terça-feira, 1 de setembro de 2020

Chaminés de Garvão



As chaminés alentejanas
E os minaretes muçulmanos.
          Não diferem muito, as chaminés de Garvão, das que se observam no Sul do país, ou mais precisamente das chaminés algarvias, onde, estas intrincadas obras de arte sobressaem das, por vezes, monótonas paredes de taipa caiadas de branco.
         Reminiscências mouriscas dos minaretes muçulmanos? Ou talvez não, o certo é que se se encontra alguma polaridade disfarçada na riqueza arquitetónica destes monólitos, como que a esquecer uma outra cultura, proibida, perseguida, desfigurada.
          Dos outros.
          Quando, afinal, os outros somos nós.
        Há algo de ancestral nesta forma singular de construir chaminés, mais parecem pequenas torres brancas, como uma erupção violenta em direção ao infinito, num mar de telhas vermelhas da cor do sangue, como recordações saudosistas dos minaretes árabes, de um passado não muito longínquo.
     Sejam em redondo, quadradas ou retangulares, as chaminés do Sul refletem toda uma influência de cinco séculos de ocupação muçulmana, seja no subconsciente, seja na tradição, ou seja, na cultura intrínseca a todos os povos, “a saudade do minarete a palpitar timidamente, no rebuço cristão da chaminé”, como alguém já escreveu.
       A chaminé das casas alentejanas são um dos elementos, que melhor refletem o apelo à tradição, para além da sua utilidade, tinha grande valor estilístico e ornamental, sempre presentes na arquitetura tradicional do Sul, herdeiras de uma cultura árabe, onde se nota os rendilhados e arabescos, de pequena ou grande escala, conforme as posses dos moradores e símbolo de um estrato social.
        Em Garvão, talvez devido à sua proximidade com o Algarve e à devida influência mourisca, ainda são visíveis alguns notáveis exemplos desta arte, uns a precisarem de reparos, outros primorosamente caídos de branco, outros infelizmente tombados, mas que as fotos antigas nos dão a conhecer.


 Fotos e texto copiados do blogue: https://garvao.blogs.sapo.pt/
Texto da autoria do nosso compadre José Pereira Malveiro

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