terça-feira, 28 de agosto de 2018

A memória dos Montes Alentejanos








Na vasta e bela região do Alentejo podemos encontrar de tudo um pouco. 
Desde planícies a perder de vista com cearas ondulando ao vento, passando por praias selvagens junto ao litoral, serras e os típicos montes alentejanos no interior.
Os Montes Alentejanos, espaços únicos, enquadrados no espaço rural e erguidos no meio da natureza, são por excelência um sítio para trabalhar ou descansar, são parte da cultura deste povo.
São casas caiadas com barras azuis ou amarelas, muitas vezes pequenas aldeias até, em plena planície, no meio da natureza, onde se podiam ver, até há pouco tempo, searas a perder de vista.
São parte do património material do Alentejo e alguns destes montes, ainda são habitados permanente ou temporariamente, o que não nos impede de pensarmos quantas famílias aí viveram? 

E em que condições? 
Como era a vida das crianças que aí viviam? Podiam brincar em redor dos mesmos despreocupadamente?
É obrigatório, como homenagem ao povo alentejano, relembrar a quem nos visita que, nesta terra agora tão procurada pelo seu pitoresco, quiçá, pelo seu exotismo, os camponeses foram mártires do trabalho árduo, e de algum modo ainda o são, nunca foram proprietários de coisa alguma, nem donos da sua própria vida e que os montes não eram de facto locais de lazer. 

Até de alguns lavradores se pode dizer também que a sua vida era a terra esboroada, de parca condição produtiva, de comezinho desabrochar; de outros e da sua riqueza poder-se-á dignificar a justiça do seu trato. Porém, todo esse ambiente era propício à introspecção, à intimidade com a natureza, à observação atenta –“matutada”- da contingência da vida.
Como nos disse e observou muito bem Carlos Curvacheiro ao ver uma fotografia de um antigo monte: “Tudo nesta imagem me faz lembrar o monte onde cresci desde os dois aos quinze anos. A linha dos choupos acompanhando a ribeira, as azinheiras dispersas, o rebanho das ovelhas e o descampado junto ao monte.
Quem nunca viveu no monte não faz ideia do que é essa vivência. Sem luz eléctrica, sem água canalizada, sem estrada asfaltada, com a escola a três quilómetros. Recordo especialmente as noites de verão. Aquelas noites serenas, abafadiças, silenciosas, próprias do Alentejo. Recordo os serões sentados no terreiro do monte (à fresca, como se dizia) ouvindo os sons que nos chegavam abafados lá do fundo da noite, recordando-nos que que havia vida para além da escuridão. O piar agoirento da coruja dos matos ou do noitibó, o ladrar distante dos cães do monte vizinho ou os de guarda dos nossos próprios rebanhos, a sinfonia dos chocalhos do gado que aproveitava o fresco da noite para pastar, acarrando depois nas horas de mais calor. Aquela ligeiríssima brisa de Leste vinda de Espanha que esfarela os ossos, como dizia José Régio na sua Toada de Portalegre.
E tudo isto acompanhado de uma imensa miséria. Uma legião de miúdos com fome, de pais em desespero e mães em lágrimas. Tenho saudades do monte mas não desse tempo.”
(fontes: Leonel Borrela in Diário do Alentejo de 5 de Outubro de 2007 Carlos Curvacheiro in comentário no facebook e www.facebook.com/ecocasaportuguesa
FACE AO EXPOSTO :
Porque os camponeses foram mártires do trabalho árduo, e de algum modo ainda o são, nunca foram proprietários de coisa alguma, nem donos da sua própria vida e que OS MONTES não eram de facto locais de lazer; 

Quem nunca viveu no monte não faz ideia do que é essa vivência . 
Até de alguns lavradores se pode dizer também que a sua vida era a terra esboroada, de parca condição produtiva, de comezinho desabrochar; de outros e da sua riqueza poder-se-á dignificar a justiça do seu trato. 
Porém, todo esse ambiente era propício à introspecção, à intimidade com a natureza, à observação atenta –“matutada”- da contingência da vida.





Fotos retiradas da internet, autores desconhecidos.
Texto adaptado por Ana Maria Saraiva,
 https://www.facebook.com/groups/imagensdoalentejo/

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