que tem que ser considerada um património a preservar”.
Segundo o antropólogo “o grande interesse não está propriamente na substância mas na prática de caiação que vem, novamente, ganhando uma importância cada vez maior no interior e no exterior da casa à medida que descemos da zona interior da Beira Baixa para o sul, até ao Algarve”.
Uma importância familiar, certamente. Mas também coletiva: “O momento principal começava quando as mulheres, às vezes no mesmo dia e de forma coletiva, raspavam as paredes exteriores e faziam a caiação geral das ruas e até o intervalo entre as pedrinhas e entre os seixos à frente da cada uma das casas”.
No interior alentejano chegavam a fazer-se três e quatro caiações por ano, embora não em dias aleatórios. Em momentos de festa, como um casamento, a casa era sempre caiada. E as paredes exteriores nunca ficaram esquecidas. “Nenhum edifício podia desalinhar dos outros. A caiação coletiva tem a ver com o assumir da rua”.
“Já os antigos diziam que quem vê uma casa por fora espreita o que está por dento”,
"Cal bran…ca! Cal bran…ca!" Era assim que o caleiro ou o homem que vendia cal, se anunciava porta a porta. Numa carroça puxada por um burro, cheia de torrões de cal e uma balança, pelas ruas do Alentejo, esperava pacientemente que as mulheres chegassem. Um quadro de outros tempos que está apenas na memória dos mais velhos.
Ruas sempre branquinhas, diz o povo que é da caiação (é o asseio)...
É no verão que se faz a (caiação). Gente da mesma rua tem/tinha o capricho de manter sempre a beleza dos espaços que partilham/partilhavam, tornando-se este um local de convívio em noites de calma, de verão quente, sentam-se em cadeiras de bunho, é o serão. "Reunião familiar (compadres e comadres) durante as primeiras horas da noite".
Texto ( Adaptado ):
Ana Maria Saraiva, https://www.facebook.com/groups/imagensdoalentejo/
Foto: Henrique Carvalho |
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